Sapos encontram saunas” para combater fungo mortal

Saunas sapos

Saunas ajudam anfíbios a combaterem fungo mortal

Endêmica da Austrália, a rã-de-sino-verde-e-dourado (Litoria aurea) é considerada ameaçada de extinção no estado de Nova Gales do Sul e “Quase Ameaçada” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. Nos últimos 15 anos, a distribuição da espécie caiu drasticamente em 90% devido a diversos fatores, tais como introduções de peixes invasores (que predam ovos e girinos), perda de habitat e alterações climáticas. Porém, uma das maiores ameaças para a espécie é o Batrachochytrium dendrobatidis (Bd), um fungo que, segundo a revista Science, se espalhou pelo mundo nas últimas três décadas. Uma solução aparentemente simples promete ajudar os sapos a combater o fungo mortal: uma espécie de sauna cria a temperatura adequada para os anfíbios se recuperarem.

O Bd, como é chamado pela comunidade científica, é um fungo que adora o frio. A solução então proposta pelo biólogo Anthony Waddle, da Universidade Macquarie, em Sydney, foi construir um pequeno abrigo com tijolos e lona plástica. O profissional brinca que o espaço é como um mini spa médico para sapos.

A premissa do projeto parte do fato de que já se sabe que algumas populações de rãs com acesso a locais quentes de refúgio dentro de seu habitat resistem melhor à doença fúngica. Com o abrigo, anfíbios capazes de suportar o calor podem eliminar as infecções quando mantidos aquecidos por tempo suficiente. Além de se recuperarem, a ideia é que a “sauna” ajude a espécie a desenvolver imunidade às exposições subsequentes ao Bd.

Durante o experimento em laboratório, rãs infectadas com Bd e mantidas em temperatura de 30°C apresentaram doenças mais brandas do que aquelas mantidas a 19°C, temperatura ideal para o fungo. As rãs que podiam escolher a temperatura – entrando e saindo de vários compartimentos do alojamento – tiveram um desempenho ainda melhor, sugerindo que a capacidade de aumentar e diminuir a temperatura corporal é uma forma particularmente eficaz de as rãs combaterem o fungo. As experiências também mostraram que, assim como algumas outras espécies, as rãs-sino que haviam eliminado uma infecção eram mais capazes de resistir à reinfecção.

No estudo em campo, os pesquisadores criaram habitats em uma dúzia de banheiras de 3,5 metros de largura – adicionando cascalho, água, plantas artificiais e vasos de flores para os sapos se esconderem. Cada banheira também abrigava um abrigo para os sapos que consistia em uma pilha de tijolos pretos, cada um com 10 buracos do tamanho de um sapo. O abrigo foi envolvido com uma pequena estufa e um plástico translúcido, que aquecia ao sol e criava um efeito de sauna em seu interior. Em uma variação dessa configuração, os cientistas também cobriram algumas das estufas com um pano de sombra, que manteve a temperatura interna mais baixa.

As descobertas em campo apontaram que as rãs doentes preferiam passar o tempo nas estufas sem sombra e, de fato, as temperaturas mais elevadas nas estufas ajudaram-nas a combater a infecção.

Os abrigos de Waddle estão sendo construídos no Parque Olímpico de Sydney, que abriga uma das maiores populações remanescentes da rã-de-sino-verde-e-dourado. O biólogo também convida a população a construir as saunas em seus quintais para ajudá-los a mantê-los saudáveis ​​durante o inverno – inclusive divulgando o passo-a-passo.

O Batrachochytrium dendrobatidis causa a doença quitridiomicose, que ataca as partes da pele de uma rã que contém queratina. Como os sapos usam a pele para respirar, isso dificulta a respiração do sapo. O fungo também danifica o sistema nervoso, afetando o comportamento da rã.

De acordo com o biólogo Anthony Waddle, é provável que o fungo tenha se originado na Ásia, onde o patógeno parece coexistir com anfíbios nativos, mas é mortal em outros lugares, possivelmente porque outras rãs não têm defesas naturais.

Estima-se que, desde a sua descoberta, a doença se espalhou por todos os continentes, exceto a Antártida, infectando mais de 500 espécies de anfíbios, sendo que 90 espécies atingidas foram extintas ou são presumidas extintas na natureza. Outras 124 espécies diminuíram em número em mais de 90%. Não à toa, é considerado o patógeno da vida selvagem mais mortal conhecido.

Por que devemos nos preocupar com sapos?

Se para alguns não é óbvio a importância dos anfíbios para o meio ambiente e até mesmo para a saúde humana, o próprio biólogo traz respostas para essa questão:

– As rãs comem insetos que transmitem e espalham doenças humanas;
– Sua pele é uma fonte rica de novos medicamentos que poderão ajudar-nos a combater as “superbactérias” resistentes aos antibióticos;
– As próprias rãs são alimento para muitos predadores;
– Começando a vida como um girino comendo algas, os sapos transportam energia dos ecossistemas aquáticos para a terra – onde pode ser transferida através da cadeia alimentar. Portanto, a perda de uma única espécie de rã pode ter sérios efeitos colaterais.

As descobertas foram publicadas na revista Nature.

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