Resíduos de café viram matéria-prima para produtos ecológicos

Seokhun Alex Kim, um estudante sul-coreano que se mudou para o Brasil com sua família há uma década, enfrentou um longo caminho de adaptações culturais antes de encontrar seu lugar no novo ambiente. Agora, ele está pronto para entrar na vida acadêmica. Entretanto, antes mesmo de dar esse passo, já desenvolveu uma tecnologia inovadora que transforma borra de café em matéria-prima completamente biodegradável, utilizando apenas recursos naturais, sem a necessidade de processos industriais complexos.

A jornada de descoberta de Alex se deve ao seu envolvimento em atividades extracurriculares e sua vontade de causar um impacto positivo no mundo. Com essa motivação, ele se propôs a resolver um problema ambiental significativo.

O método convencional de reaproveitamento da borra de café geralmente envolve o uso de Ácido Polilático (PLA), um tipo de bioplástico. Contudo, o PLA necessita de condições específicas para se decompor completamente, como em sistemas industriais de compostagem; em circunstâncias comuns, sua degradação não é garantida, podendo ser tão prejudicial ao meio ambiente quanto os plásticos convencionais.

Buscando uma alternativa mais sustentável, Alex Kim, agora residente em São Paulo, conduziu diversos experimentos com o intuito de reinventar a utilização desse resíduo tão comum. O resultado foi uma fórmula que transforma a borra de café, normalmente descartada em aterros ou queimada, em um material que se torna um substrato completamente biodegradável.

Essa solução inovadora já está em fase de solicitação de patente e é vista como uma opção viável para substituir os bioplásticos sintéticos que não se decompõem adequadamente.

“O costume de beber café é uma tradição global e me impressionou que, das aproximadamente 10,3 milhões de toneladas produzidas anualmente em todo o mundo, apenas 0,2% é consumido. Isso significa que a maioria, cerca de 99,8%, é descartada. Essa constatação motivou minha pesquisa para encontrar uma forma de trazer benefícios para a natureza e, ao mesmo tempo, gerar oportunidades de renda para pessoas envolvidas no processo”, afirma Alex.

Além de se decompor em poucas semanas quando descartada no meio ambiente, a técnica desenvolvida por Alex oferece uma possibilidade de incrementar a renda de famílias em situações vulneráveis. O que antes era considerado resíduo agora se torna uma matéria-prima para criar novos produtos ecologicamente corretos, incluindo sabonetes, esfoliantes para a pele, vasos de plantas e muito mais.

Com essa inovação, Alex fundou a startup Recafenet, que opera sob os princípios da economia circular. A empresa colabora em três frentes: com restaurantes e estabelecimentos para a coleta de resíduos, com cooperativas de artesãos para a produção dos produtos e com lojas locais para a comercialização dos itens.

A Recafenet também possui um componente social que promove programas de capacitação voltados para a fabricação de produtos a partir da borra de café em comunidades de baixa renda. A técnica não requer infraestrutura industrial específica e utiliza recursos naturais que não apenas protegem o meio ambiente, mas também facilitam um uso sustentável dos resíduos.