Como a organização das cidades pode facilitar o acesso aos alimentos

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Hortas Urbanas em Curitiba: Um Modelo de Sustentabilidade Alimentar

As hortas urbanas de Curitiba, frequentemente destacadas em reportagens, são um exemplo notável de como a cidade do Paraná tem se tornado uma referência em iniciativas de plantio urbano e compartilhado. Curitiba se orgulha de ter estabelecido a primeira “fazenda urbana” do Brasil, demonstrando os benefícios substanciais da agricultura urbana. Agora, um estudo recente revela um dado relevante que ainda não havia sido amplamente debatido: a influência do planejamento urbano e regional na produção de alimentos saudáveis e acessíveis.

Abordar os desafios e o potencial relacionados à produção, transporte, comercialização, acesso, consumo e descarte de alimentos em nível local e regional é uma estratégia eficaz para combater a crescente inflação dos alimentos, que tem afetado diversas famílias brasileiras. Essa é a conclusão do estudo intitulado “Os caminhos da comida: o papel do planejamento urbano na transformação do sistema alimentar”, que analisou informações dos municípios de Curitiba, da Região Metropolitana e do Litoral Paranaense, descobrindo que essas regiões têm um grande potencial para a implementação de sistemas alimentares mais sustentáveis com o suporte de políticas de planejamento urbano.

O relatório também oferece sugestões sobre como ser mais sustentável e propõe ações que podem servir como modelo para outras cidades do Brasil. Essas recomendações surgiram de uma colaboração entre o Instituto Escolhas, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) e a Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN) da Prefeitura Municipal de Curitiba.

Horta Marumbi em Curitiba, destaque na agricultura urbana
Horta Marumbi, em Curitiba. | Foto: Valdenir Daniel Cavalheiro | Copel

No ano de 2022, a Região Metropolitana de Curitiba e o Litoral conseguiram produzir alimentos suficientes para sustentar 3,5 milhões de pessoas, o que representa quase toda a população da região, que conta com cerca de 3,9 milhões de habitantes. Aproximadamente um em cada três alimentos comercializados na Ceasa em Curitiba provém das áreas da RMC e do Litoral, evidenciando o potencial para desenvolver cadeias curtas de distribuição de alimentos locais. A produção e venda próximas aos consumidores não apenas ajudam a reduzir o desperdício de alimentos e as emissões de CO2, mas também fomentam a criação de empregos e geração de renda na comunidade local.

Curitiba: Modelo de Referência em Agricultura Urbana

Atualmente, Curitiba se destaca por suas políticas voltadas para o incentivo à produção local de alimentos. Somente na capital paranaense, existem 190 hortas urbanas, que incluem 85 hortas escolares, 53 comunitárias e 52 institucionais, beneficiando mais de 39 mil pessoas. Uma das orientações do estudo é que os gestores e planejadores incentivem a utilização sustentável de áreas urbanas e periurbanas subutilizadas para práticas agrícolas, contribuindo assim para a preservação de áreas verdes, o fortalecimento da segurança alimentar e o aproveitamento de terrenos vagos. No total, Curitiba possui 1.506 hectares de áreas potenciais disponíveis, que estão livres de edificações e vegetação, prontas para a expansão da produção sustentável de alimentos.

Agricultura urbana em Curitiba
Hortas urbanas sob linhas da Copel em Curitiba. Foto: Valdenir Daniel Cavalheiro | Copel

De acordo com Jaqueline Ferreira, Diretora de Pesquisa do Instituto Escolhas, é fundamental que a produção de alimentos nas metrópoles se torne uma prioridade nas agendas da gestão pública, devido ao seu caráter estratégico. Ela afirma: “A maior parte da população brasileira reside em áreas urbanas. Investir na produção de alimentos nas metrópoles é essencial para lidarmos com questões urgentes, como a inflação alimentar, a insegurança em relação à alimentação, a geração de empregos e a urgência da mudança climática”. Ferreira acrescenta que, em tempos de inflação elevada, é fundamental que o Brasil apoie e invista na produção de alimentos mais próxima aos consumidores.

