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Visualize a meia-noite como o momento do apocalipse; a cada minuto que se passa, a humanidade se torna mais vulnerável à extinção. O Doomsday Clock, conhecido também como Relógio do Juízo Final, é um dispositivo simbólico que mede a proximidade da humanidade de uma catástrofe. Entre as várias ameaças que contribuem para essa contagem, destacam-se as armas nucleares, a crise climática, os riscos biológicos e inovações tecnológicas disruptivas, como a inteligência artificial.
No último dia 28, o Relógio do Apocalipse foi ajustado para apenas 89 segundos até a meia-noite, marcando o tempo mais curto já registrado em seus 78 anos de história. Este “relógio” foi instalado em 1947 por meio do comitê da organização Boletim do Conselho de Ciência e Segurança dos Cientistas Atômicos (SASB), que foi fundado em 1945 por Albert Einstein, J. Robert Oppenheimer e outros cientistas da Universidade de Chicago, que desempenharam papéis fundamentais no Projeto Manhattan, responsável pelo desenvolvimento das primeiras armas nucleares.
Todo ano, essa medição é revista em conjunto com o Conselho de Patrocinadores do Boletim, que conta com a participação de nove laureados com o Prêmio Nobel. Desse modo, o Doomsday Clock se transformou em um indicativo amplamente reconhecido da vulnerabilidade do planeta diante de possíveis calamidades nutricionais originadas por tecnologias criadas pelo homem.
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De acordo com os criadores do relógio, a marca de “89 segundos para a meia-noite” estabelece que o planeta está em um curso de riscos sem precedentes, e que aceitar a situação atual é insensato. “Os principais Estados, incluindo os Estados Unidos, a China e a Rússia, possuem a responsabilidade primordial de conduzir o mundo para longe do abismo”, destaca o grupo responsável pela declaração.
“A intenção do Doomsday Clock é fomentar um diálogo global sobre as ameaças existenciais concretas que mantêm os principais cientistas do mundo despertos à noite. Os líderes de cada país devem iniciar discussões sobre esses riscos globais antes que o tempo se esgote. Refletir sobre essas questões essenciais e discutir soluções é o primeiro passo para retroceder o relógio e nos afastar da meia-noite”, comentou Daniel Holz, PhD, que preside o SASB e leciona na Universidade de Chicago.
Perigos que cercam a humanidade
A declaração de 2025 do Relógio do Juízo Final alerta para diversos riscos, que podemos resumir nos seguintes pontos:
Em 2024, a humanidade esteve ainda mais próxima de um desastre. Apesar das evidências alarmantes que indicam perigo, líderes globais e suas comunidades falharam em adotar as medidas necessárias para redirecionar essa trajetória. Como consequência, o Relógio foi movido de 90 para 89 segundos até a meia-noite, sinalizando a maior proximidade de uma catástrofe já alcançada.
“Este Relógio está avançando em um período de grande instabilidade global e tensões geopolíticas. À medida que o ponteiro avança em direção à meia-noite, fazemos um apelo fervoroso a todos os líderes: agora é a hora de agir em conjunto! As ameaças existenciais que enfrentamos exigem uma liderança corajosa e cooperação em escala global. Cada segundo conta”, afirma Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, que participou do anúncio desta mudança crucial.
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As perspectivas relacionadas ao poder nuclear continuam a ser alarmantes. Manpreet Sethi, PhD, integrante do SASB e consultor sênior da Asia Pacific Leadership Network, destaca que a probabilidade de uso de armas nucleares só tende a aumentar. “A Rússia resolveu suspender o cumprimento do novo tratado START e reverteu a ratificação do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares. Por sua vez, a China está expandindo rapidamente seu arsenal nuclear, enquanto os EUA abandonaram o papel de cautela. Sua postura atual aponta para uma expansão de seu arsenal nuclear, alimentando a ideia equivocada de que o uso ‘limitado’ de armas nucleares poderia ser controlado. Essa ilusão pode nos levar a um conflito nuclear”, alerta Sethi.
Além disso, 2024 foi considerado o ano mais quente já registrado. As consequências das mudanças climáticas se mostram devastadoras, e os líderes ainda não tomaram as ações necessárias para contrabalançar esses efeitos.
“Eventos climáticos extremos, como inundações, ciclones tropicais, calor extremo, secas e incêndios florestais, têm causado estragos tanto em sociedades ricas quanto pobres, afetando ecossistemas ao redor do planeta. Entretanto, as emissões globais de gases de efeito estufa, que alimentam as mudanças climáticas, continuam em ascensão. Os investimentos para adaptar-se a estas mudanças e diminuir as emissões de combustíveis fósseis estão muito aquém do necessário para evitar os piores efeitos. Eventos políticos globais têm mostrado que as mudanças climáticas têm sido uma prioridade baixa em muitos países, incluindo os Estados Unidos”, destacou Robert Socolow, professor emérito da Universidade de Princeton e membro do SASB.
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Outros aspectos relevantes incluem as ameaças biológicas, onde o uso da inteligência artificial no desenvolvimento e na pesquisa biológica, bem como em armamentos, estão no centro do debate. Sistemas que utilizam a inteligência artificial em táticas militares foram empregados em conflitos recentes na Ucrânia e no Oriente Médio. Esses avanços geram preocupações sobre o nível de autonomia que as máquinas devem ter em decisões de natureza militar, incluindo aquelas com potencial para causar mortes em larga escala.
O boletim ainda enfatiza que estas problemáticas se interligam e são exacerbadas pela expansão da desinformação e teorias conspiratórias. Os especialistas ressaltam que: “os Estados Unidos, a China e a Rússia possuem o poder coletivo de eliminar a civilização. Estes três países precisam assumir a responsabilidade primordial de retirar o mundo do caminho do desastre, iniciando diálogos sérios sobre as ameaças globais mencionadas. Apesar de suas divergências, um primeiro passo deve ser dado sem demora. O mundo depende de ações imediatas”, conclui o boletim.