Contaminação por agrotóxicos e metais afeta moradores do Mato Grosso do Sul.

agrotóxicos cerrado

Moradores do Mato Grosso do Sul estão expostos a altos níveis de contaminação por agroquímicos e metais, de acordo com uma pesquisa realizada pela Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB), projeto do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ). A pesquisa, que contou com a coleta de amostras biológicas de seres humanos, revelou a presença de cinco agroquímicos, sendo dois organofosforados (glifosato e malathion) e três organoclorados (pp’DDD, dieldrin e beta-BHC).

O estudo foi conduzido em dois municípios do estado, Nova Alvorada do Sul e Nova Andradina, e contou com a participação de 94 moradores. Desses, 36 testaram positivo para algum agrotóxico, e em alguns casos, mais de um químico foi encontrado. Essa combinação de agroquímicos é conhecida como ‘coquetel de agroquímicos’ e seus efeitos ainda são pouco conhecidos. No entanto, a interação entre os produtos químicos pode ser ainda mais perigosa.

Um dos agrotóxicos detectados foi o glifosato, herbicida amplamente utilizado no Brasil e considerado potencialmente cancerígeno. Dos participantes testados, 25 apresentaram presença de glifosato em suas amostras de urina. É importante ressaltar que os limites de utilização do herbicida no Brasil são significativamente mais altos do que em outros países. Enquanto o limite máximo de glifosato na água na União Europeia é de 0,1 µg/l, no Brasil é de 500 µg/l, ou seja, 5.000 vezes maior.

Além dos agroquímicos, a pesquisa também detectou a presença de metais nos moradores testados. Quatro participantes apresentaram níveis de cobre acima do limite máximo esperado, e 18 apresentaram presença de mercúrio. Embora os metais estejam naturalmente presentes no ambiente, sua exposição prolongada pode gerar efeitos tóxicos. O cobre e o mercúrio são classificados como Grupo 3 – carcinogenia não classificável pela International Agency for Research on Cancer (IARC), devido à falta de evidências suficientes em humanos e animais.

Os resultados da pesquisa ressaltam a necessidade de medidas individuais e coletivas para lidar com a contaminação por agroquímicos e metais. Em nível individual, é importante observar os resultados dos exames e buscar ajuda médica em caso de alterações. Coletivamente, é essencial conscientizar os trabalhadores rurais sobre a importância do uso de equipamentos de proteção individual durante o manejo do solo e dos agroquímicos.

Os dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) mostram que a região Centro-Oeste é a que mais comercializa agrotóxicos no país, e o Mato Grosso do Sul é o sexto estado que mais vende essas substâncias. Esses números ressaltam a urgência de se repensar as práticas agrícolas e adotar medidas mais sustentáveis e seguras para o meio ambiente e para a saúde humana.

É importante lembrar que o Brasil é um dos líderes mundiais no consumo de agrotóxicos. Recentemente, o Projeto de Lei 1459/2022, conhecido como PL do Veneno, foi aprovado pelo Senado e sancionado pelo presidente Lula. Esse projeto flexibiliza a aprovação de novos agroquímicos, o que pode aumentar ainda mais a presença dessas substâncias nos ecossistemas.

Diante desse cenário, é fundamental que tanto as comunidades rurais quanto os gestores locais e conselhos se unam para pressionar por práticas agrícolas mais responsáveis e por alternativas para reduzir a contaminação por agroquímicos e metais. A conservação ambiental e a segurança humana devem ser prioridades na produção agrícola, levando em consideração os impactos que essas substâncias podem ter na fauna, na flora e nas comunidades humanas.

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