Recebendo alertas máximos em decorrência de várias frentes de incêndio, 48 cidades do estado de São Paulo enfrentaram sérias consequências no último fim de semana. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o mês de agosto deste ano registrou um número recorde de focos de incêndio no estado, sendo o maior desde 1998. Até agora, três indivíduos foram detidos sob suspeita de iniciarem incêndios de forma criminosa. Na manhã desta segunda-feira (26), a Defesa Civil paulista informou que não há focos ativos de incêndio, entretanto, a qualidade do ar continua a causar preocupações, uma vez que as mudanças nos ventos dispersaram a fumaça para outras regiões do país. Moradores de áreas rurais de São Paulo relataram dificuldades respiratórias devido à fumaça.
A combinação de incêndios, ventos fortes, baixa umidade relativa do ar e períodos de estiagem forma um cenário altamente perigoso. De acordo com uma nota divulgada pelo governo estadual, “as queimadas geram fumaça densa e nociva que afeta o meio ambiente e a saúde da população, trazendo problemas respiratórios e complicações cardiovasculares. Dois trabalhadores de uma usina em Urupês perderam a vida na última sexta-feira (23) enquanto tentavam combater um incêndio”, revelou.
É necessário estar vigilante, especialmente em relação a incêndios provocados por práticas agrícolas, queima de resíduos domésticos e industriais. Isaura Espínola, pneumologista, declarou ao Ascom Sema que “a fumaça contém partículas minúsculas, como sulfatos, nitratos, amônia, cloreto de sódio, fuligem e monóxido de carbono, conhecidos como material particulado. A inalação dessa fumaça tóxica pode provocar uma série de sintomas, dependendo dos materiais presentes, da quantidade e do tempo de exposição”.
O que fazer?
Evitar a exposição à fumaça é a principal diretriz, mas como isso pode não ser viável para muitos, o CicloVivo apresenta algumas orientações do Ministério da Saúde para minimizar os impactos à saúde:
• É fundamental aumentar a ingestão de água e outros líquidos para manter as membranas respiratórias hidratadas e protegidas;
• Reduzir ao máximo o tempo de exposição à fumaça, preferindo permanecer em casa em ambientes arejados, com ar condicionado ou purificadores de ar;
• Manter portas e janelas fechadas durante os períodos em que a poluição do ar é mais intensa, para impedir a entrada de poluentes;
• Evitar praticar atividades físicas em momentos de alta concentração de poluentes, especialmente entre 12h e 16h, quando o nível de ozônio tende a ser elevado;
• O uso de máscaras, seja cirúrgicas, de pano, lenços ou bandanas, pode amenizar a exposição a partículas maiores, principalmente para quem reside em áreas próximas aos focos de incêndio. Máscaras com a tecnologia N95, PFF2 ou P100 são indicadas para proteger contra a inalação de partículas finas;
• Grupos mais vulneráveis como crianças abaixo de 5 anos, idosos acima de 60 anos e gestantes devem ter atenção redobrada às recomendações e devem buscar assistência médica imediatamente ao apresentarem sintomas respiratórios ou qualquer outra agravos de saúde.
Pessoas com condições cardíacas, respiratórias ou imunológicas devem:
- Consultar um médico para revisar seu plano de tratamento;
- Garantir que medicamentos e itens prescritos por profissionais da saúde estejam à disposição em caso de crises agudas;
- Procurar atendimento médico ao notar sintomas de crise;
- Considerar a avaliação das condições e segurança de se afastar temporariamente de áreas afetadas pelas queimadas.
Além de seguir essas orientações, é importante denunciar: caso você aviste um foco de incêndio ou enxergar uma grande quantidade de fumaça, saia do local imediatamente, busque abrigo e informe ao Corpo de Bombeiros pelo número 193 e à Defesa Civil pelo 199.
O aumento de incêndios e suas implicações
A época do ano com clima seco e chuvas raras resulta em um aumento significativo de incêndios em São Paulo e em várias partes do Brasil. Descartes indevidos de cigarros acesos, o uso de fogo para limpar áreas, queimadas para eliminação de lixo e a expansão de áreas rurais são algumas das práticas que podem gerar sérios danos. No entanto, a situação enfrentada no interior de São Paulo parece estar fora do comum. O estado registrou 2.191 focos de calor em apenas 48 horas, representando aproximadamente 42% dos focos no estado em 2024.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na última coletiva, afirmou que “não é natural que em tão pouco tempo haja tantas frentes de incêndio em diversos municípios simultaneamente”.
A Polícia Federal iniciou 31 inquéritos para elucidar as origens desses incêndios, incluindo dois inquéritos no estado paulista, que concentrou mais de 30% dos focos de calor registrados no país nos dias 23 (sexta) e 24 (sábado) de agosto, segundo os dados do Inpe.
Uma das teorias levantadas é que essas ações criminosas sejam orquestradas, reminiscente ao “Dia do Fogo” – que ocorreu em 10 de agosto de 2019 e resultou na queima de mais de 470 propriedades rurais. O Greenpeace Brasil recentemente revisitou as propriedades que tiveram focos de incêndio nos dias 10 e 11 de agosto e publicou um relatório que revela que, cinco anos após o ocorrido, essas fazendas continuam a apresentar altos índices de desmatamento e queimadas recorrentes, algumas inclusive obtendo financiamento por meio de créditos rurais.
“É inaceitável que proprietários que desmatram e utilizam o fogo de maneira criminosa tenham acesso a recursos de crédito rural, que são oriundos de impostos pagos pela população, enquanto, em muitos casos, acumulam dívidas em multas ambientais”, comentou Thais Bannwart, porta-voz de Florestas do Greenpeace Brasil.