Aumento no número de passageiros no Brasil com tarifa gratuita

transporte público gratuito

Tarifa zero aumenta número de passageiros no Brasil

O sistema de transporte público brasileiro por ônibus urbano registrou uma queda de 24,4% na demanda entre 2019 e 2022. Durante o período da pandemia, essa queda foi ainda mais significativa, com uma perda de quase 8 milhões de deslocamentos de passageiros por dia, em média. No entanto, após o período crítico da pandemia, algo começou a mudar: algumas cidades passaram a oferecer passagens gratuitas de ônibus.

Esses dados foram apresentados no Anuário 2022-2023 da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Um novo estudo da NTU também mostrou um aumento significativo no uso do transporte público após a implementação da tarifa zero. A pesquisa analisou 12 cidades brasileiras e comparou os dados antes e depois da adoção do passe livre. Todas as cidades registraram um aumento na demanda por viagens de ônibus, variando de 33% a 371%.

Segundo Francisco Christovam, diretor executivo da NTU, “o aumento da demanda indica o potencial de uso do transporte público pela população. A tarifa zero promove uma maior mobilidade e acessibilidade, facilitando deslocamentos para as atividades essenciais no ambiente urbano, em diferentes horários do dia, não só em horário de pico”.

A pesquisa também revelou alguns pontos de destaque. Um total de 124 municípios adotaram essa política, sendo que 106 aplicam a tarifa zero de forma universal, em todas as linhas e em todos os dias da semana. Além disso, 71% das cidades brasileiras que implementaram a tarifa zero no transporte público possuem menos de 50 mil habitantes. O maior crescimento na demanda foi registrado na cidade de Caucaia, no Ceará.

De acordo com Christovam, a tarifa zero é adotada principalmente por cidades pequenas porque significa o subsídio de 100% da operação por parte das prefeituras, o que pode ser complicado de ser implementado em centros urbanos maiores devido aos custos envolvidos. No entanto, o impacto positivo que essa política pode causar nas cidades é inegável.

O estudo também apontou alguns impactos positivos da tarifa zero. Por exemplo, houve uma diminuição no índice de remarcações de consultas médicas na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade de São Caetano do Sul, em São Paulo. Em Paranaguá, no Paraná, houve uma redução nos acidentes de trânsito e um aumento nas vendas do comércio local. Em Ituiutaba, em Minas Gerais, houve um impacto positivo na geração de empregos. Já em Maricá, no Rio de Janeiro, a renda familiar foi menos comprometida.

Com mais de 355 mil habitantes, Caucaia se destaca como a cidade brasileira com maior população a oferecer a tarifa zero. O número de passageiros quase quintuplicou com a implementação dessa política: o sistema local transportava 510 mil passageiros por mês em agosto de 2021 e passou a transportar 2,4 milhões de passageiros mensalmente em setembro de 2023, um aumento de 371% em apenas dois anos.

Outras cidades que registraram um crescimento expressivo no número de passageiros foram São Caetano do Sul, com um aumento de 218% em quatro meses; Luziânia, em Goiás, com um aumento de 202% em apenas dois meses; e Ibirité, em Minas Gerais, com um aumento de 106% na demanda em três meses. Maricá, que adota a tarifa zero há nove anos, registrou um crescimento de 144% na demanda de fevereiro de 2021 a setembro de 2023.

Além de revelar o aumento na demanda, a pesquisa também aponta para a necessidade de expansão na oferta de ônibus. Sete cidades apresentaram um crescimento na quantidade de passageiros maior do que o aumento na quantidade de ônibus e viagens ofertadas. Aquiraz e Cacoal tiveram que quadruplicar sua oferta de ônibus para atender ao aumento da demanda. Já Caucaia aumentou sua frota em 46%, passando de 48 para 70 veículos nos últimos dois anos.

De acordo com Christovam, “esse aumento da demanda precisa ser considerado pelas prefeituras que planejam adotar a tarifa zero. Não basta ter recursos para cobrir o custo atual, é preciso avaliar a necessidade de aumento da frota e definir fontes permanentes de recursos, para que a tarifa zero tenha sustentação”.

Apesar dos impactos positivos observados, a pesquisa da NTU ressalta que há carência de dados que comprovem os impactos da tarifa zero e que os resultados apresentados ainda necessitam de comprovação por meio de pesquisas com métodos estatísticos mais rigorosos. No entanto, fica evidente que a implementação da tarifa zero pode ser uma solução viável para incentivar o uso do transporte público e melhorar a mobilidade urbana nas cidades brasileiras.

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