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Flagrante em Niterói: Pescadores Capturam Arraias Ameaçadas de Extinção
Um grupo de pescadores foi flagrado capturando pelo menos seis arraias na Praia de Icaraí, localizada em Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, na tarde da última terça-feira, dia 15. Duas moradoras da região, que estavam presentes no momento da ação, registraram a prática e alertaram sobre a possível pesca ilegal. Segundo informações de biólogos, as arraias envolvidas pertencem à espécie conhecida como arraia-borboleta, que está ameaçada de extinção e é alvo de proteção especial.
A moradora Aline Reis, de 46 anos, foi uma das testemunhas que ficou atenta a uma grande rede de pesca que se estendia ao longo da orla enquanto ela e sua amiga, Keyla Fogaça, caminhavam pela praia. Ao avistarem a rede, elas decidiram se aproximar para entender o que estava acontecendo.
“Quando encontrei com a minha amiga no calçadão, comentei: ‘Vamos lá, registrar o que é aquilo’. No meio do mar, havia um aglomerado estranho. À primeira vista, parecia uma quantidade enorme de algas. Mas, ao nos aproximarmos, conseguimos notar a rede de pesca que estava se estendendo de forma excessiva,” relata Aline.
Ao se aproximarem, as amigas avistaram os animais lutando para se libertar da rede. De acordo com Aline, eram cerca de seis arraias se debatendo, e foram questionar os pescadores sobre o que estavam fazendo. A resposta que receberam foi evasiva. Um dos homens ainda tentou desmerecer a situação, dizendo que estava “fazendo uma massagem ocular na arraia” e que a arraia iria recuperar a visão em 30 minutos, enquanto outro brincou que fariam um “churrasco de arraias”.
“Ao ouvir isso, tive certeza de que não iriam soltar os animais. E de fato, foi o que ocorreu. Colocaram as arraias no barco e se foram. Sentamos na areia, sem saber o que fazer, esperando que talvez jogassem as arraias de volta ao mar. Filmei de longe a situação para comprovar que elas não foram devolvidas,” disse Aline.
Percebendo que as arraias não seriam libertadas, Aline e Keyla tentaram entrar em contato com órgãos responsáveis pela proteção ambiental, mas sem sucesso. “Fiquei muito preocupada e nervosa, pois havia seis pescadores. Eu estava acompanhada de meu cachorro, enquanto minha amiga estava com uma bicicleta. Tentamos ligar para várias autoridades, como 193, 153 e 190. A Polícia Militar até retornou a chamada, mas, quando chegaram, os pescadores já estavam no mar,” completou Aline.
Os vídeos gravados pelas moradoras mostram que os pescadores não demonstraram preocupação ou constrangimento e ainda interagiam com outras pessoas que estavam na praia, registrando a cena. A linha de pesca utilizada parecia ser direcionada apenas às arraias, já que não havia outros peixes ou criaturas na rede.
“Na rede havia apenas as arraias, nada mais. E a rede era realmente muito grande; nunca vi uma tão extensa antes. Faço registros frequentes sobre a vida marinha na praia, incluindo tartarugas e arraias, e participei de resgates em parceria com projetos de preservação. A vida marinha local precisa de cuidados,” concluiu Aline.
Além disso, Aline mencionou que não conseguiu identificar qualquer marca ou nome no barco utilizado pelos pescadores, sendo possível apenas registrar a cor das embarcações nos vídeos. Segundo o biólogo marinho Rafael Franco, que é responsável pelo AquaRio, a espécie capturada no vídeo é a arraia-borboleta, que é considerada ameaçada de extinção.
“Essa é uma espécie do gênero Gymnuridae, comumente chamada de arraia-borboleta. É uma espécie globalmente ameaçada e em algumas regiões já está extinta. Curiosamente, a Baía de Guanabara ainda abriga algumas delas, o que a torna um berçário importante para a espécie,” explicou Franco.
O biólogo afirmou que as arraias registradas nos vídeos eram fêmeas adultas, possivelmente ali na Praia de Icaraí para dar à luz. “Esse local, por ser mais tranquilo, é um ponto escolhido por essa espécie para reprodução. Portanto, é bem provável que elas estivessem lá para parir,” destacou Franco.
Franco também mencionou que o trabalho para a conservação da espécie já ocorre há dez anos no AquaRio, sendo a única instituição no mundo que conseguiu reproduzir a arraia-borboleta com o objetivo de tentar reverter a situação de sua extinção.
Na manhã seguinte, dia 16, a mesma situação se repetiu, com relatos de que os pescadores haviam retornado à praia, conforme informou o biólogo à equipe do Enfoco. O aparente retorno para pescar mais arraias pode estar relacionado à Semana Santa, período em que o consumo de frutos do mar aumenta consideravelmente.
“Fui informado de que os pescadores estavam novamente no mesmo local e utilizando as mesmas embarcações, o que demonstra que eles têm conhecimento sobre a presença dessa espécie e vão continuar pescando. É muito provável que isso esteja ocorrendo por conta do movimento típico dessa época do ano,” disse.
Um esforço está sendo realizado em conjunto com as autoridades para identificar e responsabilizar os pescadores pela prática ilegal. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foi abordado pelas autoridades, mas ainda não se manifestou sobre o assunto.
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