Na segunda-feira, dia 20, Donald Trump iniciou oficialmente seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos. O que era uma expectativa entre ambientalistas e especialistas da área de clima se confirmou, pois, no primeiro dia de sua administração, Trump assinou um decreto que formaliza a saída do país do Acordo de Paris.
Esse acordo, considerado uma solução inovadora para limitar o aumento da temperatura global a menos de dois graus, foi firmado em 2015 por 196 nações, que reconheceram a mudança climática como uma preocupação coletiva da humanidade. Na ocasião, os Estados Unidos, ao lado de China e Índia, foram identificados como os países com as maiores emissões de poluentes. Desde 2016, essa já é a segunda vez que os EUA anunciam sua retirada do pacto, novamente sob a liderança de Trump.
O Observatório do Clima, uma rede da sociedade civil que aborda a questão climática no Brasil, argumenta que a postura dos EUA tem sido mais um obstáculo do que um aliado no progresso das políticas ambientais. A comunidade internacional, portanto, precisa encontrar maneiras de enfrentar a crise climática sem a participação dos Estados Unidos.
Em sua análise, o observatório destaca a resistência dos EUA em compromissos ambientais ao longo dos anos, citando eventos significativos, como a não assinatura da Convenção do Clima em 1992, o colapso do Protocolo de Kyoto em 2001 e a falha da conferência de Copenhague em 2009 em razão da pressão americana. O acordo de Paris, incluindo as metas nacionais voluntárias, foi elaborado para contemplar a posição dos EUA, que frequentemente bloqueiam debates sobre financiamento e compensações pelas perdas e danos gerados pela mudança climática, conforme explica o Observatório do Clima.
Com os EUA saindo do acordo, a responsabilidade recai sobre os demais países, principalmente diante das circunstâncias complicadas em que a situação ambiental global se encontra. Desde a sua adesão, as emissões de gases do efeito estufa geraram um aumento de aproximadamente 0,2°C na temperatura global, sendo os EUA responsáveis por cerca de 20% a 25% do dióxido de carbono liberado no ambiente desde 1950.
Frente a essa realidade, surge a necessidade de novos líderes que possam preencher o vazio deixado pelos EUA. Para isso, há uma maior responsabilidade sobre países como China, União Europeia, África do Sul e Brasil, que, com a realização da primeira reunião do BRICS e a COP pós-Trump 2.0, têm a chance de demonstrar comprometimento e estimular ações em prol do clima. A atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na COP30 em novembro será crucial para evidenciar se o mundo está pronto para avançar diante da crise ambiental, mesmo com a maior economia do planeta optando por um caminho distópico.
O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) complementa essa análise, afirmando que a responsabilidade de combater as emissões recai sobre outras nações, incluindo a Europa e a China, que, junto aos EUA, são grandes emissores. O Brasil, que vem liderando esforços para reduzir o desmatamento, pode se posicionar como um protagonista relevante nesse cenário.
A agenda brasileira relacionada ao combate às mudanças climáticas está intimamente ligada à diminuição do desmatamento, que, conforme demonstrado no último ano, apresentou uma diminuição significativa na Amazônia e no Cerrado. Em um ambiente repleto de incertezas, o Brasil se destaca como uma nação que está conseguindo, de fato, reduzir suas emissões. Este contexto gera esperanças de que o Brasil entre na COP30 com uma posição de liderança e convide países que não se alinharam ao movimento criado por Trump a elevar suas ambições, a fim de alcançar objetivos significativos em mitigação e adaptação às mudanças climáticas o quanto antes, ressalta André Guimarães, diretor executivo do IPAM.
O Observatório do Clima alerta que a retirada dos EUA do Acordo de Paris apresenta um risco considerável, especialmente devido à possibilidade de provocar um efeito dominó, ou seja, incentivar outros líderes de extrema-direita no mundo a seguir a mesma linha. Quanto mais nações se afastarem das negociações, menores serão os esforços de descarbonização, resultando em um risco ainda maior para a humanidade, que já enfrenta uma série crescente de eventos climáticos extremos.
A preocupação com essa possibilidade não é infundada. Após a primeira saída dos EUA do Acordo de Paris, houve uma resistência significativa, especialmente entre governadores que se comprometeram a manter os padrões ambientais. Guimarães ressalta que atualmente existe uma diferença em relação ao que se passou em 2017, quando Trump primeiro retirou os EUA do acordo. Naquela oportunidade, empresas e estados subnacionais se uniram na iniciativa “We are all in”, afirmando que continuariam respeitando os compromissos do Acordo de Paris, mesmo contra a decisão da administração federal. Contudo, esse movimento parece ter perdido força desta vez, com setores financeiros anunciando que vão relaxar suas obrigações em relação às questões climáticas de seus investimentos.
Além de tais medidas, Trump também escolheu Chris Wright, um CEO do setor petrolífero, para liderar o departamento de energia, reafirmando seu compromisso com a exploração de petróleo. Seu governo ainda anunciou planos para aumentar a produção de petróleo e gás, suspender metas para veículos elétricos, interromper leilões de energia eólica no mar e facilitar as autorizações para a exportação de gás natural liquefeito.
Em adição a essas ações, Trump também formalizou a retirada dos EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que gerou uma resposta da organização, relembrando que os Estados Unidos fazem parte da fundação da entidade, participando ativamente das discussões e diretrizes junto a outros 193 países membros. A OMS expressou o desejo de que os EUA reconsiderem sua posição e reafirmou a importância do diálogo para garantir a parceria entre o país e a organização em benefício da saúde global.