O 3º Festival da Jóia está programado para o próximo final de semana, nos dias 23 e 24 de novembro, no Butantã, na Zona Oeste de São Paulo. Este evento, que é gratuito e aberto ao público, trará uma variedade de atividades, incluindo oficinas de permacultura, uma programação musical diversificada, encontros literários, manifestações culturais populares e debates.
O festival é parte das celebrações do Dia do Rio e convida a comunidade a se envolver no movimento de regeneração ambiental e social, um esforço realizado desde 2017 por um grupo de moradores denominado Gente Jóia. Este coletivo busca o reconhecimento do local como Parque Urbano Municipal.
Além da comunidade local, diversas organizações e instituições participaram do esforço de transformação da área, incluindo a Fundação S.O.S. Mata Atlântica, o IPESA, a OS3 Arquitetura e Urbanismo, Permacultores Urbanos, Waterlution Brasil, Heineken, a Subprefeitura do Butantã, e o CEU Butantã.
Transformação de uma área em risco para um Parque Urbano Municipal
A história da área que hoje compreende o Parque da Jóia reflete os desafios enfrentados por muitos centros urbanos no Brasil, como o planejamento ineficaz, a gentrificação e desigualdade social. Em 1980, o local era ocupado pela Favela Jóia, onde os moradores enfrentavam problemas diários, incluindo deslizamentos, tráfico de drogas e violência.
No início dos anos 1990, um movimento habitacional conseguiu conquistar a construção de um conjunto habitacional nas proximidades, proporcionando moradias dignas aos ex-moradores da favela. Com a saída dessas famílias, a área foi aterrada e, após anos de acúmulo de entulho, assumiu o formato plano que se vê atualmente.
A prefeitura criou uma pequena praça, mas a parte mais baixa do vale ficou abandonada, enquanto um córrego que carregava esgoto a céu aberto continuava a correr pelo fundo do vale. Com o tempo, as nascentes começaram a ressurgir, juntando-se ao esgoto, resultando em uma contaminação significativa, já que esse córrego é afluente do Córrego da Água Podre, que, por sua vez, alimenta o Rio Pinheiros.
Em 2013, um novo grupo de moradores começou a se mobilizar para que a área fosse reconhecida como uma praça pela administração pública, mas esse movimento acabou perdendo força com o tempo e se dispersou.
A partir de 2017, um novo coletivo, focado na permacultura, começou a surgir com o nome de Gente Jóia. Em 2018, foi promovido o 1º Festival da Jóia, que teve como objetivo sensibilizar a comunidade para a importância da transformação do espaço. Em 2019, o segundo festival ficou marcado por intervenções artísticas como grafite e a intensificação dos mutirões nas áreas das nascentes. Esses encontros ajudaram a criar um ambiente favorável, onde os moradores passaram a se reunir para realizar compostagem de resíduos sólidos no parque.
Esses mutirões fortaleceram os vínculos entre os moradores e impulsionaram uma série de conquistas, incluindo a proposta de um projeto de lei apresentada pelo então vereador Aurélio Nomura em 2022, que visava transformar a área em parque municipal; a inclusão do local no PLANPAVEL – Plano Municipal de Áreas Protegidas, Áreas Verdes e Espaços Livres também em 2022; e o reconhecimento como ZEPAM (Zona Especial de Proteção Ambiental) dentro do novo plano diretor municipal de São Paulo, que foi implementado em 2023.
À medida que os anos se passaram, as iniciativas de permacultura e os mutirões obtiveram crescimento e se tornaram uma prática recorrente entre os moradores, que passaram a formar novas parcerias com instituições como a S.O.S. Mata Atlântica, Heineken, IPESA, OS3 Arquitetura e Urbanismo, Waterlution Brasil, e incluíram diversos outros atores sociais, como os alunos do CEU Butantã e a Subprefeitura local.
Recentemente, este ano, o subprefeito do Butantã oficializou a gestão participativa do espaço através de uma portaria. Com isso, um comitê gestorial foi formado, estabelecendo um projeto colaborativo para o futuro do parque, que está em desenvolvimento utilizando metodologias de planejamento permacultural, adaptadas ao contexto urbano da área.
Programação do Festival
No sábado, 23, diversas oficinas permaculturais estão agendadas, que incluem o manejo das nascentes, cultivo de espécies nativas da Mata Atlântica na agrofloresta urbana existente e a criação de jardins de chuva, uma técnica que promove a infiltração da água no solo, ajudando na recarga do lençol freático e na redução de enchentes. Também haverá atividades de compostagem de resíduos sólidos e um mutirão de limpeza na mata e na praça. Durante o dia, acontecerão as rodas de conversa “A Gente da Água”, com a participação de crianças e jovens do CEU Butantã, e “Permacultura, que bicho é esse?”, conduzida por agentes ambientais.
No segundo dia do festival, que ocorre no domingo, 24, a programação cultural estará em destaque, com a participação de músicos e grupos de cultura popular da região. Entre as atrações estão o Balé Popular Cordão da Terra (Jongo), Maracatu Bloco de Pedra, Duo Alma de Gato (MPB) e Tesouro da Angola (Capoeira). Também estão programadas leituras e performances de poesias que explorarão temas de regeneração e reconexão com a natureza.
Este evento celebrará a finalização de dois projetos voltados para a melhoria da bacia hidrográfica do rio Pinheiros, que foram implementados no parque ao longo deste ano, por meio de um edital da S.O.S. Mata Atlântica, com o apoio da Heineken. O primeiro projeto, intitulado “A Gente da Água”, envolveu 90 alunos do CEU Butantã, com idades entre 12 e 13 anos, que participaram de um programa de educação ambiental. Durante três meses, eles visitaram as nascentes locais e formularam propostas colaborativas para o “Parque da Jóia”.
O segundo projeto introduziu os ‘Jardins de Chuva’. Os trabalhos foram desenvolvidos em parceria com a comunidade local e outras instituições, como o IPESA – Instituto de Projetos Socioambientais, Waterlution Brasil, a OS3 Arquitetura e Urbanismo, bem como o coletivo Permacultores Urbanos.
Por fim, o evento encerrará com a formatura de 24 agentes ambientais, que participaram de um curso em Permacultura (PDC) e que atuaram em projetos contínuos no parque ao longo de 2024. Essa formação visa capacitar os agentes para implementar projetos de restauração em áreas degradadas e está integrada à pesquisa-ação do projeto de doutorado ‘Permacultura Urbana como Ferramenta de Regeneração Socioambiental’, desenvolvido por um morador da comunidade, Vinicius Pereira, que é especialista em educação para sustentabilidade e permacultura.
Detalhes do 3º Festival da Jóia
- Datas: 23/11, sábado, das 9h às 13h e 24/11, domingo, das 14h às 19h
- Entrada: Gratuita
- Local: Parque da Jóia (Rua Moisés Martins da Silveira, 177 – Butantã, São Paulo)
- Mais informações: Instagram – @parquedajoia