Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas é Inaugurado em São Paulo
O Brasil deu um importante passo na preservação de suas riquezas culturais com o lançamento do Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas do Brasil, concretizado com um investimento de R$ 14,5 milhões fornecido pela FAPESP. A iniciativa foi lançada em 20 de maio de 2025, fruto de uma colaboração entre o Museu da Língua Portuguesa e o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP). Este centro é voltado para a documentação, preservação e promoção das línguas indígenas no país.
Parcerias Institucionais e Iniciativas de Colaboração
Durante o lançamento, representantes da FAPESP e do Ministério dos Povos Indígenas assinaram um Protocolo de Intenções visando fortalecer a cooperação em pesquisas relacionadas aos povos indígenas brasileiros. A ministra dos Povos Indígenas destacou o centro como um símbolo de resistência e reconhecimento da importância das comunidades indígenas, referindo-se às línguas indígenas como “bibliotecas vivas” que, se extintas, significam uma enorme perda de conhecimento.
O Significado Cultural e Político da Iniciativa
Referindo-se ao lançamento do centro, a ministra enfatizou que se tratava não apenas de uma inauguração, mas do desabrochar de uma memória viva e de um compromisso com o futuro. A ministra declarou que a língua carrega território, identidade, modos de viver e, portanto, o centro atuará como uma semente para políticas públicas, materiais pedagógicos e reconhecimento cultural.
Desafios e Objetivos do Novo Centro
O Brasil, apesar de ter o português como idioma oficial, é coberto por uma diversa gama de línguas indígenas faladas por mais de 300 povos. Com 274 línguas diferentes, sendo que cerca de 20% delas nunca foram estudadas, muitas correm o risco de desaparecer. Nesse contexto, o novo centro dedicará esforços para documentar e registrar palavras e expressões dentro dos contextos culturais indígenas. A documentação ocorrerá por meio de textos, áudios e vídeos, capturando práticas culturais como a fabricação de artefatos e o manejo de recursos naturais.
Importância da Ciência e Tecnologia
Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, destacou o papel essencial da ciência e tecnologia na preservação das línguas indígenas. A integração de diversas disciplinas, como antropologia e linguística, aliadas a tecnologias digitais, possibilitará um maior apreço pela sociedade em relação a essas línguas e tradições culturais, ajudando a proteger esses patrimônios do esquecimento.
Três Frentes de Atuação
A iniciativa funcionará em três frentes principais: pesquisa e documentação, desenvolvimento de um repositório digital de acesso livre e fomento à comunicação cultural. O plano de trabalho de cinco anos inclui a construção de um espaço digital para intercâmbio contínuo entre a academia e os povos indígenas. As comunidades indígenas terão um papel central, decidindo sobre a acessibilidade dos conteúdos.
Desafios Regionais e Multilíngues
O projeto focará inicialmente em regiões estratégicas como Rondônia e a Região das Guianas, notórias por sua diversidade linguística e impossibilidades econômicas, como a exploração de petróleo. Essas situações podem causar deslocamento e alterar o cenário socioambiental, tornando a documentação das línguas nessas áreas ainda mais crucial.
Intercâmbio Cultural e Pesquisa
Eduardo Góes Neves, diretor do MAE-USP, destacou que não há registros de outras instituições no mundo abordando a linguagem e cultura indígena na magnitude planejada por este novo centro. Essa parceria, inédita entre o MAE e o Museu da Língua Portuguesa, combinará a expertise em acervo com habilidades de comunicação, prometendo resultados significativos.
Imperativo Global e Responsabilidade Nacional
Renata Motta, do Museu da Língua Portuguesa, apontou a relevância da iniciativa no fortalecimento das identidades indígenas enquanto vivemos a Década Internacional das Línguas Indígenas pela Unesco. Isso representa um compromisso firme do país com a diversidade cultural, justiça linguística e a dignidade dos povos indígenas.
Em sua conclusão, a ministra reiterou que a cultura indígena é dinâmica e vital, significando não apenas uma lembrança do passado, mas uma presença ativa no presente e um pilar do futuro. A construção do centro, assim, é um marco na trajetória de reafirmação da riqueza cultural do Brasil.