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Desafios para Prefeitos e Vereadores no Combate à Crise Climática
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Com a posse nos cargos nesta janeiro, os prefeitos e vereadores em todo o Brasil enfrentam importantes desafios relacionados à crise climática que assola o planeta. A crescente ocorrência de eventos climáticos extremos demanda que esses líderes públicos desenvolvam e implementem estratégias sustentáveis, a fim de salvaguardar a saúde e o bem-estar das comunidades. Especialistas ressaltam a importância de que as administrações municipais adotem uma agenda ambiental robusta, capaz de diminuir os impactos negativos, principalmente nas áreas urbanas, onde reside cerca de 85% da população.
O manejo sustentável das áreas verdes, a preservação de parques e zonas naturais, o gerenciamento adequado dos resíduos e a redução das emissões de gases de efeito estufa, além da segurança hídrica e a drenagem nas cidades, figuram como responsabilidades cruciais para as prefeituras.
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“Embora a discussão ambiental tenha uma dimensão global, é crucial reconhecer que as manifestações dos problemas ocorrem localmente. A gestão dessas questões recai sobre as prefeituras. Assim, o papel do prefeito ou prefeita, bem como dos vereadores, é fundamental tanto na prevenção de problemas urbanos ligados ao meio ambiente quanto na preparação para atenuar os impactos estruturais que podem se agravar devido às mudanças climáticas”, diz Carlos Eduardo Young, professor titular e coordenador do Grupo de Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (GEMA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, além de membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).

O ano de 2024 registrou um aumento sem precedentes na temperatura média global, atingindo a marca de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, conforme apontado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM). Essa informação deve ser interpretada como um aviso sobre a necessidade de priorizar ações em defesa do meio ambiente nos governos municipais. “A mudança climática não é um conceito distante; é uma realidade que já impacta nossas vidas. Os desastres verificados em 2024, e que já se refletem neste início de 2025, são apenas o começo do que pode ocorrer se não agirmos rapidamente”, observa Young.
Os especialistas alertam que os riscos associados a inundações, deslizamentos de terra, alagamentos, ilhas de calor, incêndios devastadores e insegurança alimentar podem ser reduzidos através de chamadas Soluções Baseadas na Natureza (SBN). Essas atuações se aproveitam de processos e ecossistemas naturais para lidar com esses desafios. Tais abordagens devem ser incorporadas ao planejamento urbano, promovendo uma combinação de infraestrutura verde em conjunto com as práticas de infraestrutura tradicional. Além disso, é importante que o poder público estabeleça parcerias com organizações da sociedade civil para delinear estratégias e implementar iniciativas.
10 Iniciativas de Soluções Baseadas na Natureza
Restauração em Áreas de Mananciais: Manter a segurança hídrica é essencial para a sustentabilidade das comunidades. A recuperação de regiões degradadas em mananciais tem um papel importante no controle do assoreamento de nascentes, córregos e rios, assegurando água mais limpa e em maior volume. Uma pesquisa do movimento Viva Água revelou que em períodos de seca, a pouca vegetação nativa em bacia urbanizada pode reduzir a vazão dos rios em até 52%, enquanto áreas com maior cobertura de floresta nativa apresentam queda significativamente menor, variando entre 6% e 11%.
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Criação de Corredores Ecológicos: Esta iniciativa visa conectar fragmentos de vegetação para facilitar o deslocamento de fauna, a dispersão de sementes e aumentar a cobertura vegetal, além de ajudar na prevenção da erosão nas margens e reduzir a sedimentação em corpos d’água. Um exemplo é a região metropolitana de Campinas (SP), onde cidades colaboraram em estratégias para proteger e restaurar a fauna e flora por meio destes corredores.
Parques Lineares: Esses espaços têm a capacidade de combater a erosão, controlar o assoreamento de rios urbanos e oferecer via de deslocamento que prioriza o transporte de baixo carbono para ciclistas e pedestres, além de áreas de lazer. O famoso High Line Park em Nova Iorque, construído sobre uma antiga linha de trem abandonada, é um exemplo destacado.
