Bióloga brasileira Fernanda Abra vence prêmio máximo da Conservação

Fernanda Abra

Prêmio Whitley de Conservação da Natureza reconhece trabalho pioneiro de bióloga brasileira na Amazônia

A bióloga brasileira Fernanda Abra está sendo reconhecida pela instituição de caridade britânica Whitley Fund for Nature (WFN) com o Prêmio Whitley por seu trabalho inovador na construção e monitoramento de pontes de baixo custo sobre a rodovia BR-174, na floresta amazônica. Fernanda planeja expandir a iniciativa, que utiliza pontes de dossel para proteger mamíferos arborícolas, para outras rodovias da Amazônia.

Como pesquisadora associada do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), uma ONG brasileira, Fernanda pretende utilizar as pontes de dossel para beneficiar primatas ameaçados de extinção, como o macaco-aranha da Guiana, e outros mamíferos. O Brasil é conhecido por ser o país com maior biodiversidade do mundo, e Fernanda quer expandir seu trabalho para uma das áreas mais desmatadas da Amazônia.

No Brasil, 40% das espécies de primatas estão ameaçadas de extinção, e a fragmentação das florestas e os impactos causados pelas rodovias estão entre as principais ameaças que enfrentam. O país possui a quarta maior rede rodoviária do mundo, e o presidente Lula anunciou recentemente um programa de gastos para impulsionar a infraestrutura, incluindo a construção de novas rodovias.

Fernanda, que também é pós-doutoranda no Zoológico Nacional e no Instituto de Biologia de Conservação do Smithsonian, busca abordar a escassez de pesquisas sobre o assunto no Brasil, monitorando sistematicamente o uso das pontes pela vida selvagem. Essa abordagem é uma das poucas iniciativas baseadas em ciência no país que se concentra nas ameaças das estradas para os mamíferos arborícolas, como a perda de conectividade na copa das árvores e a mortalidade causada por colisões de veículos.

Um aspecto fundamental para o sucesso do projeto de Fernanda, chamado de “Projeto Reconnecta”, foi o envolvimento e apoio do povo indígena Waimiri-Atroari. Esse povo, cujo território é considerado um dos mais bem preservados da Amazônia, teve suas terras cortadas pela rodovia federal BR-174 e há décadas luta pela construção de pontes artificiais na copa das árvores. A construção da rodovia gerou um aumento no desmatamento ilegal e resultou no genocídio do povo Waimiri-Atroari, de acordo com as Nações Unidas.

Mais de 150 pessoas do povo Waimiri-Atroari participaram da construção e instalação das pontes ao longo de um trecho de 125 km da rodovia. Além disso, Fernanda colaborou com agências federais de transporte e meio ambiente, como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), e também com a Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

Desde a construção das 30 pontes artificiais na copa das árvores para a restauração da conectividade da floresta em 2022, as pontes têm sido utilizadas por oito espécies de primatas, sendo o sagui-de-mão-dourada o usuário mais frequente. Cada ponte é monitorada com armadilhas fotográficas, registrando o número de animais que se aproximam, atravessam ou evitam as pontes. Até o momento, foram registradas mais de 500 travessias bem-sucedidas ao longo de um período de 11 meses. Espera-se que esse número aumente à medida que os mamíferos se acostumem com as pontes.

As pontes na copa das árvores são compostas por cabos de aço, cordas e redes de nylon, ancoradas por postes de concreto. Fernanda utilizou dois designs diferentes para as pontes, a fim de entender qual é o preferido pelas diferentes espécies. O custo médio dos materiais utilizados para cada ponte foi de cerca de £1.500. Com o financiamento do Prêmio Whitley, Fernanda planeja medir o sucesso das pontes em aumentar a conectividade do habitat para as espécies arbóreas e reduzir a mortalidade por atropelamento na BR-174, além de expandir o projeto para a cidade de Alta Floresta, em Mato Grosso.

Fernanda espera garantir o apoio do governo federal para seu trabalho e pretende se reunir com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e com o Ministro dos Transportes, Renan Filho, para discutir o potencial de expandir o Projeto Reconecta para outras rodovias na Amazônia e em outros biomas florestais no Brasil. Além disso, ela pretende treinar mais de 200 pessoas dos órgãos federais de transporte e meio ambiente que trabalham com licenciamento ambiental para rodovias em nove estados da Amazônia brasileira, como parte de seus esforços para estabelecer uma cultura de infraestrutura sustentável.

A premiação aconteceu no início de maio na Royal Geographical Society, e contou com a presença da Princesa Real Anne, que entregou o prêmio a Fernanda. Desde que foi criado, há 30 anos, o Prêmio Whitley vem reconhecendo alguns dos mais impressionantes líderes de conservação do mundo. O naturalista britânico David Attenborough, embaixador da WFN e apoiador de longa data da instituição, destacou a importância dos vencedores do prêmio, que combinam conhecimento científico e engajamento com as comunidades. Fernanda Abra se tornou uma dessas importantes líderes, contribuindo para a proteção da biodiversidade e a preservação da Amazônia.

Fonte: Guia Região dos Lagos

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