Agrobairros: uma solução que une moradia e agricultura urbana
Você já ouviu falar em “agrobairros”? Esse conceito está se popularizando nos Estados Unidos e tem como objetivo principal unir habitação e produção agrícola em espaços urbanos. A ideia por trás desse projeto é atender a duas demandas importantes da vida nas cidades: o contato com a natureza e a proximidade com a produção de alimentos, gerando menos impacto ambiental e possibilitando acesso a alimentos saudáveis e sustentáveis. Atualmente, existem cerca de 200 bairros agrícolas nos EUA, número que saltou de apenas 30 em 2018.
Na Austrália, um novo agrobairro está sendo planejado para a região norte de Queensland. A empresa responsável por essa proposta é a Arkadian Developments, que busca reintegrar a agricultura e as fazendas aos sistemas de vida humana. Steve Grist, fundador da empresa, explica que por muito tempo as fazendas foram excluídas das cidades devido à expansão urbana, o que resultou em uma desconexão entre a população e a agricultura. Os únicos contatos com os produtores passaram a ser os supermercados e os mercados comunitários. Com o agrobairro, a ideia é criar um novo modelo de assentamento humano, onde as fazendas e a agricultura estejam presentes.
Os bairros agrícolas são considerados comunidades de uso misto, construídas com foco em uma chácara em funcionamento ou em uma horta comunitária. Cada local deve contar com áreas dedicadas à agricultura, serviços para produtores de alimentos e casas agrupadas. De acordo com o Urban Land Institute (ULI), uma instituição sem fins lucrativos, 73% dos residentes dos Estados Unidos consideram o acesso a alimentos frescos e saudáveis como um fator importante na hora de escolher onde morar.
No entanto, é importante ressaltar que a implementação dos agrobairros precisa ter cuidado para não se tornarem meros empreendimentos imobiliários. Alguns críticos argumentam que muitos projetos nos EUA investiram mais na construção de imóveis do que na produção de alimentos. A especulação imobiliária pode se tornar um obstáculo para que a agricultura e o desenvolvimento residencial coexistam de forma benéfica para ambos os setores.
Rachel Carey, da Escola de Agricultura, Alimentação e Ciências dos Ecossistemas da Universidade de Melbourne, alerta que a prioridade deve ser proteger as áreas agrícolas da especulação imobiliária. Ela afirma que não é fácil conciliar a agricultura com o desenvolvimento imobiliário de forma a permitir que os agricultores prosperem. No entanto, Grist destaca que o projeto do agrobairro em Queensland busca integrar até quatro operações agrícolas, como horticultura, avicultura e até mesmo uma leiteria de cabras.
A proposta dos agrobairros vai de encontro a uma demanda crescente da população, que se mostra cada vez mais interessada na origem dos alimentos que consome. Com a pressão sobre as cadeias de abastecimento alimentar, há governos locais buscando soluções que combinem habitação e agricultura. A ideia é trazer para mais perto do consumidor final alimentos frescos e saudáveis, reduzindo a dependência de grandes cadeias de distribuição.
Além disso, os agrobairros podem possibilitar a participação da própria comunidade no cultivo e na produção de alimentos. Algumas propriedades podem ser geridas profissionalmente por terceiros e abastecer a comunidade, enquanto outras podem ser administradas pelos próprios moradores, que se dedicam ao cultivo e trabalho nas hortas e espaços comunitários. Com isso, os alimentos produzidos localmente podem ser comercializados a preços acessíveis em mercados locais.
Os agrobairros representam uma mudança de paradigma no planejamento territorial e no desenvolvimento urbano. Ao reintegrar a agricultura às cidades, é possível criar comunidades mais sustentáveis e resilientes. Além disso, esse modelo pode trazer benefícios para a saúde e o bem-estar da população, que terá acesso a alimentos mais saudáveis e frescos. Resta aguardar para ver como essa proposta se desenvolverá ao redor do mundo e a contribuição que os agrobairros poderão trazer para a alimentação urbana.