Frutíferas podem ajudar a enfrentar a fome em Brasília

Considerada um grande pomar a céu aberto, Brasília, a capital brasileira, abriga uma rica diversidade de árvores frutíferas, totalizando cerca de 950 mil exemplares de 35 espécies. Em meio a essa abundância, Camila Faeda, estudante de Nutrição no Centro Universitário de Brasília (CEUB), decidiu pesquisar como essas árvores podem ajudar no enfrentamento da insegurança alimentar entre a população em situação de vulnerabilidade. Os resultados foram bastante promissores.

Segundo a estudante, com a adoção de práticas simples, como o aproveitamento integral de frutas, o Distrito Federal poderia não apenas enfrentar a insegurança alimentar, mas ainda se tornar um modelo em nutrição sustentável.

Nas superquadras da cidade, ao longo do ano, moradores podem desfrutar de diversas frutas como abacate, açaí, jabuticaba, manga, pitanga, entre outras. No Parque da Cidade, podem ser encontradas ainda espécies como limão, oiti e jenipapo, ampliando assim as opções disponíveis para a população.

Com foco no uso integral desses alimentos, a pesquisadora explorou a aceitação e viabilidade de consumo de partes não convencionais, como cascas e sementes. “Ao incluir ingredientes nutritivos na alimentação, é possível evitar a compra de produtos industrializados ou suplementos caros. Para famílias em situação de vulnerabilidade, essa transformação de resíduos em refeições nutritivas se torna uma bastante viável, contribuindo para a redução do desperdício”, afirma Faeda.

Manga como estrela da pesquisa

Após analisar a literatura existente e realizar uma experiência sensorial, a estudante escolheu a manga como foco de sua pesquisa, devido à sua abundância em Brasília e seu grande valor nutricional, além da sua versatilidade na culinária. “As mangueiras, que estão espalhadas pela cidade, representam uma rica fonte alimentar que, frequentemente, é subaproveitada”, ressalta Camila.

Com a seleção da manga, foi criada uma receita de bolo utilizando a casca dessa fruta, com o intuito de proporcionar uma experiência sensorial aos voluntários adultos, com idades variando entre 20 e 60 anos. Esse processo visava a elaboração de uma receita simples, favorecendo a inclusão de hábitos alimentares mais saudáveis e sustentáveis para famílias de diferentes contextos socioeconômicos. “O bolo é uma fonte de fibras, antioxidantes e outros compostos benéficos à saúde. A intenção foi desenvolver uma opção que usasse ingredientes acessíveis e frequentemente encontrados em cestas básicas”, comenta.

A aceitação do bolo de casca de manga foi bastante positiva, o que indica que práticas como essa podem ser facilmente implementadas e bem aceitas pela comunidade, podendo, inclusive, ser incluídas em políticas públicas voltadas para o combate à fome. “Ao utilizar ingredientes simples como as cascas de manga, a região pode não apenas enfrentar a insegurança alimentar, mas também se tornar um exemplo em nutrição sustentável, inspirando outras localidades a adotarem estratégias semelhantes”, enfatiza Faeda.

O papel das frutas na luta contra a insegurança alimentar

Para ampliar o alcance de sua pesquisa, a estudante defende que é fundamental promover, através de políticas públicas, oficinas culinárias gratuitas, ensinando as famílias a utilizar partes não convencionais dos alimentos. “Programas educacionais podem integrar esse tema em suas atividades e merendas, formando a conscientização das novas gerações. Campanhas informativas podem ressaltar os benefícios nutricionais e econômicos dessas práticas. Além disso, parcerias com supermercados e feiras livres podem facilitar o acesso a alimentos que seriam descartados a preços acessíveis”, conclui.

Para Paloma Popov, que orienta o projeto e é professora de Nutrição no CEUB, a abordagem utilizada é flexível e pode ser adaptada a diferentes realidades urbanas, ou seja, em outras cidades com variedade de espécies frutíferas. “É crucial identificar os alimentos mais comuns em cada região. Por exemplo, em áreas onde a manga não é prevalente, cascas de banana, sementes de abóbora ou talos de vegetais podem ser opções viáveis”, conclui a professora.