No Brasil, a falta de acesso à água tratada é um problema enfrentado por cerca de 32 milhões de pessoas. Além desse cenário preocupante, outro fator que agrava ainda mais a situação é o alto índice de perdas na distribuição de água, onde 37,78% do recurso é desperdiçado antes mesmo de chegar às residências. Esses dados alarmantes fazem parte de um novo estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a consultoria GO Associados.
O estudo, intitulado “Estudo de Perdas de Água 2024 (SNIS, 2022): Desafios na Eficiência do Saneamento Básico no Brasil”, busca expor o grave problema econômico e social da ineficiência no controle das perdas de água no país, além das barreiras para a universalização do saneamento básico.
Dentre as causas das perdas de água, destacam-se os vazamentos, erros de medição e consumo não autorizado. Esses desperdícios têm impactos negativos tanto para o meio ambiente quanto para as empresas responsáveis pelo abastecimento, uma vez que aumentam os custos de produção e a receita das empresas. Isso resulta em um sistema mais caro para todos os usuários.
Apesar de ser ideal reduzir as perdas de água a zero, a literatura sobre o tema aponta que isso é inviável devido a limitações econômicas e técnicas. Ou seja, em determinado ponto, o custo para eliminar as perdas se torna superior ao volume de água recuperado, e as tecnologias atuais de materiais, ferramentas e logística também impõem um volume mínimo de perdas.
No Brasil, a definição de níveis aceitáveis de perdas de água foi estabelecida pela Portaria 490/2021 do Ministério do Desenvolvimento Regional. Segundo essa portaria, para que um município seja considerado com níveis excelentes de perdas, é necessário que o índice de perdas na distribuição não ultrapasse 25% e que sejam registradas perdas por ligação de até 216 L/ligação/dia.
Caso fosse possível reduzir as perdas de água dos atuais 37,78% para os 25% estabelecidos pela portaria, seria possível economizar um volume de água da ordem de 1,3 bilhão de m³. Essa quantidade de água é equivalente ao consumo médio de aproximadamente 22 milhões de brasileiros em um ano, mais da metade da quantidade de habitantes sem acesso ao abastecimento de água em 2022.
Considerando apenas as perdas físicas, ou seja, os vazamentos, o volume desperdiçado de mais de 3,6 bilhões de m³ seria suficiente para abastecer aproximadamente 54 milhões de brasileiros em um ano. Esse valor corresponde a mais de um quarto da população do país em 2022 e está bem acima do número de habitantes sem acesso ao abastecimento de água.
Além dos impactos socioeconômicos, as perdas de água também têm consequências ambientais significativas. A redução dessas perdas permitiria uma disponibilidade maior de recursos hídricos sem a necessidade de captação em novos mananciais, o que resultaria em menores custos e menor impacto ambiental.
A universalização do saneamento básico está diretamente ligada aos esforços para aumentar a eficiência no controle e na redução das perdas de água. Atualmente, o país enfrenta desafios para atingir as metas estabelecidas pelo Novo Marco Legal do Saneamento Básico, que prevê a oferta de água potável a 99% da população até 2033. Portanto, é fundamental combater as perdas de água para garantir o acesso pleno a esse recurso vital para todos os brasileiros.
Com as mudanças climáticas em curso, os desafios para garantir a disponibilidade hídrica nos mananciais se tornam ainda mais evidentes. Por isso, a redução das perdas de água é essencial para evitar captações excessivas e explorar novos mananciais, causando ainda mais danos ao meio ambiente. Para alcançar o objetivo de reduzir as perdas na distribuição de água para 25% até 2034, é necessário investir em políticas públicas, projetos e inovações que melhorem a eficiência do sistema de distribuição.
O estudo completo do Trata Brasil apresenta comparativos entre estados, regiões do país e até mesmo com o cenário internacional. Além disso, destaca os possíveis ganhos econômicos decorrentes da redução das perdas de água potável no Brasil. É importante ressaltar que a conscientização e a participação de toda a sociedade são fundamentais nesse processo, uma vez que a economia de água é responsabilidade de todos.