Condições climáticas paralisaram aulas de 242 milhões de alunos em 2024

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Impactos da Crise Climática na Educação Global em 2024

Escola inundada em Burundi, África
Escola na província de Bujumbura, Burundi, completamente inundada pelas cheias. Foto: IOM 2021 | Triffin Ntore

Em 2024, cerca de 242 milhões de estudantes distribuídos por 85 países enfrentaram prejuízos em sua vida escolar devido a eventos climáticos extremos. Fenômenos como ondas de calor, ciclones tropicais, tempestades, inundações e secas acentuaram uma crise educacional que já existia. A informação é revelada por um novo relatório do UNICEF divulgado na última sexta-feira. No Brasil, aproximadamente 1,1 milhão de crianças e adolescentes tiveram suas atividades acadêmicas interrompidas, especialmente em decorrência de enchentes.

Este estudo, intitulado Learning Interrupted: Global Snapshot of Climate-Related School Disruptions in 2024, foi lançado em comemoração ao Dia Internacional da Educação. Ele investiga os eventos climáticos que acarretaram o fechamento de escolas ou interrupções significativas nas atividades escolares, além de examinar o impacto em estudantes da Educação Infantil até o Ensino Médio.

No Brasil, foram analisados dois cenários distintos. As enchentes no Rio Grande do Sul afetaram mais de 2 mil escolas estaduais, resultando na interrupção das aulas para aproximadamente 741 mil alunos durante o período das inundações. Ao mesmo tempo, na Amazônia, a seca atingiu cerca de 1.700 escolas, incluindo mais de 100 localizadas em áreas indígenas, levando à suspensão prolongada das atividades, o que impactou 436 mil alunos.

As ondas de calor foram identificadas como o maior risco climático para o fechamento das escolas no ano passado, com mais de 118 milhões de estudantes afetados apenas em abril. No mesmo mês, o Bangladesh e as Filipinas relataram fechamentos generalizados de escolas, enquanto no Camboja houve uma redução no horário escolar. Em maio, temperaturas extremas de até 47 graus Celsius foram observadas em áreas do Sul da Ásia, colocando as crianças em situação de risco de insolação.

Crianças nas escolas sob risco climático
Foto: UNICEF | UN0845809 | Tsiory Andriantsoarana

Segundo Catherine Russell, Diretora Executiva do UNICEF, “as crianças são especialmente vulneráveis aos impactos das crises climáticas, incluindo ondas de calor, tempestades, secas e inundações que ocorrem com maior intensidade e frequência”. Ela ressalta que os corpos infantis são mais suscetíveis, uma vez que aquecem mais rapidamente, suam de maneira menos eficiente e esfriam com dificuldade. As crianças encontram dificuldades para se concentrar em salas de aula que não têm proteção contra o calor, além de não conseguirem chegar às escolas quando os caminhos estão alagados ou as instituições são danificadas. No ano passado, o mau tempo fez com que uma em cada sete crianças ficasse fora das aulas, colocando em risco sua saúde e segurança, além de impactar negativamente sua educação a longo prazo.

Alguns países enfrentaram uma combinação de riscos climáticos. O Afeganistão, por exemplo, além das ondas de calor, sofreu inundações repentinas que danificaram ou destruíram mais de 110 escolas em maio, afetando milhares de estudantes. A situação se agravou em setembro, período que marca o início do ano letivo no hemisfério norte, onde pelo menos 16 países suspenderam aulas devido a eventos meteorológicos extremos, como o tufão Yagi, que teve impacto em 16 milhões de crianças na região da Ásia Oriental e do Pacífico.

O Sul da Ásia foi a região mais prejudicada, com 128 milhões de estudantes enfrentando interrupções nas atividades escolares devido ao clima no ano passado. Enquanto isso, na Ásia Oriental e no Pacífico, 50 milhões de estudantes também viram suas rotinas escolares afetadas. O fenômeno do El Niño continuou a causar estragos em partes da África, resultando em chuvas intensas e inundações na África Oriental, ao passo que secas severas assolaram o Sul do continente.

Marcha pelo Clima no Rio de Janeiro
Manifestação Marcha pelo Clima, parte do Ato Global pelo Clima, que alerta sobre a crise climática e eventos climáticos extremos. Foto: Fernando Frazão | Agência Brasil

Os perigos associados ao aumento das temperaturas, tempestades e inundações têm o potencial de danificar tanto as infraestruturas escolares quanto os materiais educativos. Além disso, essas situações dificultam os deslocamentos até as escolas e podem criar ambientes de aprendizagem inseguros, afetando a concentração, a memória e a saúde mental e física dos alunos. Em contextos frágeis, o fechamento prolongado das escolas dificulta o retorno dos alunos, além de aumentar os riscos de casamento e trabalho infantil, especialmente para meninas, que enfrentam riscos desproporcionais de abandono escolar e violência de gênero durante e após catástrofes.

A crise na educação já era evidente antes desses eventos extremos, resultando da escassez de professores qualificados, salas de aula superlotadas e disparidades no acesso e qualidade da educação, problemas que os riscos climáticos só amplificam. A análise demonstra que quase 74% dos estudantes afetados no ano passado estavam em países de baixa e média renda, refletindo que nenhum lugar está imune aos efeitos climáticos. Eventos de chuvas intensas e inundações, por exemplo, atingiram a Itália em setembro, afetando 900 mil estudantes, assim como a Espanha em outubro, que teve 13 mil crianças prejudicadas.

O relatório destaca que muitas escolas e sistemas educacionais não estão devidamente preparados para enfrentar esses impactos, pois os investimentos financeiros focados nas questões climáticas na educação permanecem surpreendentemente baixos. Além disso, os dados globais sobre interrupções das aulas decorrentes de riscos climáticos são limitados e não compreensivos.

Áreas verdes em escolas
Foto: Alana | Divulgação

O UNICEF está colaborando com governos e parceiros para promover a construção de salas de aula que sejam resilientes às mudanças climáticas. Um exemplo é Moçambique, um país frequentemente afetado por ciclones, onde o UNICEF apoiou a construção de mais de 1.150 salas de aula em cerca de 230 escolas, em resposta aos impactos das intempéries que afetam regularmente as crianças.

Em um relatório anterior, o UNICEF já havia alertado que as crises climáticas devem se tornar mais frequentes entre 2050 e 2059, prevendo que até oito vezes mais crianças enfrentarão ondas de calor extremas e três vezes mais estarão expostas a inundações severas em comparação com as últimas duas décadas.

O UNICEF exorta líderes mundiais e o setor privado a tomarem medidas urgentes para proteger as crianças dos impactos crescentes das mudanças climáticas. O organismo recomenda: reforçar os planos climáticos nacionais, incluindo as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), priorizando a educação; investir em instalações educacionais resilientes a desastres; acelerar o financiamento que melhore a resiliência climática na educação; e integrar a educação ambiental em todos os níveis de ensino.

Catherine Russell enfatiza a importância da educação, que frequentemente é um dos serviços prejudicados pelos riscos climáticos, mas que é muitas vezes negligenciada em debates políticos, apesar de ser fundamental para preparar as crianças para um futuro resiliente. “O futuro das crianças deve ser a prioridade em qualquer estratégia ou ação voltada para o clima”, conclui Russell.

Fonte: Guia Região dos Lagos

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