Mundano revela grande mural sobre empresa do agronegócio

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Mural Gigante em São Paulo Chama Atenção para a Luta Ambiental

Mural Mundano
O mural, com mais de 30 metros de altura e 48 metros de largura, se destaca como um dos maiores da cidade de São Paulo e da América do Sul.

Descendo pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio, sentido ao centro, agora é impossível não se deparar com uma pintura monumental localizada no estacionamento do Pão de Açúcar. Esta obra é dedicada à ativista indígena Alessandra Munduruku, que aparece segurando um cartaz com a mensagem: “Parem a destruição, mantenham sua promessa”. As palavras, escritas em inglês, são um apelo à bilionária família Cargill-MacMillan, que está fortemente associada à Cargill, uma das principais empresas exportadoras de soja e milho.

A inauguração do mural ocorreu na última quarta-feira (23), onde o artista responsável, conhecido como Mundano, juntamente com outros colaboradores, ressaltou que a Cargill obtém produtos de áreas desmatadas e está a favor do projeto da Ferrogrão—uma ferrovia que se estende por quase 1.000km atravessando a Amazônia. Este projeto visa interligar os municípios de Sinop (Mato Grosso) e Miritituba (Pará), promovendo um aumento na produção e na exportação de grãos.

Mural Mundano mostrando Alessandra Munduruku
Foto: Ricardo Yamamoto

Múltiplas organizações ambientais e grupos de direitos humanos têm alertado que a Ferrogrão poderá intensificar as violações que já ocorrem, ameaçando unidades de conservação, terras indígenas e comunidades locais.

A obra mural foi realizada em colaboração com a campanha Burning Legacy da Stand.earth, que também participou da cerimônia de inauguração e destacou que a razão de dirigir a mensagem à família se dá pela crença de que as pessoas têm mais poder de mudar do que as empresas em si.

Imagem do mural de Mundano
Foto: Ricardo Yamamoto

Mathew Jacobson, diretor da campanha Burning Legacy, comentou: “A família Cargill-MacMillan afirma não ter responsabilidade sobre as ações da Cargill, uma vez que não estão envolvidas na gestão da empresa. Isso é similar a dizer que eu não sou responsável se meu cachorro te morder porque não estou pagando pelo treinamento dele. Como proprietários da Cargill, eles têm responsabilidades sobre suas ações”.

A Cargill-MacMillan ocupa a 14ª posição entre as famílias mais ricas dos Estados Unidos, com um patrimônio líquido aproximado de US$ 60 bilhões, fazendo dela a família com mais bilionários em todo o mundo. O pedido de mudança para a gigante do agronegócio também surge em uma tentativa de encorajar a empresa a se tornar um exemplo positivo para outras do mesmo segmento.

Jacobson finalizou enfatizando que “apenas eles podem decidir se o legado da família será um de proteção ao meio ambiente ou de sua destruição”.

O conceito de “artivismo” é utilizado como uma ferramenta para conscientizar sobre a crise climática, considerada o maior desafio atual da humanidade. Mundano ressaltou: “No Brasil e no mundo, enfrentamos ondas de calor, secas severas e inundações, todas consequências do desequilíbrio ambiental promovido por grandes corporações como a Cargill. Meu país está sendo consumido pela fumaça da ganância. Cargill-MacMillan, vocês querem ser lembrados por acelerar a extinção da humanidade ou por entender a urgência da situação e serem protagonistas de uma mudança global?”

O projeto já ganhou destaque internacional, aparecendo até no New York Times. A Stand.earth planeja levar a mensagem diretamente à porta da família Cargill-MacMillan nos Estados Unidos, usando cartazes feitos por Mundano em colaboração com líderes indígenas e suas comunidades. Cada cartaz trará o nome de um membro da família e a frase: “Cumpra sua promessa – pare a destruição”, utilizando as cinzas coletadas das florestas utilizadas no mural.

Cartazes criados com o povo Munduruku
Cartazes criados com o povo Munduruku. | Fotos: Luan Rentes

O que é a promessa?

A mensagem contida no mural alude à promessa da família de eliminar produtos oriundos de desmatamento de sua cadeia de fornecimento até 2025. Contudo, as sucessivas promessas até agora não foram cumpridas, levando a Cargill a ser excluída de fornecedores da empresa norueguesa Grieg Seafood e do fundo escandinavo Danske Bank, em ambos os casos devido a sua associação com o desmatamento ilegal.

