O renomado cientista britânico James Lovelock, conhecido mundialmente pela criação da hipótese de Gaia, que concebe a Terra como um organismo vivo interconectado, faleceu aos 103 anos. A teoria, que inicialmente enfrentou ceticismo, ganhou aceitação ao longo do tempo e trouxe novas perspectivas sobre a vida no planeta, originando um campo interdisciplinar chamado Ciências da Terra. Segundo essa visão, a Terra opera de maneira semelhante a um organismo, necessitando de ‘check-ups’ para avaliar sua saúde e garantir a manutenção de sua longevidade.
Infelizmente, os dados indicam que o planeta está enfrentando sérias adversidades, com os limites definidos por especialistas para sua preservação sendo constantemente ultrapassados em decorrência da atividade humana. De acordo com o relatório intitulado Planetary Health Check, desenvolvido pelo Potsdam Institute for Climate Impact Research (PIK), a humanidade já fez com que a Terra superasse seis dos nove limites planetários estabelecidos, estando prestes a transgredir o sétimo.
Levke Caesar, uma das autoras principais do relatório, declarou: “Nosso diagnóstico atualizado revela que órgãos vitais do sistema terrestre estão se debilitando, resultando em uma perda de resiliência e aumentando os riscos de chegarmos a pontos de inflexão críticos”. Os limites planetários são compostos por nove áreas principais que o planeta precisa manter dentro de margens seguras: mudanças climáticas, integridade da biosfera, transformações no sistema terrestre, uso de água doce, fluxos biogeoquímicos, novas entidades, exaustão da camada de ozônio estratosférico, carga de aerossóis atmosféricos e acidificação dos oceanos.
Esta estrutura foi desenvolvida pela primeira vez em 2009 por Johan Rockström, ex-diretor do Stockholm Resilience Centre e atual líder do PIK, em colaboração com 28 cientistas globais. Na época de sua introdução, os cientistas já haviam determinado que três limites haviam sido ultrapassados, incluindo questões relacionadas à mudança climática, integridade da biosfera e fluxos biogeoquímicos.
Ademais, Lovelock foi um defensor vigoroso no combate à mudança climática, um desafio que identificou décadas antes de muitos de seus colegas. Em suas próprias palavras, “A mudança climática é uma das maiores ameaças à vida no planeta, superando quase qualquer outro desafio concebível”. Até 2023, os cientistas identificaram que a Terra havia rompido mais três limites, abrangendo modificações no sistema terrestre, uso e mudança de água doce e novas entidades, que compreendem materiais como plásticos.
Acidificação dos Oceanos
O inaugural Planetary Health Check do PIK notifica que a Terra está à beira de cruzar o limite seguro para a acidificação dos oceanos, o que representa um sério risco para a vida marinha. Caesar mencionou: “O indicador de acidificação oceânica, que refere-se ao estado atual de saturação de aragonita, permanece dentro de limites operacionais seguros, mas está se aproximando do limite crítico. No entanto, estudos recentes indicam que as condições existentes já podem ser prejudiciais para diversas espécies marinhas, exigindo uma reavaliação dos parâmetros que podem ser considerados seguros”.
Piora na saúde de Gaia
Os dados mostram que as alterações climáticas, a integridade da biosfera, os fluxos biogeoquímicos e as novas entidades estão violando zonas de alto risco, e os seis limites já atingidos apresentam deterioração em comparação com a avaliação anterior. Embora o limite de carga de aerossol atmosférico tenha mostrado leve melhora, os especialistas alertam que algumas áreas ainda estão vendo aumentos devido a causas como desmatamento e emissões industriais.
Johan Rockström, em sua análise do relatório, declarou: “O diagnóstico é alarmante; o paciente, a Terra, encontra-se em estado crítico. Seis dos nove Limites Planetários estão transgredidos. Sete processos estão mostrando uma tendência de crescente pressão, com a probabilidade de que a maioria dos parâmetros do Planetary Health Check logo encontre-se na faixa de alto risco”.
O futuro é ancestral!
Cientistas têm a intenção de publicar anualmente o relatório Planetary Health Check para monitorar o progresso nos limites planetários e auxiliar na reversão dos impactos humanos sobre a Terra. Hindou Oumarou Ibrahim, presidente dos Guardiões Planetários, alertou: “Estamos nos autodestruindo com excessos de produtos químicos, destruição da natureza e crescente poluição. Enquanto a indústria avança, os povos indígenas enfrentam a degradação de seus territórios. É essencial reverter esse declínio”.
Buscando apresentar caminhos para reverter esse cenário preocupante, a iniciativa Planetary Boundaries Science (PBScience), sob a liderança de Rockström, pretende integrar o saber das comunidades indígenas, que há séculos convivem em harmonia com a natureza e desenvolveram formas sustentáveis de se relacionar com o meio ambiente.
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