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O projeto Sertão Vivo, que visa a implementação de sistemas de produção resistentes às mudanças climáticas e a instalação de reservatórios de água para uso agrícola, como cisternas e barragens subterrâneas, será realizado no estado do Ceará. Esta iniciativa é pioneira na região e busca proporcionar uma gestão sustentável da terra em áreas do Nordeste brasileiro que são particularmente vulneráveis às variações climáticas.
A princípio, o projeto estava previsto para ser desenvolvido em quatro estados brasileiros, com um investimento inicial de R$ 1 bilhão (aproximadamente US$ 217 milhões). No entanto, o escopo foi expandido para englobar nove estados e um investimento de R$ 1,775 bilhão (cerca de US$ 386 milhões), beneficiando um total de 1,8 milhão de pessoas, com especial atenção à inclusão de mulheres, jovens e comunidades tradicionais.
Entre as ações previstas, o projeto promoverá a criação de sistemas agroflorestais que visam aumentar tanto a fertilidade do solo como o teor de carbono. Além disso, serão incentivadas práticas de coleta e uso eficiente da água, fundamentais para a agricultura e a pecuária em contextos de irregularidade pluviométrica e secas prolongadas. Com essas iniciativas, estima-se que haja uma redução de 11 milhões de toneladas métricas de CO2 na atmosfera, o que corresponde a aproximadamente 339 mil viagens aéreas de São Paulo a Manaus.
O financiamento do projeto é proveniente de um consórcio que inclui o FIDA (Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola das Nações Unidas), o Fundo Verde para o Clima, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e recursos do próprio governo do estado do Ceará.
Impacto na segurança alimentar
A implementação do projeto Sertão Vivo surge em um período crítico para a segurança alimentar brasileira. Segundo a Rede PENSSAN, mais da metade da população nacional enfrentou insegurança alimentar em 2022, sendo que o índice atingiu 63% na população rural. Nas regiões Norte e Nordeste, quatro em cada dez famílias relataram preocupações quanto ao acesso e à qualidade dos alimentos. Uma situação alarmante é a fome que afeta 2,4 milhões de pessoas no Ceará.
De acordo com Rossana Polastri, diretora regional do FIDA para a América Latina e Caribe, “a agricultura familiar desempenha um papel vital na transformação dessa realidade, sendo responsável pela produção da maior parte dos alimentos consumidos pelos brasileiros e empregando três quartos da força de trabalho agrícola”. Ela acrescenta que é imprescindível apoiar esses agricultores para que possam aumentar sua resiliência e produtividade diante das mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que são promovidas técnicas de produção mais sustentáveis.
No total, o projeto impactará 63.111 famílias em 72 municípios do Ceará, com um investimento de R$ 251,6 milhões voltado para o fortalecimento da agricultura familiar. As estratégias serão agrupadas em três grandes vertentes: financiamento de sistemas produtivos adaptados ao clima, acesso a água para as atividades produtivas e gestão do conhecimento para ampliar essas iniciativas.
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, ressaltou que “a ampliação do aporte financeiro reafirma o compromisso da instituição no combate à crise climática, que provoca tragédias cada vez mais frequentes”. Ele enfatizou que esse novo recurso assegurará que os benefícios do projeto sejam distribuídos por todos os estados da região Nordeste, atendendo à conservação dos diversos biomas nessa área.
Esta iniciativa representa, para o FIDA, um modelo operacional inovador ao unir a captação de financiamento em larga escala com investimentos voltados para a proteção ambiental e enfrentamento das mudanças climáticas, visando à redução da pobreza nas áreas rurais.
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