Estudo revela que brilho prejudica desenvolvimento de planta em água

glitter metais

Glitter prejudica o crescimento de planta aquática, mostra estudo

O glitter tem sido amplamente utilizado como matéria-prima em roupas, adereços, peças de decoração, cosméticos e maquiagens. Sua popularidade atinge o auge durante o Carnaval. No entanto, toda essa luminosidade não vem sem consequências. Nos últimos anos, a comunidade científica tem tratado o glitter como um poluente emergente. Isso porque essas partículas de microplástico, com menos de 5 milímetros, não são filtradas pelos sistemas tradicionais de tratamento de água e acabam sendo lançadas diretamente em rios e oceanos, afetando a vida aquática em diferentes aspectos.

Um estudo conduzido pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com apoio da FAPESP, identificou um problema adicional. Além de plástico, as partículas de glitter também carregam metais, como o alumínio. De acordo com os resultados divulgados no New Zealand Journal of Botany, esse metal presente no glitter pode alterar a passagem de luz pela água e comprometer a fotossíntese, afetando o crescimento de uma das espécies mais comuns de macrófitas no Brasil, a Egeria densa, também conhecida como elódea.

As macrófitas são plantas aquáticas visíveis a olho nu que servem de abrigo e alimento para diversas espécies, produzem oxigênio e podem até ser usadas como biofiltro em projetos de fitorremediação. A elódea é muito utilizada na ornamentação de aquários e lagos artificiais.

O estudo foi realizado por meio de ensaios de laboratório na UFSCar, utilizando 400 unidades da macrófita submersa aclimatadas em água do reservatório Monjolinho. O glitter utilizado no experimento foi do tipo comercial, com área de superfície média de 0,14 milímetro quadrado.

Foram testadas quatro combinações: macrófitas na presença de glitter com e sem luz, e macrófitas na ausência de glitter com e sem luz. As taxas fotossintéticas de cada grupo foram analisadas utilizando um método conhecido como “frasco claro e escuro”. Os frascos “claros” foram expostos à radiação fotossinteticamente ativa, enquanto os “escuros” foram protegidos para bloquear qualquer luz e foram usados para calcular as taxas de respiração.

Os resultados do experimento mostraram que as taxas fotossintéticas da Egeria densa foram 1,54 vez maiores na ausência de glitter, responsável por reduzir a intensidade luminosa que incidia no interior dos frascos. Os processos respiratórios das plantas também foram diminuídos, embora não de forma tão significativa.

Luana Lume Yoshida, primeira autora do estudo, afirma que essas descobertas apoiam a hipótese inicial de que a fotossíntese poderia sofrer interferências do glitter, devido à reflexão da luz pela superfície do metal presente nos microplásticos. Atualmente, Yoshida é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da UFSCar.

Marcela Bianchessi da Cunha-Santino, integrante da coordenação do Laboratório de Bioensaios e Modelagem Matemática (LBMM) da UFSCar, ressalta que já existem referências na literatura científica sobre a contaminação da água e o consumo dessas partículas de glitter por diversos organismos aquáticos. Ao analisar todas essas peças, é possível traçar um panorama do funcionamento do ecossistema como um todo e entender o impacto na cadeia alimentar dos ambientes aquáticos.

Irineu Bianchini Jr., também coordenador do LBMM, destaca a importância de conscientizar a população sobre as alterações nas taxas de fotossíntese causadas pelo glitter, relacionando-as às mudanças que nos afetam diretamente. Ele ressalta que já existem alternativas mais sustentáveis de adereços, e por que não fazer a mudança desde já?

Com um “banco de dados” robusto, políticas públicas podem ser formuladas para promover um consumo mais consciente desse tipo de material. O estudo realizado pela UFSCar contribui para essa compreensão e chama a atenção para a necessidade de preservação dos ambientes aquáticos e redução dos impactos do glitter.

Portanto, é importante repensar o uso do glitter e buscar alternativas mais sustentáveis para garantir um Carnaval mais consciente e preservar os ecossistemas aquáticos. É necessária a conscientização de todos para protegermos não apenas a vida aquática, mas também o meio ambiente como um todo.

Confira o estudo completo intitulado “Interference of glitter with the photosynthetic rates of a submerged macrophyte, Egeria densa”.

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