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Foi inaugurada em São José dos Campos, interior de São Paulo, a maior planta de mineração urbana da América Latina, um projeto da Ambipar, empresa brasileira que atua em iniciativas como economia circular, descarbonização, transição energética e regeneração ambiental. O CicloVivo foi convidado para participar da cerimônia de abertura e conheceu todos os detalhes do processo de operação da nova instalação.
Conforme dados de uma pesquisa realizada pela Green Eletron em 2021, o Brasil ocupa a quinta posição no ranking global de produção de resíduos eletrônicos. Um estudo da Universidade das Nações Unidas revelou que, em 2019, o país descartou mais de dois milhões de toneladas de resíduos eletrônicos, dos quais menos de 3% foram reciclados. Essa discrepância entre a geração e a reciclagem de resíduos agrava a já difícil situação da gestão de resíduos sólidos.
Reintegrar os resíduos após o consumo em novos ciclos produtivos minimiza esse problema, sendo o processamento adequado dos resíduos a chave para essa reintegração. No caso de aparelhos eletrônicos, materiais como grafite e cobalto provenientes de baterias de lítio podem ser reaproveitados na fabricação de novas baterias. Os cabos, por sua vez, podem ser separados entre plástico PVC e cobre, onde o plástico pode ser utilizado para geração de energia e o cobre para a confecção de novos fios. Isso promove uma economia circular, rompendo com o antigo modelo de extração, produção e descarte.
Mineração urbana
O conceito de mineração urbana refere-se ao processo de extração de insumos a partir de resíduos descartados, representando uma alternativa para a recuperação de recursos valiosos e a diminuição da dependência da extração de recursos naturais. A Ambipar já realizava a gestão de materiais eletrônicos de menores dimensões em São José dos Campos, mas sua capacidade triplicou, passando de 30 mil para 80 mil toneladas anuais de eletroeletrônicos e eletrodomésticos. A unidade recebeu investimentos que totalizam R$ 100 milhões.
Mensalmente, a planta recebe cerca de 10 mil toneladas de resíduos eletrônicos, que incluem tudo, desde pilhas até refrigeradores. Com a expansão, o foco se desloca para a manufatura reversa de aparelhos de médio e grande porte, como fogões, máquinas de lavar e micro-ondas, estes últimos requerendo um tratamento especial para o gás CFC (clorofluorcarbono). A pretensão é chegar a processar 30 mil toneladas nos próximos dois anos.
Os setores de cooperativas, indústrias e varejo atuam na coleta e encaminhamento dos resíduos para tratamento na unidade, onde serão revendidos como matéria-prima. Existem duas principal fontes de captação: a primeira é a devolução de produtos com falhas durante o período de garantia, proveniente de marcas como Apple, Samsung e Electrolux, que respondem por 90% do total de resíduos processados. O restante é obtido principalmente de ecopontos e pontos de entrega voluntária (PEVs) gerenciados pela Green Eletron, que disponibiliza quase 10 mil pontos de coleta em diversas cidades do Brasil. A Ambipar também opera com as “Retorna Machines”, dispositivos que permitem que os usuários troquem materiais recicláveis por recompensas em locais de grande fluxo.
Funcionamento do processo de mineração urbana
Todo material que possui plugue ou bateria, ao final de sua utilização, se torna um resíduo eletrônico, e todos esses materiais são enviados para a planta de mineração urbana localizada em São José dos Campos. Cada pequeno detalhe do procedimento é cuidadosamente documentado. Desde o transporte e o recebimento até cada etapa da manufatura reversa, até o produto final em que se transforma a matéria-prima, cada item é fotografado. Os volumes de resíduos oriundos de cada empresa são tratados separadamente, garantindo que os clientes possam rastrear o seu material de forma transparente.
