Escritor e filósofo oferece palestra sobre educação e a importância da literatura, animando o público e fazendo um apelo pela qualidade do ensino nas escolas públicas.
A Festa Literária Internacional de Maricá (Flim) recebeu na última quarta-feira (6 de novembro) o renomado filósofo e escritor Clóvis de Barros Filho, em um dos eventos mais requisitados da nona edição do festival. O auditório do espaço conhecido como Papo Flim, com capacidade para 400 pessoas, ficou completamente cheio para ouvir o professor, que possui mais de 30 obras publicadas. Sua palestra, intitulada “A vida que vale a pena ser vivida”, discutiu temas sobre valores positivos da existência humana e se baseou em um de seus livros mais famosos, que foi lançado em 2010.
Iniciando sua fala, Clóvis abordou como a noção de prazer é frequentemente minimizada em diversas áreas da sociedade, exceto na filosofia. Ele ponderou: “Os prazeres do corpo são vistos como efêmeros, enquanto os prazeres do espírito são considerados mais duradouros, mas a verdade é que isso depende da qualidade das relações que cada um estabelece com o mundo ao seu redor.” Ele então dirigiu sua atenção para a literatura e a educação, arrancando risos da plateia ao mencionar uma de suas outras obras, cujo título é “Reinventar-se, uma impossibilidade”.
Ele continuou, criticando a ideia de “reinvenção”, que considera um conceito impraticável. “O termo reinventar é o mais absurdo queo sistema capitalista criou. Você não é capaz de recriar uma personalidade que já está formada. Isso é tão impossível quanto morrer, que, afinal, só acontece uma vez. Grandes nomes da história, como Jesus Cristo, Ghandi e Martin Luther King, tiveram a oportunidade de se reinventar, mas nenhum deles aceitou essa proposta. A vida pode ser mais gratificante quando você vive a sua própria vida em vez da vida que os outros querem que você viva,” declarou o filósofo.
Clóvis enfatizou que as escolas públicas devem alcançar o mesmo padrão de qualidade das instituições privadas, defendendo que essa exigência é uma questão de justiça. Ele argumentou que a busca pela excelência no ensino deveria ser uma prioridade nacional e um objetivo coletivo da sociedade. “Há muitas pessoas que se acomodam com a mediocridade, considerando a nota 5 como aceitável. Assim, estamos em uma sociedade que valoriza a mediocridade, e precisamos cultivar o hábito de buscar a excelência nas escolas. Temos que ensinar que a nota 10 deve ser nosso padrão. Uma vez que 84% dos estudantes estão em escolas públicas, é inaceitável que suas condições sejam inferiores às das escolas privadas,” destacou.
O filósofo continuou sua crítica ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que considera uma “farsa” e “indecência”, argumentando que os alunos da rede pública competem desigualmente com aqueles que já tiveram experiências como viagens ao exterior e um ambiente familiar com mais recursos. “Por isso, a mudança requer uma verdadeira revolução cultural e pedagógica,” afirmou Clóvis.
Em um momento de descontração, Clóvis compartilhou uma experiência inesperada que teve com o matemático norte-americano John Forbes Nash, laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 1994, durante uma visita ao Brasil no final dos anos 1990. Ao final de sua palestra, o filósofo atendeu fãs e deu autógrafos a diversos leitores que se aproximaram.
Ao deixar o evento, muitos participaram da palestra com uma sensação de satisfação, como foi o caso da engenheira civil Ana Oliveira, de 38 anos, residente de Araçatiba. “Eu acompanho os ensinamentos dele todos os dias pela manhã. Ele é uma lufada de ar fresco para mim, uma grande força. Enfrento muitos desafios como mãe solteira de duas crianças, e ouvi-lo sempre me motiva muito,” declarou emocionada.
Outro depoimento foi de Sandra Marina Fonseca, uma diretora escolar de 53 anos, que também saiu encantada ao lado de seu filho, o professor Uriel Fonseca, de 30 anos. “Foi uma experiência mágica estar presente hoje. Sempre digo que Clóvis é uma mente milagrosa. Trouxe meu filho aqui para que ele pudesse se inspirar,” contou a mãe. Seu filho completou: “Foi uma das melhores palestras que já assisti na cidade.”
Fonte: Plantão Guia Região dos Lagos
