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Área destruída pelo fogo no Brasil passou de 30 milhões de hectares em 2024

Fogo Pantanal

Área queimada no Brasil superou 30 milhões de hectares em 2024

Entre os meses de janeiro e outubro de 2024, o Brasil já havia registrado a devastação de 27,6 milhões de hectares. Contudo, os dados da plataforma Monitor do Fogo, administrada pelo MapBiomas, tornados públicos em janeiro deste ano, indicaram que o cenário para o ano foi ainda mais alarmante. O total de áreas queimadas no país ultrapassou 30,8 milhões de hectares, uma extensão superior à de todo o território italiano.

Esse total representa um crescimento alarmante de 79% comparado ao ano anterior, o que se traduz em um aumento de 13,6 milhões de hectares, sendo essa a maior extensão de área queimada desde o início das medições do Monitor do Fogo em 2019. Em média, três quartos de toda a área afetada, ou seja, 73%, eram de vegetação nativa, com destaque para as formações florestais, que representaram 25% do total queimado. No que diz respeito às áreas de uso agropecuário, as pastagens foram as mais atingidas, com 6,7 milhões de hectares devastados entre janeiro e dezembro de 2024.

Incêndios no Pantanal
Foto: Documenta Pantanal

O ano de 2024 se destacou como um período extraordinário e preocupante em relação ao uso do fogo no Brasil, demonstrando um aumento significativo nas áreas queimadas em quase todos os biomas. As florestas, que normalmente são menos afetadas, também sofreram severas consequências. Essa devastação evidencia a necessidade urgente de ações coordenadas e compromisso em todos os níveis para conter uma crise ambiental que é agravada por condições climáticas extremas, mas que também resulta da ação humana, assim como ocorreu no ano anterior.”

Esse aumento nas queimadas no Brasil está atrelado aos efeitos acumulados de um prolongado período seco que afetou uma vasta parte do território nacional, em decorrência do fenômeno “El Niño” ocorrido entre 2023 e 2024, o qual foi classificado como moderado a forte. As condições de baixa umidade tornam a vegetação mais propensa ao fogo.

A Amazônia emergiu como o bioma mais impactado. No total, 17,9 milhões de hectares foram queimados em 2024, o que representa mais da metade (58%) de toda a área queimada no Brasil no período. Esta foi a maior área devastada nos últimos seis anos no bioma e uma extensão maior do que a queimada em todo o país em 2023. As formações florestais foram as mais atingidas, com cerca de 6,8 milhões de hectares, superando os 5,8 milhões de hectares queimados em pastagens.

Desmatamento na Amazônia
Com mais de 10 mil focos somente em julho de 2024, o país tem recorde de fogo para o período em quase 20 anos na Amazônia. | Foto: © Marizilda Cruppe / Greenpeace

O recorde de desmatamento na Amazônia foi atribuído a um regime de chuvas abaixo da média histórica, o que agravou as condições ambientais. Um dado alarmante é que as áreas de formação florestal foram as mais atingidas, superando pela primeira vez as pastagens, que tradicionalmente eram as mais afetadas. Essa mudança nos padrões de queimadas é preocupante, pois as florestas atingidas pelo fogo ficam mais vulneráveis a novos incêndios. Vale ressaltar que a presença de fogo na Amazônia não é um fenômeno natural, mas uma consequência de atividades humanas.”

No Cerrado, 9,7 milhões de hectares foram afetados entre janeiro e dezembro de 2024, sendo que 85% deste total (aproximadamente 8,2 milhões de hectares) corresponde a áreas de vegetação nativa, com um aumento de 47% em relação à média dos últimos seis anos. Já o Pantanal, que viu o auge da área queimada em agosto, totalizando 648.796 hectares, teve 1,9 milhão de hectares atingidos por incêndios em 2024. Esse número é um aumento de 64% em comparação aos últimos seis anos. O cenário no Pantanal foi semelhante ao de 2020, quando as áreas queimadas somaram 2,3 milhões de hectares. A seca extrema enfrentada em 2024, comparável à de 2020, deixou o bioma Pantanal ainda mais suscetível a fogos.

Incêndios no Cerrado
Brigadas voluntárias são aliadas na conservação do Cerrado. Foto: André Dip

A pesquisadora Vera Arruda, do IPAM e parte da equipe do MapBiomas Fogo, traz contexto ao Cerrado: “Historicamente, o Cerrado se desenvolveu com queimadas naturais, geralmente causadas por raios na época das chuvas. Entretanto, o que temos observado é um aumento significativo do fogo em períodos de seca, impulsionado em grande parte por ações humanas e intensificado pelas mudanças climáticas. Um dado alarmante é o avanço das áreas queimadas em formações florestais, que atingiram o maior valor registrado nos últimos seis anos, demonstrando uma mudança na dinâmica do fogo que coloca em risco a biodiversidade e a resiliência desse bioma essencial.”

Na Mata Atlântica, 1 milhão de hectares foram queimados entre janeiro e dezembro de 2024, sendo 70% disso em áreas agropecuárias. A área atingida por queimadas em 2024 foi superior à soma das áreas queimadas entre 2019 e 2023. Apesar de as queimadas acontecerem majoritariamente em áreas antropizadas, muitas vezes elas acabam afetando zonas naturais. Aproximadamente 26% da área queimada no último ano foi em áreas de campo alagado, formadas por florestas e vegetação campestre. Mais de 80% da área queimada na Mata Atlântica ocorreu entre agosto e setembro, reflexo dos incêndios que afetaram especialmente as plantações de cana-de-açúcar em São Paulo.

