Investir em energia solar na Amazônia: um desafio para garantir o acesso à eletricidade
A Amazônia, além de sua rica biodiversidade, também enfrenta desafios no que diz respeito ao acesso à energia elétrica. Para solucionar esse problema, o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) realizou um estudo inédito que avalia os recursos necessários para levar energia solar para a região.
Segundo a nota técnica intitulada “Análise dos recursos disponíveis e necessários para universalizar o acesso à energia elétrica na Amazônia Legal”, o investimento necessário para fornecer eletricidade para cerca de um milhão de pessoas na Amazônia é estimado entre R$ 7,2 e 38 bilhões. Esse investimento é baseado no objetivo proposto pelo Programa Luz para Todos (LpT) de usar exclusivamente fontes renováveis para atender às necessidades de comunidades, escolas, e outros centros comunitários.
A região da Amazônia Legal deve receber eletricidade por meio de fontes renováveis até 2028, beneficiando cerca de 226 mil unidades consumidoras. Essa abordagem busca garantir o acesso sustentável à energia elétrica, levando em consideração as particularidades da região, como o difícil acesso e os ecossistemas sensíveis.
De acordo com André Luis Ferreira, diretor-executivo do IEMA, a decisão de priorizar o fornecimento exclusivo de energia renovável é coerente com o objetivo de garantir o acesso sustentável à energia elétrica. Além disso, essa abordagem fortalece as cadeias de produção e serviços relacionados às fontes renováveis na Região Norte do país, promovendo o desenvolvimento regional.
Para atender a todas as unidades consumidoras da Amazônia Legal, serão necessários entre 3,7 e 15,7 milhões de equipamentos de geração de energia solar fotovoltaica e baterias. Os módulos fotovoltaicos são os equipamentos mais demandados, com a necessidade de 2,2 a 8,4 milhões de unidades. Já as baterias de chumbo-ácido são o segundo equipamento mais necessário.
É importante ressaltar que o sistema fotovoltaico requer um maior número de baterias de chumbo-ácido em comparação com as de íon-lítio para armazenar a mesma quantidade de energia. No entanto, o custo unitário das baterias de chumbo-ácido reduz o valor total das instalações. Optar pelas baterias de íon-lítio, mais eficientes, aumentaria substancialmente o custo total, representando um acréscimo de aproximadamente 17% no custo de armazenamento.
O custo médio estimado por unidade consumidora é de R$ 47 mil para sistemas individuais de geração de energia elétrica com fonte intermitente de 45 kWh/mês e R$ 142 mil para sistemas de 180 kWh/mês. O primeiro apenas atenderia às necessidades básicas de iluminação, refrigeração e comunicação, enquanto o segundo possibilitaria o desenvolvimento de atividades produtivas em nível familiar.
Para financiar o Programa Luz para Todos, os recursos estão previstos na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que contribui com 90% do valor, enquanto os 10% restantes vêm das distribuidoras. Desde 2020, mais de R$ 600 milhões foram repassados às distribuidoras para a instalação de sistemas fotovoltaicos com armazenamento por baterias.
No entanto, financiar essa política pública é um desafio devido ao orçamento limitado da CDE e o aumento desses recursos pode impactar diretamente a conta de energia das pessoas. É necessário estabelecer prioridades e alocar os recursos disponíveis de forma estratégica, reconsiderando subsídios para fontes fósseis e direcionando-os para a universalização do acesso à energia elétrica.
Investir em energia solar na Amazônia é essencial para promover o desenvolvimento sustentável da região e garantir o acesso à eletricidade para as comunidades que ainda vivem no escuro. Além disso, essa transição energética fortalece a cadeia de produção e serviços relacionados às fontes renováveis na Região Norte do país, impulsionando o desenvolvimento regional. Com o compromisso e o investimento adequado, é possível levar energia limpa e sustentável para toda a Amazônia.