Tragédia climática no Rio Grande do Sul: voluntários se unem para ajudar as vítimas
A tragédia climática que atinge o Rio Grande do Sul já é considerada uma das maiores da história do Brasil. As enchentes, que tiveram início no dia 29 de abril, seguem deixando desabrigados e vítimas fatais. Diante disso, voluntários de todo o Brasil têm se reunido para ajudar quem tanto precisa.
Em Cabo Frio, o médico veterinário João Pedro Rangel e o piloto de Jet Ski, Thiago Simas, se reuniram na última semana e, com custeamento próprio, viajaram para o estado gaúcho, onde estão auxiliando nos resgates de pessoas e animais. Eles devem retornar ao Rio de Janeiro até quinta-feira (18).
De acordo com João Pedro, a dupla saiu de Cabo Frio na terça-feira passada, dia 7, com um motorhome, onde ele e Thiago estão hospedados, puxando o Jet Ski e, três dias depois, na sexta-feira (10), chegaram ao município de São Leopoldo, no RS, onde encontraram um cenário estarrecedor. Lá, conheceram um voluntário, motorista de aplicativo, chamado Medina, que os apresentou a um abrigo de animais.
Na cidade, João Pedro e Thiago, com o auxílio de Medina e um policial chamado Dinei, que também conheceram durante o percurso, realizaram diversos resgates em água, além de contribuir com doações e a realização de cuidados aos animais, como, por exemplo, aplicação de vacinas em cães e gatos. Além dos medicamentos que levou consigo, o voluntário criou um Pix para realizar compras para os animais, pois não tinha noção do que encontraria ao chegar no estado.
Nas redes sociais, João compartilhou algumas imagens dos resgates, falando sobre a sensação de ver toda a tragédia que está ocorrendo no estado gaúcho de perto.
“Eu nunca me imaginei viver um cenário desse. Aqui não é televisão, a realidade é outra, o psicológico se destrói e ao mesmo tempo a alma muda, aqui se aprende a ser outra pessoa, a ser humanizado novamente (…)”, disse o médico veterinário.
“Infelizmente, não podemos abraçar o mundo, mas o quanto meus braços abrirem, eu estarei tentando acolher e ajudar. É uma tragédia que não existe explicação, é muita dor e sofrimento deparados aqui, muitas pessoas e animais não conseguiram se salvar e, navegando, você passa por esses corpos sem poder fazer nada, só virar o rosto e pedir piedade por aqueles que já se foram”, complementou João Pedro.
Até esta terça-feira (13), a dupla permaneceu em São Leopoldo realizando resgates. Questionado, o médico veterinário não conseguiu contabilizar ao certo em quantas ocorrências esteve envolvido, mas mencionou três que ficaram marcadas durante a trajetória no estado.
“É difícil a gente conseguir lembrar todos (os animais que resgatamos). Teve um que eu resgatei em cima do telhado que foi bem marcante, porque ele estava bem agressivo, mas, na hora que ele viu que não estava aguentando mais, que estava quase caindo do telhado na água, ele mesmo veio pedir socorro. Teve alguns que nós fizemos junto com o Corpo de Bombeiros e a (ocorrência) que mais me marcou hoje (segunda-feira, 13) foi do senhor que o filho dele pediu ajuda para que a gente resgatasse ele, que tinham dez dias que ele não tinha notícia do pai, do senhor chamado Silvio, de 71 anos, no bairro Campinas, em São Leopoldo. Só que, quando a gente chegou, o senhor morava numa kitnet, a casa dele estava inundada, estava submersa, a gente foi até a casa, era a última de uma vila, quebramos a janela, a porta e, infelizmente, encontramos o corpo dele. Já estava em óbito, né, ali dentro, trancado. O corpo estava em decomposição, bem inchado”, disse João.
No caso, o voluntário contou que ele e Thiago estavam descendo do Jet Ski quando um casal, o filho e a nora da vítima, os abordaram e conversaram sobre a situação de Silvio, explicando que ninguém tinha notícias do idoso, que vivia em uma localidade que ninguém tinha acesso. Eles passaram o endereço e pediram que a dupla fosse até o local averiguar.
Após encontrar o corpo de Silvio, João e Thiago acionaram os bombeiros, que conseguiram realizar a remoção da vítima.
João e Thiago também realizaram o resgate de um homem em situação de rua que, segundo relatos, estaria vagando pelas ruas de São Leopoldo há cerca de três dias, sem rumo.
Nesta terça, a dupla foi para Canoas, uma das cidades mais prejudicadas pela tragédia climática no Rio Grande do Sul. O objetivo é resgatar animais que precisem e, em seguida, retornar ao município de São Leopoldo. Nesta quarta-feira (15), o dia será destinado para realizar compras para um abrigo de animais na cidade. Na quinta-feira (16), a pretensão é dar início à volta para casa.
João Pedro Rangel é proprietário da clínica veterinária Porto do Carro, em Cabo Frio. Lá, ele realiza cirurgias e atende no consultório. Mesmo atuando nos resgates, o local continua funcionando normalmente. Interessados em conhecer o trabalho do profissional, podem acessar suas redes sociais neste link.
Até o momento, foram confirmados 148 mortos devido às enchentes no Rio Grande do Sul, que afetaram 446 municípios. Além disso, há 76.884 pessoas em abrigos e 538.545 desalojadas, totalizando cerca de 2.124.203 afetados pela catástrofe. O número de feridos chegou a 806, e ainda há 124 pessoas desaparecidas. Nas operações de resgate, foram salvos 76.483 indivíduos e 11.002 animais. A força-tarefa envolvida conta com 27.651 profissionais, utilizando 4.405 viaturas, 41 aeronaves e 340 embarcações.