Embora a RMC e o Litoral possuam muita experiência para compartilhar, também enfrentam desafios significativos, como revelam os dados da pesquisa. Observou-se uma redução na área cultivada com alimentos essenciais que asseguram a segurança alimentar, como o feijão, cuja área plantada caiu 35% (de 48,8 mil hectares para 31,7 mil hectares). Enquanto isso, a área destinada à soja aumentou em 161% entre 2012 e 2022, saltando de 67 mil hectares para 174,6 mil hectares. Além disso, a pesquisa identificou uma diminuição acentuada no número de propriedades agropecuárias voltadas para a agricultura familiar, com uma redução de aproximadamente 25%, junto com uma diminuição de 9% na área destinada à agricultura familiar, representando uma perda de 21 mil hectares entre 2006 e 2017, além de evidenciar o envelhecimento dos produtores na região.

Condicionantes da Segurança Alimentar

A pesquisa indicou que o índice da população com segurança alimentar na Região Metropolitana de Curitiba é superior à média nacional, que é de 70,3%. Em Curitiba e em sua região metropolitana, o percentual chega a 80,9% e 79,6%, respectivamente, de cidadãos que têm acesso pleno e regular aos alimentos. No entanto, a situação de insegurança alimentar grave ainda representa uma preocupação entre grupos populacionais específicos, como idosos, mulheres e indivíduos pardos, pretos, amarelos e indígenas.

Horta Urbana no Bairro da Caximba, Curitiba
Horta Urbana no Bairro da Caximba, em Curitiba. Na imagem, Edmilson Gomes Xavier, um dos cultivadores da horta. Foto: Daniel Castellano | SMCS

Elizandra Araujo de Oliveira, gerente do setor socioeconômico do IPPUC, destaca a importância de celebrar os aspectos positivos identificados pela pesquisa, resultado das políticas públicas locais voltadas para a promoção da alimentação saudável, e a necessidade de implementar as recomendações do estudo. “Esse estudo irá nos apoiar no desenvolvimento de políticas de planejamento urbano integradas aos desafios da promoção da segurança alimentar e nutricional, visando principalmente aumentar a oferta e facilitar o acesso aos alimentos nas áreas com maiores índices de vulnerabilidade social. O mapeamento das áreas prioritárias para a expansão da rede de equipamentos de segurança alimentar (como feiras, restaurantes, mercados, sacolões populares e hortas urbanas) pode acelerar e facilitar o acesso de famílias que realmente necessitam.”

Direções Futuras

Este estudo, que enfatiza as relações entre planejamento urbano e alimentação saudável, traz sugestões de como Curitiba, sua Região Metropolitana e o Litoral podem se tornar ainda mais sustentáveis. Algumas recomendações incluem garantir políticas públicas que valorizem a agricultura urbana e ampliem o acesso a alimentos saudáveis em áreas de maior vulnerabilidade social, além de promover práticas agroecológicas e sistemas agroflorestais como forma de regeneração de áreas de preservação permanente degradadas.

Agricultores urbanos na Horta Comunitária Vitória Régia, Curitiba
Agricultores urbanos na Horta Comunitária Vitória Régia. Foto: Daniel Castellano / SMCS

Além das iniciativas destacadas, os gestores podem implementar instrumentos que incentivem a função social da propriedade, como a promoção da expansão da agricultura urbana em terrenos privados, especialmente aqueles sem uso. Ou ainda, adotar políticas urbanas que permitam ao município adquirir áreas estratégicas para a instalação de equipamentos voltados à segurança alimentar, incluindo feiras, mercados, sacolões e hortas urbanas, que podem ser inseridos no planejamento das cidades.

Para uma leitura completa das descobertas e recomendações, acesse o estudo na íntegra.

A publicação é uma contribuição significativa para o entendimento de como estratégias de planejamento urbano podem melhorar a acessibilidade e a qualidade dos alimentos nas comunidades.

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