Vereadores de Macaé manifestam repúdio a questões ofensivas em concurso público
Na sessão da Câmara de Vereadores de Macaé, realizada na última terça-feira (22), foi aprovada uma moção de repúdio referente às questões consideradas ofensivas presentes no recente concurso público da prefeitura. O concurso, que foi organizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), gerou controvérsia e descontentamento entre os parlamentares, levando à assinatura do documento por todos os 17 vereadores. Durante a sessão, foi solicitada a anulação da prova devido a diversas irregularidades.
O vereador Guto Garcia (MDB), que também atua como professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destacou que uma das questões de matemática apresentava um gabarito incorreto, que não foi corrigido pela FGV. “Resolvi essa questão e posso afirmar que está errada, o que já demonstrei em minhas redes sociais”, declarou Garcia. Ele mencionou que, embora a FGV tenha anulado algumas perguntas, essa específica não foi excluída. Para ele, diante das ofensas relacionadas ao gênero feminino e dos erros reconhecidos, a anulação do concurso se faz necessária.
Em alinhamento com a proposta de cancelamento da prova, o vereador Edson Chiquini (Cidadania) comentou sobre a desorganização que permeou a aplicação do exame, ocorrida no dia 13 de outubro. Ele apontou a falta de preparo dos fiscais, os atrasos no início da prova e a falta de respeito com as mulheres como fatores que justificam o pedido de anulação. “Se isso ocorrer, solicito também que a Prefeitura reavalie a contratação da FGV para a condução de concursos futuros”, sugeriu Chiquini, enfatizando a necessidade de uma nova banca organizadora.
A vereadora Iza Vicente (Rede) frisou que, apesar de algumas questões de conteúdo misógino terem sido anuladas, uma associação de mulheres já havia solicitado ao Ministério Público (MP) a anulação total do concurso. O pedido se fundamenta na persistência de temas discriminatórios abordados nas questões da prova, incluindo questões que tangem a crianças e religião. “Essa é uma temática extremamente séria. É através da propagação de ideias que colocam as mulheres – ou outros grupos marginalizados – em uma posição inferior que se avança para ações extremas, como a que presenciamos no último fim de semana”, alertou a vereadora.
Iza Vicente fez referência a um feminicídio que ocorreu no último sábado (19) no Centro da cidade, onde uma mulher foi morta com três tiros ao deixar seu trabalho. Segundo informações da polícia, o principal suspeito é o ex-parceiro da vítima, que teria reagido de forma violenta após ser rejeitado ao tentar retomar o relacionamento. O vereador Luiz Matos (Cidadania) também expressou sua indignação e pediu um minuto de silêncio em homenagem à vítima, Williana Chaves Barbosa, de 28 anos. O pedido foi acolhido no final da sessão, demonstrando a solidariedade da Casa Legislativa nesse momento de luto.
O descontentamento com o concurso público da prefeitura de Macaé reflete não apenas a insatisfação com a organização do exame, mas também uma preocupação mais ampla com a representação de gênero e a dignidade das mulheres na sociedade. As discussões no legislativo são um sinal claro de que as questões femininas precisam ser priorizadas, não só em eventos que envolvem a seleção de profissionais, mas em todas as esferas da vida pública.
A aprovação da moção de repúdio evidencia a necessidade de ações concretas e da promoção de um ambiente que não apenas respeite, mas que também valorize as mulheres, evitando a perpetuação de estigmas e preconceitos. As consequências dos atos e conteúdos discriminatórios podem ser graves, e a Câmara de Vereadores de Macaé demonstra que está atenta às demandas da comunidade e pronta para agir.