Quase 60% do desmatamento da Amazônia vem do mercado doméstico
Um estudo recente revelou que quase 60% do desmatamento na Amazônia é resultado do mercado doméstico brasileiro, enquanto apenas 23% é causado pela demanda internacional. A pesquisa, conduzida por Eduardo Haddad e colaboradores e publicada na revista Nature Sustainability, destaca que a manutenção da área preservada e a recuperação de porções degradadas são necessidades urgentes para evitar os riscos de colapso nos ecossistemas da região.
Atualmente, a Amazônia Legal Brasileira (ALB) já teve 23% de sua área desmatada e mais de 1 milhão de km2 estão degradados. A região, que compreende toda a parte da Bacia Amazônica situada no Brasil e porções do Cerrado, corresponde a quase 60% do território nacional. O desmatamento na ALB é resultado da demanda por commodities, tanto no mercado interno quanto no internacional.
O estudo de Haddad e sua equipe adotou uma metodologia que analisou o desmatamento a partir da perspectiva da demanda, identificando as fontes de estímulos econômicos para que os setores produtivos se envolvam na destruição das florestas. De acordo com os resultados, 83,17% do desmatamento foram desencadeados por demandas de fora da Amazônia, enquanto apenas 16,83% partiram da própria região. Dentro dos 83,17%, 59,68% foram causados por demandas do restante do Brasil e 23,49% por demandas do comércio internacional.
A pesquisa também apontou as mudanças no uso da terra como principais causas do desmatamento na Amazônia. A expansão da pecuária impulsionada pelo crescimento do consumo de carne, produtos lácteos e couro em outras regiões do país foi responsável por 61,63% dos desmatamentos relacionados à demanda interna e 21,06% dos desmatamentos relacionados à demanda internacional. Já as atividades agrícolas, como a produção de soja, milho e algodão, responderam por 58,38% do desmatamento para a exportação e 41,62% para o mercado interno.
Além da pressão econômica, o desmatamento na Amazônia também está associado a atividades ilegais, como a grilagem de terras. Um estudo recente mostrou que metade do desmatamento na Amazônia Legal Brasileira nas últimas duas décadas ocorreu em terras públicas ocupadas ilegalmente por grileiros.
Diante desses dados, é fundamental que políticas públicas e ações da sociedade civil sejam direcionadas para a preservação e regeneração da Amazônia. O controle do desmatamento e da degradação é essencial para que o Brasil cumpra suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, uma vez que as mudanças no uso da terra são as principais fontes de emissões de dióxido de carbono no país.
O estudo destaca a importância de entender o desmatamento na Amazônia não apenas pela sua perspectiva de oferta, ou seja, quais setores produtivos estão promovendo a substituição das florestas, mas também pela perspectiva da demanda, identificando as fontes de estímulos econômicos para o desmatamento. Essa abordagem ampliada pode orientar ações mais efetivas na conservação da Amazônia e na busca por um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental.
Fonte: Guia Região dos Lagos