A agricultura urbana em Recife: um passo importante contra a fome e a mudança climática
A agricultura urbana tem sido reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma estratégia eficaz no enfrentamento de dois dos principais desafios globais: a fome e a mudança climática. A inclusão da comunidade nesse projeto é crucial para o seu sucesso. Recife, a capital do estado de Pernambuco, serve como um modelo inspirador, implementando uma iniciativa inovadora ao criar seu primeiro corredor agroecológico com a colaboração de seus habitantes.
Essa iniciativa se estende muito além das tradicionais hortas urbanas que costumam cultivar apenas alface e ervas. O plano consiste no plantio diversificado de sementes como arroz, crotalária, feijão, feijão-de-porco, gergelim, girassol, guandu e milho, entre outros alimentos. Algumas dessas espécies são escolhidas especificamente para melhorar a qualidade do solo e combater pragas indesejadas.
Adriana Figueira, secretária executiva de Agricultura Urbana da cidade, ressalta que “essa iniciativa une cultivo livre de agrotóxicos à preservação da biodiversidade em áreas urbanas, enfrentando problemas como a falta de espaços verdes e a desigualdade no acesso à terra. Estamos importando para Recife um modelo que já tem mais de dez anos de sucesso, com a intenção de fortalecer a segurança alimentar, valorizando as sementes crioulas e promovendo áreas livres de transgênicos.

Mutirões de plantio promovem a agricultura sustentável
A primeira ação dessa proposta foi realizada no dia 18 de março, com o plantio de milho criado na Escola de Agroecologia do Recife, localizada no Sítio Natan Valle. Em 24 de março, ocorreu um mutirão de plantio no qual o milho foi integrado à produção da Horta Comunitária Mãos de Milagres, situada no bairro do Ibura. A Prefeitura do Recife já havia implementado uma farmácia viva e um pomar na mesma área. Esse último evento contou com o plantio de milho, feijão e jerimum em um consórcio que favorece a produção conjunta.

Nathália Mesquita, técnica em Agroecologia da Secretaria Executiva de Agricultura Urbana, explica que “o milho cresce verticalmente, servindo como suporte para o feijão de corda, enquanto o jerimum funciona como uma cobertura viva do solo. Essa interação entre as plantas ajuda a inibir o crescimento de ervas daninhas e reduz a incidência de pragas. Cada planta colabora com a outra”, conforme informações divulgadas pela prefeitura.

Nos dias seguintes, outros seis mutirões foram realizados em várias localizações da cidade, sendo que o último está programado para o primeiro dia de abril no CAPS Espaço Livremente.

Os mutirões agroecológicos englobam hortas comunitárias, escolas, creches e centros de convivência, proporcionando que todos possam participar das atividades, que não requerem cadastro prévio.

A ligação entre agricultura urbana e mudanças climáticas
A restauração de áreas que foram degradadas, juntamente com a promoção da agricultura urbana, é considerada uma estratégia relevante para mitigar os impactos da mudança climática nas áreas urbanas. A ONU reafirma que “ecossistemas urbanos ativos contribuem para purificar o ar e a água, promovendo o bem-estar da população e oferecendo oportunidades de lazer e descanso. Eles também podem acolher uma quantidade espantosa de biodiversidade.” Essa mensagem se alinha à Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas, programada para o período de 2021 a 2030.

Além disso, o fortalecimento da agricultura urbana se mostra uma solução viável para combater a insegurança alimentar nas áreas urbanizadas. Um estudo realizado em 2020 pelo Instituto Escolhas destacou o potencial da agricultura urbana para fornecer verduras e legumes para cerca de 20 milhões de indivíduos por ano, aproveitando 60 mil hectares na região metropolitana de São Paulo. A análise também incluiu cidades como Curitiba, Recife e Rio de Janeiro.

A produção e comercialização local contribuem para a diminuição do desperdício de alimentos e das emissões de CO2, ao mesmo tempo que fomentam a geração de empregos e renda na região. Assim, fortalecer a agricultura urbana se mostra como uma alternativa para aumentar as áreas verdes nas cidades, o que é crucial para amenizar o calor intenso que tem se tornado cada vez mais presente nas ondas de calor. Com o corredor agroecológico, a soma de todos esses benefícios se torna ainda mais evidente.
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