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Estudo revela a diversidade sonora presente no solo
Quando mencionamos a tranquilidade que o “silêncio” da natureza traz, referimo-nos não apenas à ausência de ruídos humanos, mas também à bela harmonia de sons como o canto dos pássaros, o murmúrio das árvores e do vento, além do som de quedas d’água ou ondas do mar. Esses sons, todos provenientes da superfície, compõem o ambiente natural. No entanto, um aspecto menos conhecido é que, abaixo da terra, em solos saudáveis, existe uma verdadeira sinfonia vibrante a ser descoberta.
Recentemente, um novo estudo publicado no Journal of Applied Ecology revelou que o solo emite uma variedade de sons, incluindo cliques, estalos e os ruídos gerados por minhocas e formigas movimentando-se subterraneamente. Essa sinfonia é quase imperceptível para os ouvidos humanos e, segundo os pesquisadores da Universidade Flinders na Austrália, pode ser descrita como “um pouco como um show rave underground, repleto de bolhas e cliques”.
A equipe de pesquisa utilizou gravações sofisticadas para capturar e desvendar a mistura de sons produzidos por pequenos organismos interagindo nesse vasto e oculto espaço.
O Dr. Jake Robinson, ecologista microbiano do Frontiers of Restoration Ecology Lab da Faculdade de Ciências e Engenharia da Universidade Flinders e principal autor do estudo, afirmou: “Desenvolvemos uma abordagem simples que utiliza o som para monitorar a vida no solo, o que pode contribuir para a melhoria da saúde do solo globalmente”.
Os ecossistemas subterrâneos são mundos únicos e enigmáticos. Para ilustrar a complexidade e a importância desses ambientes, 59% das espécies da Terra habitam essas regiões.
Robinson ressalta que, embora o conceito ainda esteja em desenvolvimento, essa nova área de “ecoacústica” emerge como uma ferramenta promissora para detectar e monitorar a biodiversidade do solo. O método já tem sido aplicado em ecossistemas australianos e no Reino Unido.
O professor explica que a diversidade e a complexidade acústica aumentam conforme a biodiversidade se eleva. Essas propriedades acústicas tendem a ser significativamente mais pronunciadas em áreas reflorestadas e regiões que preservam vegetação nativa, em comparação com terrenos degradados. Ademais, as características acústicas estão intimamente ligadas à presença e abundância de invertebrados do solo.
A pesquisa foi conduzida com a utilização de um equipamento especializado para a atenuação sonora e dispositivos de amostragem para registrar as comunidades de invertebrados no solo, além da contagem manual desses organismos.
Ao destacar um dado preocupante, Robinson observa que cerca de 75% dos solos do planeta já foram degradados e ainda não restaurados.
Ele alerta que essa proporção pode crescer para 90% até 2050, devido a práticas destrutivas como desmatamento, pastoreio excessivo e urbanização. O Dr. Martin Breed, coautor do estudo e professor associado de biologia na Universidade Flinders, adverte: “Essa degradação representa graves riscos, não somente para a biodiversidade, mas também para serviços ecossistêmicos essenciais à saúde humana, como a produção de alimentos”.
O estudo comparou os dados acústicos de áreas com vegetação nativa remanescente a terrenos degradados que passaram por restauração há 15 anos. Robinson faz uma analogia: “É como se fôssemos ao médico, que coloca um estetoscópio em nosso peito para ouvir os batimentos cardíacos. Estamos fazendo algo parecido com a saúde do solo”.
Durante cinco dias, os pesquisadores utilizaram diversos índices e ferramentas para realizar o monitoramento acústico da biodiversidade do solo nas colinas de Adelaide, na região de Mount Bold, sul da Austrália.
É evidente que a complexidade acústica e a diversidade em amostras observadas estão associadas à quantidade de invertebrados presentes no solo – que inclui organismos como minhocas, besouros, formigas e aranhas. Os resultados preliminares sugerem que diferentes organismos do solo emitem perfis sonoros distintos, variando conforme sua atividade, forma, apêndices e tamanho.
Essa tecnologia se mostra promissora na busca por métodos mais eficazes de monitoramento da biodiversidade do solo, visando proteger os ecossistemas mais ricos e diversificados do planeta. O desafio de restaurar e monitorar a biodiversidade do solo é mais crítico do que nunca, conclui Robinson.
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