Tênis “vivos” podem absorver dióxido de carbono da atmosfera
Muitas marcas se esforçam para oferecer produtos com uma pegada ambiental cada vez menor, que emitem menos CO2 na sua produção. Mas a ideia da designer americana Jessica Thies vai além. Ela desenvolveu um conceito de um calçado impresso com tinta contendo algas vivas capazes de absorver dióxido de carbono da atmosfera.
O projeto ganhou o nome de Synthiesis e tem como base uma pesquisa da própria designer Thies sobre materiais vivos que ela acredita que podem ajudar a indústria da moda a reduzir seu impacto ambiental. Os sapatos criados por Jessica são construídos a partir de um tecido de cânhamo que é impresso com uma tinta de base biológica com células de microalgas adicionadas pela designer.
A adição de algas à tinta de impressão transforma os sapatos no que o designer chamou de “objetos ativos”, que agem como organismos vivos em certos aspectos. “O benefício de adicionar microalgas vivas é que elas podem realizar fotossíntese para absorver dióxido de carbono”, explica ela.
Para sustentar os organismos, os sapatos seriam alimentados com nutrientes e cianobactérias produtoras de oxigênio, usando um sistema hidropônico semelhante aos desenvolvidos para irrigar plantas.
Sem os nutrientes suplementares, as algas podem permanecer vivas no sapato por até quatro semanas mas devem durar mais se mantidas corretamente, de acordo com a pesquisa. Uma vez que as algas morrem, Thies notou que a cor da clorofila que elas produzem gradualmente desaparece.
As solas atuais são feitas de espuma de poliuretano, mas o designer espera que elas possam ser produzidas a partir de um material de base biológica e biodegradável no futuro.
Thies disse que focou em calçados devido aos desafios enfrentados por esse segmento para mitigar seu impacto ambiental. Ela destacou que os calçados exigem vários componentes que nem sempre são recicláveis ou biodegradáveis, o que leva a uma grande quantidade de resíduos.
Consumo e cuidado conscientes
O tênis não é um produto comercializado, mas sim o projeto da tese de mestrado de Jessica na Parsons School of Design e tem como objetivo mostrar o uso de materiais vivos, suas possibilidades e implicações.
Em particular, Thies sente que é importante considerar como os humanos cuidarão de objetos com componentes vivos. Ela propõe novos rituais para esses objetos, semelhantes a como cuidamos de plantas domésticas.
“Acredito que se simplesmente substituirmos materiais sintéticos por materiais de origem biológica, não abordaremos os principais problemas do consumo excessivo e da exploração do mundo natural”, disse ela.
O projeto também destaca as questões ambientais mais amplas que envolvem os materiais de origem biológica, que podem ir além da maneira como nós, humanos, os usamos e interagimos com eles.
“Há um risco de que nos precipitemos na criação de materiais com biotecnologias sem considerar todas as implicações potenciais”, disse Thies. “Isso é especialmente verdadeiro para materiais vivos, pois poderíamos introduzir um tipo não nativo de alga ou bactéria em um novo ambiente e impactar espécies nativas”.
Ela acrescentou que, diferentemente de outros materiais vivos, que normalmente são desnaturados no momento em que são convertidos em produtos, a necessidade de manter os objetos vivos exigirá uma mudança no comportamento humano.
“Sinto que é importante que os consumidores tenham uma nova consciência e conexão com seus objetos manufaturados e assumam a responsabilidade por seus hábitos de consumo”, ela acrescentou. “Este sapato ajuda a construir essa consciência”.