Produtores orgânicos australianos abandonam embalagens plásticas em favor do papelão
A família Macri é uma referência na produção orgânica de frutas na costa Sul da Austrália. Visando minimizar o impacto ambiental das suas atividades, o grupo já praticava a agricultura orgânica. Contudo, a preocupação com a preservação do meio ambiente levou-os a buscar alternativas ainda mais sustentáveis. Após uma temporada na Europa, decidiram implementar uma mudança significativa no seu fluxo de trabalho: a substituição das embalagens plásticas que eram utilizadas para embalar os mirtilos por opções de papelão.
Jonathon e Sophie Macri, após residirem na Inglaterra por seis anos, notaram que na Austrália muitos mercados priorizavam a reciclagem de embalagens plásticas em vez de reduzir sua utilização. Os produtores acreditam que diminuir o uso desse material é uma medida mais eficiente do que a reciclagem do que já foi gerado. “Observamos o que havia de positivo no Reino Unido e ao retornarmos à Austrália, constatamos que essas opções ainda não estavam disponíveis”, disse Sophie. “Foi parte da nossa trajetória pessoal procurar maneiras de minimizar o plástico descartável e achamos que seria uma grande contribuição apresentar essas alternativas em nosso país. A esperança é que essa ação tenha sucesso e inspire outras empresas a adotá-la também”, acrescentou.

Em busca de uma alternativa ecológica, o casal estabeleceu contato com uma empresa de Queensland, especializada em embalagens. Esta empresa desenvolveu recipientes compostáveis e recicláveis, possibilitando a extinção do uso de plásticos descartáveis na operação familiar. As novas caixas, totalmente confeccionadas em papelão, apresentam um custo adicional modesto em comparação às tradicionais caixas plásticas, variando de acordo com a quantidade adquirida e os custos de transporte.
Sophie afirma que absorver esse pequeno custo a mais, ao invés de transferi-lo aos consumidores, traz satisfação ao casal, por considerarem isso um aspecto crucial de sua operação. “A diferença não é tão significativa, mas quando você contabiliza milhares de caixas, o impacto é considerável”, ressaltou. Para Jonathon, essa escolha é uma questão ética fundamental: “Não desejávamos aumentar a quantidade de plástico de uso único no planeta”.
Um exemplo a ser seguido

Após duas temporadas utilizando embalagens de papelão para seus mirtilos, a família Macri está obtendo respostas positvas dos consumidores. Um dos seus objetivos principais é incentivar outros produtores e distribuidores a abandonarem o uso de plásticos. “Temos recebido feedbacks muito positivos. As pessoas se mostram interessadas em ter a opção de adquirir produtos sem plástico”, observou Sophie.
O impacto ambiental do uso de plásticos é alarmante. Estudos indicam que, para cada quilo de mirtilos vendidos em redes de supermercados australianos, são utilizados aproximadamente oito recipientes plásticos. Esse número se torna mais preocupante quando se considera que cada australiano consome, em média, 700 gramas de mirtilos anualmente.
Ampliando a visão sustentável
A transição para as novas embalagens foi facilitada pela forma artesanal com que as frutas são embaladas pelos Macri. Entretanto, a realidade é diferente para a maioria dos grandes produtores de mirtilos na Austrália, especialmente na região de Nova Gales do Sul, que produz mais de 17 mil toneladas anualmente. Com operações maiores, essas empresas geralmente necessitam de maquinário especializado para embalagem.

Melissa Gow, gerente de comunicação da Mountain Blue, um dos maiores produtores da região, disse que um dos obstáculos à substituição das caixas plásticas é integrar o novo material às linhas de embalagem automatizadas. Embora tenha realizado testes com novas embalagens em alguns supermercados no ano passado, as opções apresentadas, embora recicláveis, não eram biodegradáveis ou compostáveis. “Estamos planejando um novo teste na costa leste”, revelou Melissa.
Grandes redes varejistas também têm se manifestado sobre o uso de embalagens. A Coles anunciou seu compromisso em apoiar a indústria em direção a “embalagens 100% reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis”, embora não tenha detalhado quais passos está tomando nessa direção. Já a Woolworths reconheceu a preocupação de seus clientes em relação às embalagens plásticas e seus resíduos. “Estamos focados em eliminar plásticos sempre que possível, trabalhando para fechar o ciclo por meio de design e comunicação eficaz com clientes e fornecedores”, afirmou a marca.
Nota de responsabilidade ambiental
A jornada dos Macri é uma fonte de inspiração ao apresentar práticas que podem ser replicadas por outros produtores e empresas, especialmente em um contexto onde o Brasil se posiciona como um dos maiores poluidores plásticos do mundo.
É essencial repensar a totalidade do ciclo de vida dos produtos e buscar soluções que minimizem a dependência de plásticos, promovendo mudanças que vão além da reciclagem. Pesquisas indicam que eliminar o uso de plásticos descartáveis pode não apenas beneficiar o meio ambiente, mas também gerar impactos econômicos positivos para o país.

Com informações da ABC Great Southern