Cascas de jabuticaba aprimoram as propriedades nutricionais do pão

pão com casca de jabuticaba

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Alternativa saudável no combate à diabetes: pão com farinha de casca de jabuticaba desenvolvido por pesquisadores da Unicamp

Pão saudável preparado com casca de jabuticaba
Fonte: Miriam Regina Canesin Takemura et al. | Foods

Cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) criaram um innovador pão que utiliza farinha extraída da casca de jabuticaba, uma alternativa viável para aqueles que precisam monitorar a glicemia, especialmente pessoas com diabetes. As conclusões dos testes foram publicadas na revista Foods.

O pão, um alimento amplamente consumido, é conhecido por sua alta concentração de carboidratos, que pode provocar picos glicêmicos indesejados. Assim, os pesquisadores abordam a questão, destacando que a indústria da panificação tem buscado alternativas que não só diversificam a oferta de produtos, mas também enriquecem seu valor nutricional e utilizam métodos de fermentação que ajudam a atenuar a resposta glicêmica.

De acordo com o estudo, a incorporação da farinha de casca de jabuticaba resultou em um aumento significativo superior a 50% no teor de fibras do pão. O potencial antioxidante do produto também aumentou entre 1,35 e 3,53 vezes, dependendo do volume de farinha de jabuticaba utilizado na receita. Essa mudança promoveu uma melhora significativa no perfil nutricional do pão feito com esse ingrediente inovador.

Para medir o efeito sobre a glicemia, os pesquisadores conduziram um estudo crossover no qual os participantes consumiram primeiro o pão produzido através de um método de fermentação natural prolongada (que, por natureza, já provoca picos glicêmicos menores). Na semana seguinte, eles ingeriram o pão com a adição da farinha de casca de jabuticaba. No primeiro pão, o pico de glicemia ocorreu 30 minutos após o consumo e se manteve elevado por 45 minutos, enquanto o pão com jabuticaba apresentou um pico glicêmico mais tardio (após 45 minutos) e menos pronunciado, com uma queda gradual ao longo de três horas.

Imagem ilustrativa de pão saudável com casca de jabuticaba
Fonte: Miriam Regina Canesin Takemura et al. | Foods

O aumento da glicemia geralmente está ligado ao consumo de alimentos que são ricos em carboidratos, como o pão. O processo de digestão desse tipo de alimento resulta na liberação de glicose, que induz o pâncreas a liberar insulina, hormônio essencial para regular os níveis de açúcar no sangue. Problemas nesse processo podem causar sérias complicações de saúde, tornando fundamental monitorar a intensidade das oscilações glicêmicas em resposta à dieta.

Um dos especialistas envolvidos no estudo, destaca que “menores elevações de glicose e insulina após refeições podem reduzir a probabilidade de desenvolvimento de diabetes e síndromes metabólicas. Para quem já apresenta alterações na glicemia, controlar essas variações pode diminuir o risco de doenças cardiovasculares e aumentar a longevidade das células responsáveis pela produção de insulina”.

Outra pesquisadora da Unicamp ressalta que o principal desafio na elaboração do pão para os experimentos foi conciliar fatores tecnológicos com a preservação do valor nutricional e funcional do produto. “A farinha de casca de jabuticaba tem características sensoriais próprias, e sua adição teve que ser avaliada em relação às características tecnológicas da panificação, assim como em relação ao processamento e à preservação dos compostos bioativos presentes”, comenta.

Pão saudável com casca de jabuticaba
Fonte: Miriam Regina Canesin Takemura et al. | Foods

A preservação dos compostos ativos durante o processo de produção foi uma consideração importante, uma vez que as variações nas respostas glicêmicas estão associadas principalmente à quantidade de compostos fenólicos da casca da jabuticaba, como as antocianinas, que são responsáveis pela coloração arroxeada da fruta.

O estudo também observou que os participantes relataram maior sensação de saciedade após consumir o pão que continha farinha de jabuticaba, comparado ao pão controle. Essa percepção de saciedade é frequentemente associada a uma maior lentidão na redução da glicemia, um fenômeno comumente observado em alimentos de baixo índice glicêmico.

Os pesquisadores monitoraram a capacidade antioxidante do pão ao longo de três horas após a ingestão, constatando um aumento significativo na habilidade do produto de neutralizar radicais livres no organismo após o consumo do pão com a farinha de jabuticaba. “Essa melhoria na atividade antioxidante é crucial, pois muitos problemas de saúde, incluindo doenças metabólicas, cardiovasculares e algumas formas de câncer, estão ligados a processos de oxidação”, comenta o especialista.

Adicionalmente, o pão teve sua vida útil estendida para sete dias, o que indica que as bactérias presentes na farinha de casca de jabuticaba, junto com os metabólitos gerados na fermentação, podem atuar como conservantes naturais, inibindo o crescimento de microrganismos indesejados em produtos de longa fermentação.

Nos últimos anos, a pesquisa em alimentos tem se concentrado na valorização de ingredientes com alto valor biológico, especialmente subprodutos da agroindústria, e seu potencial nutracêutico. Um dos pesquisadores nota que a casca da jabuticaba contém compostos fenólicos e fibras, que têm demonstrado efeitos positivos no controle da glicemia e colesterol em diversos estudos.

Pesquisas anteriores já haviam indicado os efeitos benéficos do suco de jabuticaba na redução da resistência à insulina e na estimulação da produção de GLP-1, um hormônio que regula a sensação de fome e a saciedade, sendo similar à ação de medicamentos como semaglutida e liraglutida.

Com a continuidade dos resultados promissores, o grupo de pesquisa, envolvendo departamentos de ciências médicas e engenharia de alimentos da Unicamp, planeja investigar ainda mais os compostos bioativos da jabuticaba, ampliando os estudos para modelos animais e suas implicações na prevenção do câncer colorretal e na depressão.

O artigo Production of Long Fermentation Bread with Jabuticaba Peel Flour Added: Technological and Functional Aspects and Impact on Glycemic and Insulinemic Responses está disponível para leitura neste link.

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