Apicultura sustentável pode ajudar a salvar as abelhas da extinção
Tudo no planeta está interligado, e algumas espécies em especial têm uma importância enorme, apesar do tamanho pequeno. É o caso das abelhas, que são fundamentais para a biodiversidade e o equilíbrio ambiental. Isso ocorre porque elas polinizam as plantas e garantem a existência de muitas espécies da fauna, incluindo os alimentos que consumimos.
De acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cerca de 70% dos vegetais consumidos pelos humanos e outros animais herbívoros dependem da polinização para se tornarem viáveis. Sem essas eficientes polinizadoras, alguns alimentos importantes para uma dieta saudável e equilibrada, como frutas, legumes e verduras, não podem ser produzidos. Infelizmente, a perda de habitat e o uso de agrotóxicos ameaçam diversas espécies de abelhas.
A aplicação errada de defensivos agrícolas no Mato Grosso resultou na perda de mais de 100 milhões de abelhas criadas para produção de mel. No entanto, o risco das abelhas criadas em cativeiro é muito menor do que o dos animais selvagens, explica Daniel Cavalcante, doutor em Tecnologia de Alimentos, presidente da Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (A.B.E.L.H.A.) e CEO da Baldoni Agroindústria.
Além de garantir áreas verdes e espécies nativas para a alimentação das abelhas, é preciso repensar o uso de substâncias tóxicas e criar ambientes em que elas possam se reproduzir e viver sem ameaças. Nesse contexto, a apicultura torna-se um caminho para evitar o declínio da população de abelhas no planeta. A criação de abelhas envolve mais de 20 mil espécies de abelhas em todo o mundo, sendo 3 mil delas apenas no Brasil.
As mudanças climáticas, a atividade agrária e o uso indiscriminado de defensivos agrícolas nas lavouras podem reduzir drasticamente ou até mesmo extinguir muitas espécies dessas polinizadoras nos próximos 30 a 50 anos. A apicultura, que consiste na criação de abelhas para extração de mel e outros produtos da colmeia, quando praticada de maneira responsável do ponto de vista ambiental, pode ser uma forma de aumentar essas populações.
As abelhas realmente estão desaparecendo, e existe um risco sério de desaparecimento desses animais a médio prazo. As espécies que correm maior perigo atualmente são as silvestres. No entanto, as abelhas domesticadas, aquelas criadas em apiários para produção de mel e outros derivados, também estão desaparecendo em um ritmo preocupante, conta Daniel.
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Concordia, no Canadá, revelou que as abelhas selvagens, em geral, são menores do que as abelhas domesticadas. Os animais silvestres não possuem ferrão e não são capazes de voar grandes distâncias para buscar alimentos, o que coloca essas espécies, como a brasileira Jataí, em maior vulnerabilidade.
A apicultura sustentável envolve cuidados que vão muito além das colmeias, como o trabalho de preservação da vegetação local e o plantio de flores e plantas características da região onde o apiário está instalado. Ações como essa podem ser a chave para manter o equilíbrio entre as populações de abelhas domésticas e selvagens, já que, com uma maior oferta de alimentos, os animais não precisarão entrar em disputas por território ou comida, o que pode permitir que as abelhas melíferas sejam mais produtivas.
O Brasil é um terreno fértil para a prática responsável da apicultura, sendo possível criar abelhas com bem-estar e construir ambientes onde espécies nativas e produtoras convivam em harmonia. No entanto, esse potencial ainda é pouco explorado, com um espaço muito grande para o crescimento e desenvolvimento da atividade apícola em território nacional, comenta Daniel.
A Baldoni possui uma visão bastante moderna sobre seu modo de produção. Nos locais onde colhemos a matéria-prima para os méis de flores silvestres e orgânicos, por exemplo, temos uma preocupação imensa em manter os biomas intocados. Isso melhora a qualidade do produto, mas também impacta positivamente no bem-estar das abelhas e, consequentemente, na manutenção das espécies domesticadas e selvagens, finaliza o CEO.
Petição para proteger as abelhas
Para ajudar a preservar as abelhas no Brasil, o Greenpeace lançou um manifesto online que visa fortalecer uma agricultura sem agrotóxicos, priorizando produtores que respeitam a natureza, como a agroecologia e a agricultura familiar. Segundo a ONG, nos últimos cinco anos, mais de 500 milhões de abelhas morreram em solo brasileiro, principalmente devido aos agrotóxicos. Se nada for feito, a previsão é que essa população diminua em 13% até 2050. Pela saúde das abelhas e pela nossa saúde, é necessário nos unirmos para protegê-las.
(Fonte: Guia Região dos Lagos)