Parques e Praças Multifuncionais: Tais espaços proporcionam múltiplos benefícios, como controle de enchentes, conservação da biodiversidade e melhorias na qualidade ambiental, impactando positivamente a saúde das populações locais.
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“Os espaços verdes têm a capacidade de absorver poluentes e reter água no solo, ao mesmo tempo que promovem um ambiente de relaxamento para os moradores, tanto em áreas pequenas quanto em grandes centros urbanos. Muitas cidades apresentam áreas verdes abandonadas. É essencial que a população cobre de seus representantes o investimento de recursos e a promoção de ações comunitárias para revitalizar esses locais”, defende Rachel Biderman, membro da RECN e vice-presidente sênior da Conservação Internacional.
Revitalização de Rios e Córregos: Para uma gestão eficiente, essa ação deve considerar uma abordagem sistêmica, levando em conta todos os processos da bacia hidrográfica e as margens do corpo d’água. Essa estratégia pode reduzir os efeitos das chuvas intensas, melhorar a qualidade da água e atenuar a poluição proveniente do escoamento em áreas urbanas.
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Proteção Costeira: Esta prática abrange a preservação ou restauração de ambientes costeiro-marinhos, incluindo restingas, manguezais e recifes de corais. Tais ecossistemas atuam como barreiras naturais contra os efeitos adversos das mudanças climáticas, como a erosão costeira e o aumento do nível do mar. Em Porto de Galinhas (PE), um projeto chamado Biofábrica de Corais está trabalhando na transplantação de corais, monitoramento, recuperação de colônias danificadas e educação sobre a preservação desses ambientes.
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Biovaletas: Estas estruturas são inclinações lineares que utilizam substrato, vegetação e outros componentes filtrantes. Elas recebem águas de chuvas ou escoamento superficial, filtrando-as e redirecionando-as para sistemas de drenagem verde ou convencionais. Este método é eficaz em grandes áreas pavimentadas, laterais de avenidas e estacionamentos, ajudando a minimizar os riscos de alagamentos.
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“Essas práticas aumentam a absorção e a infiltração da água, evitando assim o entupimento dos sistemas de drenagem. Cidades com muitos parques e áreas que captam água estão melhores preparadas para enfrentar chuvas intensas provocadas pelas mudanças climáticas”, salienta Rachel.
Telhados Verdes: Consistindo em coberturas vegetativas, preferencialmente com flora nativa, esses telhados também podem abrigar áreas de cultivo. Eles minimizam áreas impermeáveis nas cidades e, assim, reduzem a quantidade e a velocidade do escoamento superficial durante as chuvas.
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Esses telhados também contribuem para a diminuição das ilhas de calor urbano e regulam a temperatura interna das edificações, oferecendo isolamento térmico. No Rio de Janeiro, telhados verdes foram instalados em comunidades em torno do Parque Arará, substituindo telhas de amianto.
Parques de Bolso e Vagas Verdes: Esses espaços públicos são projetados como áreas de convivência ao ar livre, oferecendo elementos como bancos e áreas sombreadas por árvores. Vagas verdes, conhecidas como vagas vivas, transformam um ou mais espaços de estacionamento em áreas de interação comunitária. Um exemplo pode ser encontrado no Parque da Juventude, em São Paulo, que abriga um bolsão de árvores da Mata Atlântica, resultado de um plantio realizado por voluntários.
Jardins de Chuva: Esses jardins são soluções de paisagismo que gerenciam o escoamento das águas pluviais, amenizando os problemas causados pela impermeabilização do solo urbano. Projetados para receber, filtrar e infiltrar a água da chuva proveniente de telhados e outras superfícies impermeáveis, mais de 300 jardins de chuva foram implementados em São Paulo, sendo onze deles na Rua Major Natanael, no Pacaembu.
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