Alessandra Munduruku retratada no mural
Foto: Luan Rentes

A campanha também expõe que a Cargill é ativa no lobby contra compromissos mais rigorosos. Durante a COP 26, em 2021, a Cargill, junto a outras nove empresas agrícolas, comprometeu-se a terminar a perda florestal relacionada à produção agrícola. No entanto, este acordo foi amplamente criticado por ser muito vago e a Cargill foi acusada de ter influenciado essa falta de ambição. Mesmo assim, a empresa continuou comprando soja de áreas que foram desmatadas.

Reconhecida como a maior empresa privada dos EUA, a Cargill reportou uma receita de US$ 160 bilhões no ano fiscal de 2024. Jacobson, da Stand.earth, reforça que a empresa está mais do que capacitada para tomar as medidas necessárias para preservar as florestas e utilizar as áreas já disponíveis para produção.

Mural Monumental

Com mais de 30 metros de altura e 48 metros de largura, o mural cobre uma área de 1,581,60m², tornando-se um dos maiores não apenas em São Paulo, mas em toda a América do Sul. Alessandra Munduruku, mesmo com seus 1,39m de altura, foi representada proporcionalmente à sua força na defesa dos povos indígenas, tendo recebido o Nobel Verde em 2023. “O desafio é gigantesco, a Alessandra é gigante, e a mensagem que passamos precisa ser gigantesca”, declarou Mundano sobre sua obra.

Mural Mundano mostrando Alessandra Munduruku
O mural é o maior já realizado por Mundano, que contou com o auxílio de outros cinco artistas.

O mural é instalado em uma empena horizontal, ao contrário da maioria das pinturas que se concentram em superfícies verticais, o que, segundo o artista, traz um desafio adicional. Sua localização próxima à Avenida Paulista, um dos centros econômicos mais significativos do país, adiciona um simbolismo maior à obra.

Mesmo para aqueles que não compreendem o texto, escrito em português, é difícil passar indiferente à mensagem transmitida. “Vejo essa pintura como um grito contra a destruição que empresas como a Cargill perpetuam globalmente. Se não pararmos essas práticas, o futuro terá como única visão o que vejo na pintura: árvores queimadas e rios secos. Espero que todos os que passarem por aqui se vejam como parte da natureza e se indignem contra sua destruição”, declarou Alessandra Munduruku.

Mural Mundano
Foto: Luan Rentes

Mundano espera que a pintura sensibilize as pessoas sobre a conexão entre os diferentes problemas ambientais que nos cercam. “A proposta é que todos que passarem aqui reflitam. O solo rachado, a seca e as queimadas, tudo isso está interligado. Cada ação que tomamos impacta o planeta. Desejo que a obra provoque um senso de urgência na população para que possamos realmente encerrar com as práticas destrutivas, pois senão não teremos mais água. Não teremos nada”, concluiu Mundano ao CicloVivo.

Mural Mundano com detalhes da obra
Foto: Luan Rentes

O apelo ambiental também se destaca na escolha dos materiais usados para a produção do mural. A pintura foi criada com cinzas coletadas de florestas da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal, recolhidas durante expedições ao longo de anos. Inclui também lama resultante de inundações em cidades do Rio Grande do Sul, urucum, terra descartada em caçambas de São Paulo e argila coletada da terra indígena Sawré Muybu. Essa técnica de produzir tintas com materiais resultantes de tragédias começou em 2020, quando Mundano usou lama tóxica gerada pela tragédia de Brumadinho.

Soja e Desmatamento

Em uma escala global, um restrito número de empresas — como ADM, Bunge, Cargill, COFCO e Louis Dreyfuss Company — controla entre 70% e 90% do comércio global de commodities agrícolas como milho e soja. O Brasil se destaca como o maior produtor mundial de soja, com uma produção de 153 milhões de toneladas na safra 2023/2024, o que representa 39% do mercado global. Paralelamente, quase todos os casos de desmatamento no ano passado (97%) foram associados à expansão agropecuária, segundo o Relatório Anual de Desmatamento do MapBiomas.

Fonte: Guia Região dos Lagos

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