A crise no Hospital Municipal São José Operário em Cabo Frio
A situação no Hospital Municipal São José Operário (HMSJO), localizado em Cabo Frio, se agrava, trazendo novos e alarmantes acontecimentos. Um grupo de aproximadamente 30 médicos da instituição se reuniu para deliberar sobre as ações a serem tomadas em resposta à falta de condições essenciais para o trabalho. Após a renúncia dos diretores da unidade de saúde na manhã de sexta-feira (13), os profissionais de saúde acordaram em redigir um documento coletivo que será apresentado ao Conselho Regional de Medicina (CRM), isentando-os de qualquer responsabilidade em situações de emergência que não possam ser atendidas. Além disso, os médicos planejam registrar um Boletim de Ocorrência (B.O.) na delegacia para se protegerem legalmente.
A realidade enfrentada pelos médicos é alarmante. Além dos atrasos no pagamento dos salários, a escassez de insumos é identificada como o principal desafio. Há uma completa ausência de anestésicos, luvas e soro nos estoques. Um médico, que possui 40 anos de experiência e lidera uma equipe extensa, relatou que, na semana passada, teve que realizar uma cirurgia sem soro. “Chegou a um ponto em que tive que operar na semana passada sem soro. Não posso assumir essa responsabilidade. Vamos formalizar um documento, ir ao CRM e registrarei um Boletim de Ocorrência”, afirmou o médico, que ainda destacou a falta de receituário para prescrever medicações.
O descontentamento do médico é palpável. Ele enfatizou o risco de ser acusado de negligência se não conseguir atender a uma emergência devido à ausência de materiais. “Amanhã, podem fazer uma reclamação alegando que não realizamos a operação e que causamos a morte dos pacientes. Não podemos continuar nessa situação. Se não houver insumos, não poderei operar e a pessoa pode morrer”, desabafou. O médico completou que a condição crítica afeta toda a equipe, incluindo os Agentes de Serviços Gerais (ASGs), que também enfrentam atrasos salariais. “Na semana passada, entregaram apenas cinco litros de cloro para limpar o hospital inteiro”, denunciou.
A crise na saúde de Cabo Frio se intensificou, conforme o relato do médico, após a posse da prefeita Magdala Furtado. A crítica é contundente: “desde que essa mulher assumiu, estamos trabalhando em condições deploráveis”, declarou, evidenciando o elevado nível de insatisfação com a administração municipal.
Os médicos também salientaram que o problema abrange mais do que a falta de pagamento de salários. “A questão vai além de um simples salário atrasado, trata-se da segurança dos pacientes e das condições adequadas para que médicos e enfermeiros possam trabalhar”, enfatizou um dos profissionais. A analogia feita pelo médico para descrever a situação foi clara: “um avião não voa apenas com o piloto, precisa de toda a equipe. Não se consegue fazer um bolo faltando diversos ingredientes”.
A situação crítica no HMSJO reflete também no funcionamento da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Cabo Frio, que está operando de maneira restrita, atendendo somente emergências na Sala Vermelha, que já se encontra sobrecarregada. Dessa forma, os moradores enfrentam dificuldades ainda maiores para obter assistência, especialmente em casos que exigem intervenções cirúrgicas.
Diante da gravidade do cenário, a classe médica decidiu elaborar um documento coletivo que será apresentado ao CRM e criar Boletins de Ocorrência na delegacia. Os profissionais desejam deixar claro que a responsabilidade por possíveis óbitos ou complicações provocadas pela falta de insumos é inteiramente da administração pública. “Minha carreira é brilhante, não posso aceitar isso. Trabalho neste hospital há 40 anos, sou o chefe de uma grande equipe e todos me respeitam. Não posso aceitar ser forçado a trabalhar nessas condições”, concluiu o médico, evidentemente indignado.
Até o presente momento, não houve uma declaração oficial da Prefeitura de Cabo Frio acerca do agravamento da crise no HMSJO, assim como das medidas que serão adotadas para prevenir o fechamento da unidade. Enquanto isso, cresce a insegurança no atendimento de emergências e a preocupação de que a unidade de saúde precise cesar suas atividades torna-se cada vez mais concreta.
Fonte da Notícia: Guia Região dos Lagos