Bactérias nas árvores da Amazônia podem absorver metano
Um estudo publicado na revista Nature sugere que bactérias que habitam as cascas das árvores na Amazônia são capazes de absorver o metano, um dos mais importantes gases do efeito estufa. Isso é especialmente relevante, pois medições recentes indicaram que a floresta amazônica poderia estar contribuindo para o aquecimento global, ao invés de ajudar a mitigá-lo.
As pesquisas, lideradas pelo biólogo brasileiro Alex Enrich Prast, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em colaboração com o biólogo britânico Vincent Gauci, da Universidade de Birmingham, identificaram que as bactérias associadas às raízes das árvores funcionam como chaminés, lançando o metano absorvido na atmosfera.
A descoberta contraria os resultados anteriores, que sugeriam que as árvores da Amazônia emitiam metano em quantidades semelhantes às do oceano. Os pesquisadores explicaram que a absorção ocorre principalmente nas árvores das áreas de várzea, quando não estão alagadas e têm oxigênio no solo, e também nas florestas de terra firme.
Para entender melhor o fenômeno, foram instaladas câmaras detectadoras de gases em diferentes alturas dos troncos das árvores. As análises mostraram que a microbiota do tronco das árvores é capaz de absorver o metano, principalmente na porção mais alta do tronco.
Além disso, os cientistas coletaram amostras da madeira em diferentes alturas e identificaram a presença de bactérias que oxidam metano. Entretanto, eles ressaltam que ainda é necessário caracterizar a composição em diferentes espécies vegetais, o que não pôde ser feito ainda devido à dificuldade de identificar todas as árvores em campo.
As medições foram feitas na Reserva Extrativista do Lago do Cuniã, em Rondônia, e indicaram que a absorção de carbono pela superfície dos troncos em florestas maduras equivale a 15% da absorção média de todo o carbono pela biomassa vegetal da Amazônia. Essa descoberta reforça a importância do reflorestamento para mitigar as emissões de gases do efeito estufa.
A pesquisa também comparou ecossistemas em outras regiões, como a floresta Gigante, na ilha de Barro Colorado (Panamá), a floresta temperada de Wytham (Reino Unido) e a floresta hemiboreal de coníferas em Skogaryd (Suécia). Os resultados mostraram que os troncos absorvem mais metano em climas mais quentes, como na Amazônia.
Essa nova descoberta sobre a absorção de metano pelas árvores da Amazônia pode ter importantes consequências para as metas do Acordo de Paris, que busca reduzir as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera. O metano tem um poder de aquecimento maior que o dióxido de carbono, mesmo que sua vida útil na atmosfera seja relativamente curta.
Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores enfatizam que ainda há muito a ser estudado para entender melhor o papel das bactérias nas árvores e o fluxo de gases no interior da floresta. A preservação da Amazônia é fundamental para o equilíbrio climático do planeta, e o conhecimento sobre a microbiota do tronco das árvores pode contribuir para a elaboração de estratégias de mitigação das mudanças climáticas.