Crise climática pode cortar PIB global em 50% até 2090

incendios em Los Angeles Banco Bank of America
Banco do América destruído pelo fogo em Los Angeles
Agência do Bank of America destruída pelo fogo em Los Angeles, em janeiro de 2025. Foto: RS | Fotos Públicas

A emergência climática representa uma questão premente que exige a adoção de medidas imediatas para lidar com suas causas e mitigar seus efeitos. Contudo, o financiamento destinado a estratégias de ação climática é frequentemente considerado um obstáculo, em vez de uma ferramenta. Para líderes globais e do setor corporativo que priorizam a economia acima de tudo, um novo argumento pode ser o catalisador necessário para desbloquear os investimentos que garantirão um futuro viável para a humanidade: as mudanças climáticas têm potencial para reduzir em até 50% o produto interno bruto (PIB) global entre 2070 e 2090, a menos que ações contundentes de descarbonização e restauração ambiental sejam implementadas de forma imediata.

Este alerta surge de um relatório recente elaborado por especialistas em gestão de risco do Institute and Faculty of Actuaries (IFoA), que eleva substancialmente a estimativa de risco para a economia global, considerando os impactos das mudanças climáticas, como incêndios florestais, inundações, secas, aumento da temperatura e colapsos ambientais.

No relatório, realizado em parceria com cientistas da University of Exeter e publicado na última quinta-feira, o IFoA recorre à matemática e à estatística para investigar o risco financeiro afeto a empresas e governos. As conclusões reforçam um apelo por uma ação mais rápida dos líderes políticos no enfrentamento da crise climática.

Líderes mundiais na crise climática
Líderes mundiais sendo encobertos pela água em protesto no Rio de Janeiro, clamando por ações efetivas dos países ricos em relação à emergência climática. Foto: Apib

O relatório foi divulgado após dados do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S) da UE revelarem que a temperatura global ultrapassou pela primeira vez, em 2024, a meta de 1,5 °C consensuada internacionalmente, exacerbando as condições climáticas extremas que já enfrentamos.

Se não houver uma intervenção rápida voltada para acelerar a descarbonização, retirar carbono da atmosfera e reparar a natureza, a economia global poderá enfrentar a perda de até 50% em suas capacidades nas duas últimas décadas antes de 2090.

O relatório indica que as avaliações de risco climático, frequentemente utilizadas por instituições financeiras, políticos e servidores públicos, têm se mostrado inadequadas, pois ignoram os impactos severos associados às mudanças climáticas, como pontos de inflexão críticos, aumento da temperatura do mar, migrações em massa e conflitos gerados pelo aquecimento global.

Enchentes no Rio Grande do Sul
Policiais e voluntários auxiliam no resgate de vítimas durante enchentes em Porto Alegre, em maio de 2024. Foto: Rafa Neddermeyer | Agência Brasil

Caso esses riscos sejam devidamente considerados, o mundo pode se deparar com um crescente potencial de “insolvência planetária”, uma situação em que os sistemas da Terra estejam tão comprometidos que a humanidade não consiga mais obter os serviços essenciais necessários para sustentar a vida em sociedade.

Efeitos além do aspecto financeiro

Se as temperaturas aumentarem em 3 °C ou mais até 2050, o cenário poderá ser alarmante: mais de 4 bilhões de mortes, desintegração sociopolítica em escala global, falência de estados e eventos de extinção em massa. Desta forma, a afirmação de Sandy Trust, principal autor do relatório, de que não existe um plano viável para evitar essa catástrofe, destaca a gravidade da situação. Ele defende que as estimativas econômicas atuais, que afirmam que os prejuízos decorrentes do aquecimento global seriam limitados a 2% da produção econômica global para um aumento de 3°C na temperatura média, são equivocadas e têm ofuscado a percepção dos riscos reais que as políticas em vigor impõem.

Destroços de incêndios em Los Angeles
Destroços deixados pelos incêndios em Los Angeles, em janeiro de 2025. Foto: RS | Fotos Públicas

“Não é viável manter uma economia sem uma sociedade, e uma sociedade depende de um local habitável”, afirmou Trust. Ele ressaltou a importância da natureza como a base que nos fornece alimento, água e ar. Além disso, recursos e energia que sustentam nossas economias. Perigos à estabilidade desse suporte fundamental representam riscos à prosperidade futura, os quais precisamos urgentemente abordar.

O relatório intitulado Planetary Solvency – finding our balance with nature (Solvência Planetária – encontrando nosso equilíbrio com a natureza, em português) questiona a teoria econômica predominante que foca no que a humanidade pode extrair do planeta para gerar crescimento, desconsiderando os efetivos perigos da degradação ambiental para as sociedades e suas economias. O estudo exige uma mudança de paradigma por parte de líderes políticos, servidores públicos e governos na luta contra o aumento da temperatura global.

De acordo com o documento, “Líderes e formuladores de políticas ao redor do mundo precisam compreender por que essas alterações são essenciais. Esses extremos devem guiar suas decisões… atualmente, os tomadores de decisão parecem incapazes de perceber os sinais de alerta referentes aos riscos que ameaçam o progresso humano ou relutam em agir com a urgência que a situação exige.”

Moradores filipinos enfrentando desastres
Moradores enfrentando enchentes nas Filipinas. Foto: Noel Celis | IFRC

Para subsidiar os formuladores de políticas na condução das atividades humanas dentro dos limites sustentáveis do planeta, o relatório sugere a criação de um painel de risco de solvência planetária.

O Professor Tim Lenton, que preside o departamento de ciência de mudanças climáticas e sistemas terrestres na Universidade de Exeter e é coautor do estudo, afirmou que as estratégias atuais têm falhado em avaliar adequadamente os riscos crescentes planetários ou controlar esses desafios. A solvência planetária aplica metodologias já utilizadas por especialistas em riscos ao nosso sistema de suporte à vida, que se encontra em uma situação crítica. Ela proporciona uma visão clara dos riscos globais e ajuda na priorização de ações para mitigá-los.

Incêndios em Los Angeles: prejuízos estimados em US$ 200 bilhões

Outro exemplo contundente acerca do ônus da inação em relação à emergência climática são os recentes incêndios em Los Angeles. As perdas, tanto de vidas humanas quanto de fauna, deveriam ser a principal razão para ações imediatas, mas, para aqueles que buscam justificativas econômicas, há uma previsão de prejuízos superiores a US$ 200 bilhões.

Incêndios em Los Angeles em 2025
Foto: RS | Fotos Públicas

Conforme relatos da Earth.org, os incêndios consumiram mais de 40.000 acres, uma área superior à de São Francisco, e mais de 12.300 edificações foram reduzidas a cinzas.

As estimativas oficiais sobre os danos ainda não foram divulgadas; porém, meteorologistas da AccuWeather projetam que o custo dos incêndios florestais pode variar entre US$ 250 bilhões e US$ 275 bilhões, superando as projeções iniciais que estavam entre US$ 135 bilhões e US$ 150 bilhões.

Os danos econômicos abrangem não apenas a destruição de bens imóveis de alto valor, mas também a perda de negócios, despesas de relocação, perda de empregos e custos associados ao atendimento de emergências médicas a curto e longo prazo, decorrentes de ferimentos ocasionados pelo incêndio e pelos efeitos da poluição do ar recebida pela fumaça.

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