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Incêndios florestais no Brasil: uma crise ambiental alarmante
Nos primeiros dias de setembro, o Brasil se deparou com a alarmante marca de 154 mil focos de calor registrados ao longo deste ano, conforme as informações do Programa Queimadas, coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A Amazônia, em particular, acumula a maior parte desses incêndios, com uma crise que se intensificou nas semanas recentes, quando a fumaça se espalhou por diversas regiões, fazendo com que o céu escurecesse.
A região amazônica está enfrentando uma das secas mais severas de sua história, resultando em um aumento recorde dos incêndios florestais. Combinados com o aumento das temperaturas e a escassez de chuvas, os dados de 2023 têm pintado um cenário preocupante para os próximos meses. Situações semelhantes foram observadas recentemente no Pantanal e em áreas do interior do estado de São Paulo.
A seca tem contribuído significativamente para a atual onda de incêndios tanto na Amazônia quanto no Pantanal. O Inpe informou que agosto deste ano foi o mês mais devastador desde 2005, com 38.266 focos de incêndio contabilizados. O estado do Pará aparece como o mais afetado, registrando 13.803 ocorrências, seguido por Amazonas com 10.328 e Mato Grosso com 7.046.
Entretanto, a estiagem é apenas um dos fatores que agravam a situação. A propagação de incêndios florestais está diretamente ligada ao aumento do desmatamento, especialmente no sul da Amazônia. Rodrigo Agostinho, presidente do IBAMA, reforçou que “o desmatamento é caro. O fogo é muito mais barato, basta comprar gasolina e espalhar”.
A sensação de impunidade, conforme relatou o Climainfo, também parece contribuir para o aumento dos incêndios. Um exemplo notável é a investigação realizada pela Polícia Federal sobre o “Dia do Fogo”, que não resultou em indiciamentos.
O “Dia do Fogo”, ocorrido em 10 de agosto de 2019, é marcado pelo ato de incinerar mais de 470 propriedades rurais na Amazônia. Investigações revelaram que os responsáveis por esses atos permanecem impunes, e um levantamento feito pelo Greenpeace revelou que, após cinco anos, essas fazendas ainda apresentam altos índices de desmatamento e queimadas frequentes, algumas até conseguiram financiamento por meio de créditos rurais.
Os incêndios florestais podem ter origens naturais, como raios, embora estes sejam raros e menos preocupantes, ocorrendo geralmente em épocas chuvosas. Em contrapartida, a intervenção humana, seja intencional ou por negligência, continua sendo a principal causa dos incêndios florestais.
Agostinho relaciona o aumento das queimadas no Brasil a um mix de mudanças climáticas e uma nova “tendência” de desmatamento por meio do fogo. Em declarações à BBC, ele menciona que os grileiros estão optando por essa abordagem ao invés do desmatamento convencional para expandir áreas voltadas à pecuária. Criticou ainda a legislação brasileira, apontando que as sanções para crimes ambientais são brandas, o que permite que aqueles responsáveis por grandes queimadas recebam punições leves.
Além disso, os incêndios em São Paulo afetaram 150 cidades e causaram a morte de, pelo menos, duas pessoas durante as operações de combate ao fogo. Na investigação, especulou-se a possível ligação de pessoas do PCC. Um homem foi preso por atear fogo em Batatais e alegou ser membro da organização criminosa. Contudo, a investigação não conseguiu comprovar essa conexão. O delegado responsável pelo caso, Jorge Cury Amaro Neto, sugeriu que essa afirmação poderia ter sido uma tentativa de desviar a atenção ou encobrir o real autor do crime. O acusado, que tem 42 anos, possui um histórico criminal por tráfico, roubo e homicídio. A Polícia Federal e a Polícia Civil de São Paulo estão liderando a investigação.
As informações até agora reforçam a hipótese de que o “Dia do Fogo” também ocorreu em São Paulo. Análises do IPAM indicam que a fumaça de incêndios simultâneos no oeste paulista surgiu em um intervalo de apenas 90 minutos, e mais de 80% dos focos de calor foram localizados em áreas agrícolas, como cana-de-açúcar e pastagens. A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo deteve ao menos 12 pessoas por incêndios criminosos no interior do estado.
Durante uma audiência pública na Comissão de Meio Ambiente (CMA), a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, ressaltou que as mudanças climáticas, a severa escassez de água e eventos como El Niño e La Niña, aliados a casos de desmatamento e incêndios criminosos, criam uma situação extremamente prejudicial. Ela destacou que o uso inadequado do fogo, como ocorreu em Corumbá (MS), contribui de forma significativa para as queimadas.
Cerca de 27% das áreas queimadas na Amazônia são utilizadas para atividades agropecuárias, e 41% estão localizadas em zonas de vegetação que não são florestais. Estima-se que 85% dos incêndios ocorre em propriedades privadas, enquanto apenas 15% afetam terras indígenas ou unidades de conservação.
A Polícia Federal está conduzindo 31 investigações para apurar a origem dos incêndios e possíveis atividades criminosas no Brasil, com 29 inquéritos focados na Amazônia e no Pantanal, e dois em São Paulo. No que se refere ao Pantanal, onde houve um aumento dos incêndios em junho, já foi possível determinar que a origem da propagação estava relacionada a propriedades privadas. “É necessário que a Justiça responsabilize os culpados e identificamos os proprietários. Precisamos entender se foi um ato culposo ou doloso. No momento, as ações legais estão em andamento, em colaboração com a PF”, declarou a ministra Marina.
Além das detenções em São Paulo, também foram presos suspeitos nos estados do Paraná e Goiás durante as investigações sobre os incêndios.
Com informações do Agência Senado, BBC, Reuters, Agência Pública e Climainfo
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