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O Cerrado, um dos biomas mais importantes do Brasil, se destaca por ser a origem de nascentes de oito das doze bacias principais que abastecem o país. Ele estabelece conexões hídricas vitais, ligando a Amazônia ao norte, a Caatinga ao nordeste, o Pantanal ao sudoeste e a Mata Atlântica ao sudeste. Entretanto, esse bioma enfrenta uma destruição acelerada. No ano de 2023, aproximadamente 1 milhão de hectares de vegetação nativa foram perdidos devido ao desmatamento, o que representa um aumento de 67,7% em comparação ao ano anterior e a primeira vez em que a área desmatada do Cerrado supera a da Amazônia desde o início da divulgação do Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD), feito pela rede MapBiomas.
O Cerrado é apelidado de “Coração das Águas” em uma campanha que visa criar conscientização acerca desse bioma e sua importância. Essa região possui milhares de nascentes que são cruciais para o abastecimento de várias cidades, da indústria e da agropecuária, além de alimentar os ecossistemas do Pantanal, da Caatinga e da Mata Atlântica.
Em toda a América do Sul, o Cerrado ocupa o segundo maior espaço e é essencial em diversos aspectos. Ele está presente em 11 estados brasileiros e no Distrito Federal, abrigando aproximadamente 12% da população do país, o que equivale a cerca de 25 milhões de pessoas, assim como 80 etnias indígenas e diversas comunidades tradicionais. Embora contribua com quase metade da água doce disponível no Brasil, a transformação de áreas nativas do Cerrado em pastagens e áreas agrícolas já resultou em um aumento de quase 1°C na temperatura regional e uma diminuição de 10% na umidade, conforme aponta um estudo divulgado na prestigiada revista Global Change Biology.
Com uma biodiversidade rica, o Cerrado é considerado a savana mais antiga e variada do planeta, com mais de 12 mil espécies de plantas catalogadas. Além disso, abriga pelo menos 2.373 espécies de vertebrados, sendo que cerca de um quinto delas são exclusivas desse bioma.
A riqueza do Cerrado também se estende ao subsolo, onde se encontra uma “floresta invertida”, composta por árvores com raízes profundas que funcionam como uma esponja gigantesca, acumulando e liberando água das chuvas ao longo do ano. A vegetação, ao ser desmatada, provoca compactação e erosão do solo, comprometendo a capacidade de retenção hídrica e prejudicando os rios que fluem por todo o bioma.
A campanha “Cerrado, Coração das Águas” foca na importância da água como recurso vital. O objetivo é destacar o Cerrado como condição necessária para a vida no evento da COP em Belém, previsto para ocorrer em 2025. “Queremos que todos compreendam a relevância do Cerrado para nossas vidas e para a agropecuária”, afirma Yuri Salmona, diretor-executivo do Instituto Cerrados.
Este bioma contribui com 60% de toda a produção agrícola brasileira, abrangendo produtos como soja, milho e algodão. O Cerrado responde por 14% da produção mundial de soja e 16% da carne. No entanto, as variações climáticas provocadas pela expansão das atividades agrícolas, que são a principal causa do desmatamento, têm afetado o clima local e regional, levando à redução da produtividade e ao aumento das dificuldades da produção agrícola.
“Estimativas indicam que cerca de 28% das áreas cultivadas de milho e soja na região Centro-Oeste estão fora da faixa climática ideal para seu cultivo, previsões indicam que esse número pode subir para 70% em um período de 30 anos”, explica Ane Alencar, especialista do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), referindo-se a um estudo publicado na revista Nature Climate Change. Além disso, a estação chuvosa agrícola já está 36 dias defasada e a quantidade de chuvas diminuiu 8,6% em relação à média no Cerrado.
As medidas para conter o avanço do desmatamento no Cerrado são bastante limitadas. O Código Florestal brasileiro exige que pelo menos 20% da área dos imóveis rurais nesse bioma seja conservada com vegetação nativa, aumentando para 35% em áreas inseridas na Amazônia Legal. Na Amazônia, a legislação obriga que propriedades privadas mantenham até 80% de sua área com vegetação nativa, o que representa uma inversão da proteção no Cerrado. Além disso, há uma escassez de Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas, que ocupam apenas 8,6% e 4,8% do Cerrado, respectivamente.
“As chances de aumentar essa porcentagem são baixas, em função do alto custo das terras e os recursos limitados do governo para a criação de novas áreas protegidas”, declara Isabel Figueiredo, coordenadora do Programa Cerrado do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).
O atual estado do Cerrado é alarmante, com mais de 20 mil km² desmatados nos últimos dois anos. O bioma também está enfrentando os efeitos da crise climática, que o torna cada vez mais quente e seco. Os incêndios florestais, frequentemente causados por atividade humana, perpetuam essa degradação. É imprescindível reverter esse cenário catastrófico, garantindo a preservação dos serviços ecossistêmicos do bioma e a restauração das áreas já destruídas”, enfatiza Bianca Nakamato, especialista em conservação do WWF-Brasil.
Cerrado, Coração das Águas
Para quem está em Brasília, haverá um evento no próximo domingo (15) no Eixão do Lazer, chamado “Domingo do Cerrado no Eixão”. Essa iniciativa foi organizada visando promover a conscientização sobre a importância do bioma que sustenta a capital do país. Comemorações pelo Dia Nacional do Cerrado (11/9) incluem uma série de atividades culturais e lúdicas, como a Corrida de Toras, realizada por mulheres indígenas das etnias Timbira e Xavante, além de opções de entretenimento para crianças, shows musicais ao vivo, distribuição de materiais informativos e uma estação de hidratação com sucos de frutas típicas do Cerrado.
O evento integra a campanha “Cerrado, Coração das Águas”. Para mais informações sobre a iniciativa, acesse o site aqui.
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