Desflorestamento reduz na Amazônia, porém incêndios geram preocupação.

Desmatamento Amazônia

Desmatamento na Amazônia registra queda, mas queimadas continuam preocupando

No período de agosto de 2023 a julho de 2024, a Amazônia apresentou a menor taxa de alertas de desmatamento desde 2016, de acordo com dados do Sistema DETER (Detecção de Desmatamento em Tempo Real) divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A redução foi de 45,7%. Por outro lado, o número de queimadas explodiu na Amazônia no mês de julho.

A área de alertas de desmatamento em 2024 na Amazônia Legal abrange uma área de quase 4.315 km2. O estado do Pará apresentou a maior redução absoluta, seguido por Amazonas e Rondônia, que também mostraram quedas importantes. Caso a queda se confirme no dado final, o Brasil estará muito perto de cumprir sua meta para 2025 no Acordo de Paris.

Para Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), a queda significativa no desmatamento é um marco impressionante, especialmente quando comparado ao ano passado, em que os números desceram de 7.952 km² para 4.314,76 km².

Entretanto, Ane aponta preocupação com os dados apresentados durante o mês de julho, quando foram registrados 666 km² de alertas de desmatamento na Amazônia, um aumento de 33% em comparação com o mesmo mês de 2023 (500 km²). “Todos os outros meses tiveram uma redução nos alertas. Por exemplo, em março, abril e maio, a redução foi significativa, mas em julho houve um aumento, indicando um avanço em áreas com menos fiscalização neste período”, analisou Alencar.

Além da tendência de alta no desmatamento, entre os dias 1 e 31 de julho, foram registrados 11.145 focos de queimadas no bioma, o maior número para o mês desde 2005, de acordo com dados do Deter. O registro é 93% maior que os 5.772 focos registrados em julho do ano passado e 111% maior que a média para o mês nos últimos 10 anos (5.272).

O número de focos de queimadas acumulado em 2024 na Amazônia também é o maior desde 2005. O dado é o quarto maior da série histórica do Deter, iniciada em 1998, sendo superado apenas pelos anos de 2003, 2004 e 2005. Naqueles anos, porém, a Amazônia tinha níveis muito mais altos de desmatamento, que é historicamente associado a queimadas. Em 2024, por outro lado, o desmatamento está em queda.

A coordenadora de Florestas do Greenpeace Brasil, Cristiane Mazzetti, analisa que o período é de extrema atenção, uma vez que a Amazônia já registra recorde de queimadas e deverá passar por uma seca sem precedentes.

“A situação dos próximos meses não traz otimismo, já que a Amazônia está em seu período de estiagem e deve passar por mais um episódio de seca extrema, a exemplo do ocorrido no ano passado. Ou seja, não é hora de baixar a guarda, governo federal e estaduais precisam intensificar os esforços de prevenção do fogo, redução do desmatamento, além de aumentar o rigor para punir criminosos ambientais”, comenta Mazzetti.

Cerrado em risco

O Observatório do Clima alerta que o bioma do Cerrado sofre com uma realidade inversa à da Amazônia: ali os alertas de desmatamento foram os maiores da série iniciada em 2018, com 7.015 km2, uma alta de 9% em relação ao ano passado – que já era o recorde das medições do Deter-B.

No Cerrado, o aumento dos focos de queimadas e de incêndios no mês de julho também bateu recorde. Esse quadro sugere que a destruição para a produção de carne e soja pode estar “vazando” da floresta para a savana, onde há menos controle do governo federal porque as terras são quase todas privadas, o limite legal de desmatamento é maior e as licenças para corte de vegetação são mais facilmente concedidas pelos estados.

Os estados do chamado Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) concentraram 75% da área sob alertas de desmatamento no bioma. A região abriga atualmente a principal fronteira de expansão agrícola do país. Mas, apesar do aumento de 9%, o Cerrado apresentou uma redução sucessiva mês a mês a partir de janeiro de 2024. O plano de combate ao desmatamento, PPCerrado (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado), foi iniciado em novembro de 2023.

Pantanal

No Pantanal, que vem sendo atingido por grandes incêndios em 2024, foram registrados 1.158 focos de queimadas entre 1 e 31 de julho, um aumento de 820% em comparação a julho do ano passado.

O valor é menor que o de 2020 (1.684 focos) – ano no qual incêndios devastadores atingiram 30% da área do bioma. Mas, em 2024 – de 1 de janeiro a 31 de julho -, o Pantanal já acumula 4.756 focos, ultrapassando os 4.218 focos detectados em 2020. O número de queimadas acumuladas em 2024 é 610% maior que a média dos últimos três anos (661 focos).

De acordo com um boletim semanal publicado pelo governo Federal, entre 1 de janeiro e 28 de julho a área queimada no Pantanal foi de 635 mil a 907 mil hectares (de 4,2% a 6% da área total do bioma). Segundo o documento, 84% dos incêndios no bioma em 2024 ocorreram em áreas privadas, 9,1% em Terras Indígenas e 5,5% em Unidades de Conservação Federais e Estaduais.

Desde o fim do ano passado, com a seca extrema impulsionada pelo forte El Niño de 2023, os incêndios têm batido recordes no Pantanal. No início de abril, especialistas já alertavam que o bioma poderia passar, em 2024, por uma de suas piores secas da história, já que foi atingido por uma seca extrema em plena temporada de cheias.

“A situação dos próximos meses não traz otimismo, já que a Amazônia está em seu período de estiagem e deve passar por mais um episódio de seca extrema, a exemplo do ocorrido no ano passado. Ou seja, não é hora de baixar a guarda, governo federal e estaduais precisam intensificar os esforços de prevenção do fogo, redução do desmatamento, além de aumentar o rigor para punir criminosos ambientais”, comenta Mazzetti.

Olhos em Brasília

Para o Observatório do Clima, os bons resultados alcançados estão sob ameaça de diversas atuações por parte do Executivo e do Congresso, que tentam passar pelo menos 25 projetos de lei e três emendas constitucionais ao chamado Pacote da Destruição.

“Se aprovados, esses projetos tornarão impossível o controle do desmatamento, relegando as quedas de 2023 e 2024 a um voo de galinha”, afirma a organização. “Além da bancada ruralista, alguns ministros de Lula vêm se empenhando para arrasar o maior patrimônio dos brasileiros, aumentar o risco climático para toda a humanidade e de quebra queimar o filme do chefe com a comunidade internacional, que espera liderança do anfitrião da COP30. A essa turma se juntou parte do STF, propondo rasgar os direitos dos povos indígenas assegurados pela Constituição em nome de uma ‘conciliação’ com quem quer saquear suas terras”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

O grupo ainda chama atenção para os perigos da aprovação da pavimentação da BR-319 (Manaus-Porto Velho) sem condicionantes ambientais críveis, a greve do Ibama (que reduziu a fiscalização) e a própria crise climática.

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