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Construindo Cidades Mais Caminháveis no Brasil
Recentemente, São Paulo foi destacada como uma das metrópoles com os piores índices de qualidade do ar, conforme análise da plataforma suíça IQAir. Os dados mostram que os veículos são responsáveis por 72,6% das emissões de gases de efeito estufa na cidade, enquanto transportam apenas 30% dos passageiros, impactando negativamente a mobilidade urbana e a saúde pública.
Os carros, além de prejudicarem a qualidade do ar, consomem grande quantidade de combustível e modificaram a infraestrutura urbana ao longo do tempo. Essa situação levou a uma necessidade urgente de resgatar os espaços públicos que foram comprometidos. Uma mudança para cidades com mais áreas verdes, menos poluição do ar e que ofereçam maior qualidade de vida é essencial. Um estudo da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) revela que 39% dos deslocamentos no Brasil são feitos a pé. O Project Drawdown estima que a conversão de apenas 5% das viagens de carro em caminhadas poderia resultar em uma economia de 2,9 gigatoneladas de CO2 até 2050. Portanto, a urgência em fazer cidades mais adequadas para pedestres se torna evidente.
De acordo com o relatório “Prêmio Cidade Caminhável: Panorama dos Projetos de Caminhabilidade no Brasil de 2012 a 2022”, algumas iniciativas nas cidades brasileiras têm priorizado as pessoas em vez dos veículos. Passados cinco anos da implantação da Política Nacional de Mobilidade Urbana, surgiram projetos focados em caminhabilidade, os quais cresceram consideravelmente desde 2018 e seguem se ampliando.
A Importância de Priorizar os Pedestres
O Prêmio Cidade Caminhável, que analisou 57 projetos nas edições de 2021 e 2023, revelou que as administrações municipais perceberam que, para valorizar os deslocamentos a pé nas cidades, é necessário diminuir a área destinada aos automóveis. Esta proposta se concretizou em mais de 50% dos projetos, que incluíram a reorganização do espaço público e a implementação de medidas para acalmar o tráfego e tornar as rotas mais acessíveis. Essa mudança enfatiza que, para criar cidades mais adequadas para caminhadas, é preciso ir além da simples manutenção das calçadas.
Um exemplo notável é o projeto de Requalificação da Avenida Desembargador Moreira em Fortaleza, que transformou duas faixas de tráfego em um extenso calçadão e ciclovia, proporcionando um novo espaço de convivência e lazer para a população.
Os projetos voltados para a caminhabilidade focam, em sua maioria, na requalificação urbana, o que é algo positivo, uma vez que essas ações promovem transformações duradouras na rotina da população. Os parques urbanos, especialmente os Parques Lineares, têm se destacado, pois não apenas oferecem áreas para esportes e lazer, mas também funcionam como importantes eixos para transportes ativos, como caminhadas e ciclismo, integrando a natureza ao ambiente urbano. Um exemplo é o Via Parque em Caruaru, que revitalizou 8 km de linha férrea em um corredor de mobilidade ativa, além do Parque Linear das Hortas do Dirceu, em Teresina, que incluiu a criação de um vasto parque linear e a renovação de hortas comunitárias, promovendo um espaço adequado para caminhadas e interação social.
A promoção da caminhabilidade também está sendo observada nas áreas periféricas das cidades. Embora 38,6% dos projetos estejam situados em áreas centrais, 31,6% estão em regiões marginalizadas, desassistidas historicamente. Essa distribuição demonstra que os projetos de caminhabilidade podem contribuir para a redução das desigualdades sociais, uma vez que muitas pessoas nas periferias dependem mais das caminhadas devido à escassez de alternativas de transporte.
O Programa de Infraestrutura em Educação e Saneamento de Fortaleza, vencedor do Prêmio em 2023, é um bom exemplo desse esforço: ele promoveu a urbanização de ruas, incluindo a construção de sistemas de drenagem, galerias e calçadas com piso intertravado. Este tipo de pavimentação não apenas desacelera o tráfego, mas também é mais permeável, ajudando a previnir alagamentos e diminuir a absorção do calor, um problema comum no asfalto, que costuma reter calor por longos períodos, elevando as temperaturas locais em até 5ºC, segundo estudos do Departamento de Ciências Florestais da Esalq da USP.
Desafios na Caminhabilidade
Apesar dos avanços, os projetos de caminhabilidade enfrentam diversos desafios no Brasil. Algumas cidades continuam a investir em infraestrutura voltada para automóveis, como asfaltos e viadutos, o que indica uma resistência à mudança de paradigma. Ademais, muitas prefeituras ainda não contam com departamentos específicos para a mobilidade a pé, e não há incentivos federais voltados para esse tipo de mobilidade, o que leva as cidades a dependerem de financiamento próprio ou a buscar fontes alternativas.
Outro desafio significativo é a necessidade de diversificar o uso do solo para garantir a proximidade e criar destinos que sejam acessíveis a pé. Um estudo recentemente realizado revelou que mais de 80% da população urbana no Brasil vive a mais de 15 minutos a pé de escolas e serviços médicos. O relatório “Prêmio Cidade Caminhável” fornece diretrizes que podem auxiliar na criação de cidades que priorizam os pedestres e as necessidades das pessoas, ao invés dos carros, uma transformação que é vital para enfrentar os desafios das mudanças climáticas e garantir a sustentabilidade das áreas urbanas.
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