eSports terão que preencher vazio deixado pelos esportes tradicionais

eSports terão que preencher vazio deixado pelos esportes tradicionais

Enquanto o mundo do esporte está suspenso devido à pandemia do coronavírus, os eSports, as competições de videogames, seguem firmes e fortes na internet em busca de novos fãs e de crescimento em meio à crise de saúde internacional.

Na ausência das competições esportivas, torneios de videogame poderiam assumir a responsabilidade de cativar e emocionar os fãs do esporte no mundo?

“Não espero que um torcedor de futebol se interesse por League of Legends ou por Hearthstone da noite para o dia”, admite Fabien Devide, diretor da Vitality, principal equipe de eSports da França. “Mas poderia sim se interessar por Rocket League ou Fifa, que tem um acesso mais fácil”.

Com numerosos cancelamentos de eventos há várias semanas, os eSports, assim como os esportes tradicionais, estão sofrendo com a crise provocada pela pandemia do coronavírus, mas seu refúgio está sendo a internet, lugar onde nasceram.

Enquanto os esportes tradicionais estão suspensos por tempo indeterminado, o LEC (campeonato europeu de League of Legends, o jogo referência dos eSports) retomará as atividades nesta sexta-feira (27). Mas, ao invés de fazê-lo em um estádio de Berlim, como de costume, o fará online, com os jogadores em suas respectivas casas.

– Refugio virtual -A competição ESL Pro League de Counter Strike, um dos mais famosos jogos de tiro, estava prevista para ser disputada em Malta, mas sofreu o mesmo destino.

“Até o último momento a competição seria mantida, mas na véspera foi anunciado que os cidadãos de França, Alemanha e Itália não poderiam entrar no território. E logo houve uma restrição global”, explica Fabien Devide.

“Em poucas horas, o organizador do evento tomou a decisão de transformar o que devia ser um torneio físico em um torneio virtual”, continua.

Contudo, as competições via internet não são soluções milagrosas.

“Funciona, mas há algumas limitações”, analisa Bertrand Amar, fundador da emissora especializada ES1. “Jogar online é possível se os jogadores estiverem na mesma região, devido aos servidores. Não podemos promover um duelo entre uma equipe europeia e uma equipe dos Estados Unidos porque não haveria uma qualidade de conexão suficiente para o eSport“.

Apesar das circunstâncias, “o mundo dos eSports, claramente, é o que se adaptou com menos dificuldade à situação”, estima.

Os esportes tradicionais perceberam este cenário e viraram suas atenções para os torneios virtuais para seguir presentes.

“O que é engraçado é ver o mundo do esporte virando para os eSports para poder continuar sua competição”, completa Bertrand Amar.

– Grandes Prêmios virtuais -Os jogadores de futebol espanhóis, sem jogar desde 12 de março, se lançaram no último fim de semana em um torneio online do popular FIFA2020.

Na Fórmula 1, foram criados Grandes Prêmios virtuais, sem valor para a classificação da competição real, nas datas em que deveriam ter sido disputadas as corridas da categoria rainha do automobilismo. Até o momento, foram canceladas ou adiadas as oito primeiras corridas da temporada de F1.

Até a vela encontrou refúgio online, com a organização de uma regata virtual, “The Great Escape” (A Grande Fuga), que reúne na internet personalidades desse esporte como Samantha Davies ou Armel Le Cleac’h.

Tudo isso poderia ajudar a popularizar ainda mais os eSports, num momento em que os fãs dos esportes tradicionais se veem obrigados a buscar emoção e diversão em outro lugar.

“O objetivo é encontrar aspectos positivos nesta situação que todos atravessamos, popularizando nossa disciplina para mostrar que temos valores em comum, que é possível viver emoções nos eSports, que é possível até apoiar uma equipe como se apoia um clube de futebol”, explica Devide.

Contudo, é difícil pensar que os torcedores do esporte tradicional vão simplesmente migrar para as competições de videogame, alerta Nicolas Besombes, sociólogo especializado em eSports.

“Eu gostaria que fosse uma porta de entrada para os eSports, mas é um mundo muito diferente”, diz. “Não creio que uma audiência fiel surgirá”.

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Felipe Rabello

Felipe é um dos editores do Guia Região dos Lagos.

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