O trabalho de mineração de equipamentos maiores envolve o processo de pré-trituração e a utilização de esteiras magnéticas que separam materiais ferrosos dos não-ferrosos, incluindo alumínio, plástico, cobre, latão e placas eletrônicas. A classificação e valorização dos componentes requerem múltiplas etapas e tecnológicas especializadas. Um exemplo é o sistema de triagem por indução, que opera através de separação magnética, permitindo retirar metais de plásticos. Outro sistema utiliza um feixe de luz infravermelha que analisa as características do plástico para separá-los por cor, enquanto em esteiras subsequentes ocorre a separação por tipo de plástico. O processo é altamente automatizado e eficiente.
Todo o material processado retorna ao mercado como matéria-prima, podendo até mesmo ser incorporado nas soluções da própria Ambipar. Há uma colaboração com a Lorenzetti, onde o plástico proveniente de chuveiros é devolvido para a empresa, que o mistura com plástico virgem para criar novos produtos. Contudo, essa prática ainda não é comum em grande parte dos casos, sendo que a maior parte dos itens que chegam à planta da Ambipar são separados, processados e disponibilizados como matérias-primas para revenda.
Marcelo Oliveira, responsável pela unidade de mineração urbana da Ambipar Environment, ressalta que o Brasil estava cerca de duas décadas atrasado no que diz respeito à tecnologia empregada na separação de metais, mas isso está mudando rapidamente. Novos equipamentos que começaram a operar na planta foram lançados na Europa apenas em janeiro. As máquinas são importadas de países como Alemanha, Itália e Espanha, além de serem utilizados equipamentos de fabricação nacional. Com esses avanços, a Ambipar está capacitada para lidar com materiais que outras empresas não conseguem processar, como a “zorba” (composto de alumínio, latão e cobre), que a Gerdau, a maior produtora de aço do Brasil, não tem tecnologia para separar. Além disso, a maior parte do material que é encaminhado para a siderúrgica é ferro, o que representa 55% do que é recebido pela planta.
Benefícios e Impactos
A iniciativa não apenas gera economia, como também está alinhada à Política Nacional de Resíduos Sólidos, contribuindo para que empresas reduzam suas emissões de poluentes. Por exemplo, processar uma tonelada de alumínio pode evitar a liberação de 16 toneladas de CO2 na atmosfera. A mineração urbana efetivada pela Ambipar possibilita a economia de cerca de 9600 toneladas de CO2 que poderiam ser liberadas no meio ambiente.
“Nossa meta é ajudar na diminuição dos gases de efeito estufa na atmosfera e na contaminação do solo. O processo de recuperação e tratamento adequado desses resíduos possibilita a conservação dos recursos naturais, impedindo assim a extração de novos materiais valiosos para a indústria”, afirma Oliveira.
Além disso, a eficiência do processo se destaca se comparado a outras atividades de mineração. Em relação ao ouro, o rendimento é de apenas duas gramas por tonelada de material processado, enquanto no caso do cobre, são 10 quilos. Em contrapartida, na mineração urbana é possível recuperar entre 30 a 50 gramas de ouro a partir de resíduos eletrônicos, especialmente de pequenos aparelhos como celulares e notebooks.
Nos dispositivos que armazenam informações sensíveis, como celulares e computadores, o processo de manufatura reversa prioriza a segurança dos dados do cliente, realizando a trituração dos aparelhos em pedaços que variam de 1 a 8 milímetros ou de 10 a 35 milímetros, dependendo do tipo de eletrônico. Dessa maneira, os dados são eliminados com segurança, e todo o processo de descaracterização é registrado em vídeo para auditoria.
Contudo, para garantir a preservação dos recursos naturais, fomentar a economia circular e proteger a saúde ambiental e humana, é vital que todos os elos da cadeia produtiva se conscientizem, desde os fabricantes até os varejistas que devem criar opções de descarte, passando pelos consumidores que precisam se comprometer com a destinação correta de eletroeletrônicos e eletrodomésticos. Para descobrir o ecoponto mais próximo, consulte os locais de entrega disponibilizados pela Green Eletron e pela Abree.
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