Patrimônios Ambientais da Mata Atlântica
O Parque Estadual Jaraguá abriga um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica da Região Metropolitana de São Paulo. | Foto: Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente

As áreas naturais da Mata Atlântica não são adaptadas ao fogo. Esses eventos provocam grandes impactos aos escassos remanescentes florestais desse bioma. Além dos danos ambientais, como mudanças na regulação do clima, manutenção do ciclo hídrico e qualidade do solo, são evidentes também os prejuízos econômicos e os impactos à saúde e bem-estar da população,” observa Natalia Crusco, da equipe da Mata Atlântica do MapBiomas.

No Pampa, a área queimada em 2024 foi de 3,4 mil hectares, o menor número dos últimos seis anos. Também houve uma redução na Caatinga, onde 330 mil hectares foram queimados entre janeiro e dezembro de 2024, representando uma diminuição de 47% em relação ao mesmo período em 2023. A maior parte (81,8%) das queimadas ocorreu em formações savânicas.

Vegetação Nativa do Pampa
Foto: FeBozza | CC BY-SA 3.0

“Normalmente, a proporção de área queimada no Pampa é baixa. Em 2024, este foi o menor valor registrado na série monitorada desde 2019. Esse padrão é atribuído aos intensos efeitos do fenômeno El Niño, que se manifestou de maneira inversa no sul do Brasil, resultando em grandes acumulados de chuva no primeiro semestre de 2024, que culminaram nas enchentes de maio de 2024. Contudo, as condições favoráveis ao acúmulo de biomassa vegetal em 2024 podem aumentar o risco de incêndios a partir de 2025, com a confirmação do fenômeno La Niña, que provoca períodos de seca e facilita a propagação do fogo,” afirma Eduardo Vélez, da equipe do Pampa do MapBiomas.

O estado do Pará liderou o ranking de áreas queimadas em 2024, com 7,3 milhões de hectares, o que representa 24% do total nacional. Em seguida, Mato Grosso e Tocantins com 6,8 milhões e 2,7 milhões de hectares, respectivamente, respondendo juntos por mais da metade (55%) da área total queimada em todo o país. Entre os municípios, São Félix do Xingu (PA) e Corumbá (MS) registraram as maiores áreas atingidas em 2024, com 1,47 milhão de hectares e 841 mil hectares queimados, respectivamente.

Amazônia: o bioma que mais queimou em dezembro de 2024

No mês de dezembro, foram queimados 1,1 milhão de hectares, correspondendo a 3,6% de toda a área queimada no Brasil em 2024. Essa extensão é ligeiramente inferior à do território do Líbano e representa um aumento de 79% em comparação à média dos últimos seis anos, ultrapassando em 485 mil hectares a média. Das áreas queimadas em dezembro, 68% foram em vegetação nativa, com a formação florestal correspondendo a 24,2% da área total. Entre as áreas de uso agropecuário, as pastagens também tiveram uma participação significativa no mês de dezembro, respondendo por 28,4% da área queimada.

Queimadas na Amazônia
Área queimada em Alter do Chão. Foto: João Marcos Rosa | Nitro

A Amazônia foi responsável por 88% do total queimado em dezembro, totalizando 964 mil hectares. As florestas (incluindo florestas alagáveis) foram o tipo de vegetação nativa mais impactado, representando 37,5% da área queimada apenas em dezembro, equivalente a 361 mil hectares. A pastagem foi a classe de uso da terra mais impactada, com 29,6% da área queimada na Amazônia em dezembro, totalizando 285 mil hectares.

O Cerrado foi o segundo bioma mais afetado em dezembro, com 88 mil hectares queimados, divididos entre áreas nativas (50%), especialmente em formações savânicas (21,5 mil hectares), e áreas agropecuárias, predominantemente em pastagens (21 mil hectares).

Incêndios Floresta Amazônica
Fogo na floresta amazônica. Foto: João Marcos Rosa | Nitro

Em dezembro, na Pantanal, 7,6 mil hectares foram queimados, com 72% da área concentrada em formações campestres. O Mata Atlântica registrou 7 mil hectares queimados, a maior parte em áreas agropecuárias (65,7% ou 4,6 mil hectares). O Pampa teve a menor área queimada entre os biomas no mês, com 71 hectares, enquanto a Caatinga totalizou 32.705 hectares queimados.

Dentre os estados, os que mais queimaram em dezembro de 2024 foram o Pará (407 mil hectares), o Maranhão (296 mil hectares) e o Amapá (121 mil hectares). Os municípios com as maiores áreas queimadas no mês foram: Porto de Moz (PA), com 41 mil hectares, Almeirim (PA), com 37 mil hectares, e Tartarugalzinho (AP), com 32 mil hectares queimados.

O panorama de queimadas em 2024 ressalta a necessidade urgente de ações para conter essa crise ambiental, acentuada não só por fatores climáticos, mas também pela incessante atividade humana que continua a impactar negativamente os ecossistemas do Brasil.

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