Pesquisa mostra que pinhão pode beneficiar a flora intestinal

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As substâncias presentes no pinhão têm capacidade de estimular probióticos, ou seja, microrganismos benéficos para um ecossistema intestinal saudável. | Foto: Zig Koch

Um estudo inovador realizado pela Embrapa Florestas, juntamente com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), identificou a presença de dois grupos de prebióticos no pinhão: o amido resistente e os frutooligossacarídeos (FOS). Essas substâncias são conhecidas por sua capacidade de estimular a proliferação de probióticos, os microrganismos benéficos que promovem a saúde intestinal.

A pesquisadora Catie Godoy, da Embrapa e coordenadora do projeto PINALIM, que deu origem a essa investigação, explicou que, embora a presença de compostos fenólicos, amido resistente e minerais como fósforo, potássio e magnésio já fossem conhecidos, a descoberta de FOS na semente da Araucária representa um avanço significativo. Segundo ela, esses compostos até agora eram detectados em outras fontes vegetais, como yacon, alcachofras, aspargos e chicória. Esta nova informação pode aumentar o interesse pelo consumo de pinhão como parte de uma dieta equilibrada e saudável.

Pinhao e suas propriedades
A presença de frutooligossacarídeos (FOS) na semente de Araucária é um novo e importante achado. | Foto: Luiz Costa

A pesquisa foi divulgada na revista Food and Nutrition Sciences. Godoy acrescenta que os resultados são promissores e abrem portas para novas pesquisas sobre a semente da Araucária, que é uma espécie em risco de extinção.

Entendendo prebióticos e probióticos

Os probióticos consistem em bactérias e leveduras que exercem um papel positivo na saúde, vivendo naturalmente no intestino. Eles ajudam a digerir os alimentos e protegem o organismo contra diversas doenças. Podem ser encontrados em alimentos fermentados, como iogurte, kefir, chucrute e kombucha.

Por outro lado, os prebióticos são carboidratos ricos em fibras não digeríveis, que funcionam como alimento para as bactérias e leveduras intestinais. Exemplos de alimentos que são considerados prebióticos incluem vegetais, grãos integrais e frutas. Em suma, os prebióticos são os nutrientes para os probióticos, promovendo a saúde intestinal de forma sinérgica.

O papel do amido resistente e FOS

Três variedades de pinhão foram analisadas: Sancti josephi, Angustifolia e Caiova, colhidas em diferentes épocas do ano para capturar diversos estágios de maturação. O estudo empregou uma variedade de métodos experimentais para analisar compostições químicas dos oligossacarídeos e do amido resistente. Também foram avaliados o crescimento bacteriano para verificar o efeito prebiótico do amido e foram coletados dados para distinguir as diferenças entre as variedades de pinhão quanto ao conteúdo de oligossacarídeos e crescimento bacteriano.

As pesquisas contaram com a colaboração da professora Célia Lúcia de Luces Fortes Ferreira, especialista em probióticos do Brasil. Ela destacou que tanto o amido resistente quanto o FOS são metabolizados pelos probióticos, facilitando a presença dessas bactérias benéficas no intestino. Ao se proliferar na presença desses compostos, as bactérias, como as do gênero Bifidobacterium, produzem ácido butírico e outras substâncias vitais para a manutenção do epitélio intestinal. Um ambiente intestinal saudável está associado a uma diminuição do risco de várias doenças, tanto locais quanto sistêmicas.

Ambiente em laboratório
Laboratórios da Embrapa Florestas em Curitiba. | Foto: Rodolfo Buhrer

O estudo também comparou o efeito do amido de pinhão no crescimento de bactérias benéficas com a dextrose, um carboidrato simples. Os resultados mostraram que, para algumas bactérias, o amido de pinhão promoveu um crescimento superior ao controle, evidenciando seu potencial probiótico, especialmente para as bactérias L. plantarum e B. breve. Segundo Ferreira, isso se deve ao amido resistente no pinhão, que não é digerido no intestino delgado, sendo fermentado no intestino grosso e resultando na produção de ácidos graxos de cadeia curta que trazem benefícios à saúde.

Embora o impacto do amido resistente no metabolismo bacteriano ainda não esteja totalmente esclarecido, Haíssa Cardarelli, professora da UFPB, ressalta que mais pesquisas são necessárias para aprofundar essa área. Ela e sua orientanda Fernanda Pereira Santos darão continuidade aos estudos, com expectativas promissoras em relação à farinha de pinhão como um meio de crescimento para probióticos, produto que está em desenvolvimento industrial.

Possibilidades de conservação da Araucária

Natália Marques, coordenadora do programa de pós-graduação em Nutrição Clínica e Funcional, destaca a relevância do estudo na identificação de prebióticos no pinhão. As contribuições para a saúde humana incluem a prevenção de diversas doenças crônicas. A promoção do consumo de pinhão pode não apenas beneficia a saúde, mas também impulsionar a conservação das florestas de Araucária e fomentar campanhas que incentivem seu uso, além do desenvolvimento de novos produtos alimentares a base dessa semente.

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Foto: Pixabay

A descoberta da presença de FOS e seu efeito prebiótico nas sementes de Araucaria angustifolia abre novas oportunidades tanto na pesquisa acadêmica quanto na aplicação prática. Essa descoberta pode resultar no desenvolvimento de produtos alimentares inovadores focados na saúde digestiva, como snacks, cereais matinais, suplementos e alimentos funcionais, ampliando o mercado para este alimento tradicional.

Entendendo os FOS

Os frutooligossacarídeos (FOS) são açúcares não convencionais, que não são metabolizados pelo organismo humano e são considerados prebióticos, não calóricos. Alimentos que contêm FOS são essenciais para manter o ecossistema intestinal, favorecendo o crescimento e a adesão de bactérias benéficas, como algumas da família Lactobacillaceae e do gênero Bifidobacteria no trato gastrointestinal. Eles também ajudam a inibir bactérias que podem causar problemas de saúde, como o Clostridium perfringens.

Fructooligossacarídeos (FOS)
Os fructooligossacarídeos (FOS) são açúcares não convencionais, não metabolizados pelo organismo humano e não calóricos, considerados prebióticos. | Foto: Manuela Bergamim

Os FOS ajudam a restabelecer o equilíbrio da microbiota intestinal, além de contribuir para a diminuição do colesterol, controle da glicose sanguínea, e melhoria da absorção de vitaminas e minerais. Logo, o consumo de FOS tem relevância na prevenção de osteoporose, doenças cardiovasculares e problemas digestivos. No mercado, os FOS são vendidos como suplementos e podem ter preços variados, podendo chegar a até um real por grama, com uma dosagem diária indicada entre 4g a 17g. Para se atingir a dose recomendada, um elevado consumo de pinhão seria necessário. A combinação do pinhão com outros alimentos, no entanto, é o que efetivamente proporciona uma dieta mais equilibrada e saudável para o intestino. Um intestino saudável é crucial para um sistema imunológico equilibrado e também para a saúde mental adequada.

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