Dubladores brasileiros fazem protesto por regulamentação da inteligência artificial
Dubladores brasileiros estão se mobilizando para exigir a regulamentação do uso da inteligência artificial em filmes, séries, jogos de videogame e outras produções audiovisuais. O objetivo é evitar que artistas humanos sejam substituídos por sistemas capazes de imitar vozes reais, usando padrões vocais disponíveis na internet.
O movimento, chamado de Dublagem Viva, conta com o apoio de diversos dubladores renomados, como Wendel Bezerra, a voz do personagem Goku de “Dragon Ball”, Gilberto Baroli, o Saga de “Os Cavaleiros do Zodíaco”, Selma Lopes, a Maggie Simpson, e Christiane Monteiro, a Lindinha de “As Meninas Superpoderosas”. A iniciativa também recebeu o apoio de outros profissionais da área, que gravaram vídeos em apoio à campanha.
A preocupação dos dubladores é válida, uma vez que a inteligência artificial tem avançado rapidamente e já consegue imitar com precisão vozes humanas. Um relatório da Universidade de Oxford, publicado em 2013, classifica os dubladores como profissionais ameaçados pela evolução tecnológica. Com a possibilidade de substituição por robôs que imitam vozes reais, há o receio de que seu trabalho seja prejudicado e que a qualidade da dublagem seja comprometida.
A petição liderada pela United Voice Artists, um grupo global de associações de dublagem, já conta com mais de 50 mil assinaturas. O objetivo é impedir a substituição de dubladores humanos por robôs e garantir que a regulamentação do uso da inteligência artificial esteja de acordo com as leis de direitos autorais, os contratos de trabalho estabelecidos e os acordos com os detentores dos direitos.
Além disso, os dubladores também pedem que a inteligência artificial não seja usada para promover estereótipos, discriminação racial, étnica, de gênero ou qualquer forma de discriminação e preconceito. Eles defendem que a regulamentação seja elaborada de forma abrangente, consultando todos os envolvidos no setor, incluindo profissionais da dublagem, estúdios de produção, detentores de direitos autorais, especialistas e sociedade civil.
No manifesto do movimento Dublagem Viva, é ressaltado que a inteligência artificial pode ser uma ferramenta complementar, auxiliando e aprimorando os processos em produções audiovisuais. Por exemplo, a tecnologia pode ajudar no combate à pirataria de conteúdo, ao fornecer mecanismos mais eficazes para detectar e bloquear reproduções ilegais. Além disso, pode ser utilizada para criar ferramentas de reconhecimento de voz e análise de conteúdo, visando identificar tentativas de uso não autorizado de material dublado.
Os dubladores reforçam a importância de preservar a expressão vocal, a emoção e a interpretação artística que os profissionais trazem para o processo de dublagem. Eles enfatizam que a tecnologia deve ser vista apenas como uma ferramenta auxiliar, não como um substituto para o trabalho humano.
Os limites para o uso da inteligência artificial em produções audiovisuais são discutidos em todo o mundo. Em 2023, os atores de Hollywood entraram em greve por quase quatro meses, justamente para tratar desse assunto. O acordo firmado ao fim da greve não bloqueia o uso da IA, mas garante aos artistas compensações justas e o direito ao consentimento para ter suas imagens reproduzidas ou alteradas por computador.
Diante desse cenário, é essencial encontrar um equilíbrio entre o avanço tecnológico e a preservação dos empregos e da qualidade da dublagem. Os dubladores brasileiros estão empenhados em lutar por seus direitos e garantir que a inteligência artificial seja utilizada de forma ética e responsável nas produções audiovisuais.