Sign In

Solo produtivo: métodos do MST suportam as chuvas no RS

Solo produtivo: métodos do MST suportam as chuvas no RS

“`html

Resiliência em meio a desastres: técnicas agroecológicas se destacam no Rio Grande do Sul

Técnicas agroecológicas no assentamento Integração Gaúcha - RS
Foto: Divulgação

Após uma catástrofe natural que devastou cerca de três milhões de hectares de terra no Rio Grande do Sul por causa das inundações em maio do ano anterior, uma história inspiradora emergiu. O assentamento Integração Gaúcha, ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), localizado em Eldorado do Sul, próximo a Porto Alegre, destacou-se em meio ao caos.

Apesar da destruição provocada pelas cheias, que submergiram a cidade e impactaram o assentamento de maneira semelhante, o solo do local permaneceu quase intacto. Embora a produção agrícola tenha sido completamente perdida, incluindo grandes quantidades de alimentos, a reintrodução do cultivo ocorreu em menos de 90 dias, ao contrário de outras propriedades da região, que ainda lutam para se recuperar.

Solo resistente às inundações na agroecologia do RS
Foto: Divulgação

A razão principal para a preservação do solo pode ser atribuída à forma como a terra é manejada. Diferentemente da agricultura convencional, que expõe o solo, o assentamento adota uma estratégia que assegura uma cobertura vegetal contínua, respeitando os ciclos naturais e promovendo a rotação de culturas. Estes métodos são cruciais para proteger a terra da erosão e da degradação.

Cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) analisaram amostras do solo do assentamento e descobriram que não ocorreram alterações significativas nas propriedades físicas e químicas da terra. “Realizamos intervenções após a tragédia, incluindo coletas de solo. Os resultados revelaram que o solo mantém altos níveis de fósforo e potássio, sem acidificação”, afirmou o professor Paulo César do Nascimento, um dos responsáveis pela pesquisa.

O relevo plano de Eldorado do Sul também contribuiu para atenuar os impactos das inundações. Apesar de a região ter permanecido submersa por cerca de 30 dias, as práticas agroecológicas e a cobertura vegetal desempenharam um papel essencial na conservação da qualidade do solo. “Esse sistema agroecológico foi fundamental para manter as características do solo praticamente inalteradas”, conclui Nascimento.

Embora seja um assentamento rural, o Integração Gaúcha demonstrou uma impressionante capacidade produtiva. A expectativa para a safra atual é de mais de 100 mil sacas de arroz, equivalente a cerca de 7,5 mil toneladas, além de uma vasta produção de hortaliças que atende feiras orgânicas em Porto Alegre.

Produção orgânica no assentamento Integração Gaúcha
Foto: Divulgação

O assentamento, que foi criado no início da década de 1990 em terras inativas do Instituto Rio Grandense do Arroz, abrigou famílias de várias partes do estado. Com o passar do tempo, o local tornou-se um símbolo de produção orgânica de arroz, hortaliças e leite.

Embora esteja a mais de cinco quilômetros do rio Jacuí, uma área geralmente livre de alagamentos severos, o Integração Gaúcha foi surpreendido pelas cheias em 2 de maio de 2024. Muitas famílias receberam alertas de evacuação, mas não acreditaram que a água atingiria aquela região. Treze pessoas que hesitaram em evacuar precisaram ser resgatadas com um barco, adquirido por meio de uma vaquinha entre os moradores.

Os agricultores afirmam que a prefeitura de Eldorado do Sul não conseguiu prestar assistência devido à calamidade pública que afetou toda a cidade. No entanto, os moradores se uniram e, atualmente, produzem e doam mais de mil marmitas por dia para abrigos na região, utilizando alimentos cultivados no assentamento.

José Mariano Matias, que reside no assentamento há 33 anos, lembra de dificuldades anteriores, como os cinco anos e meio que passou acampado antes da reforma agrária e o impacto da pandemia nas vendas, mas afirma que nada se compara ao desafio imposto pela enchente. “A maioria das pessoas saiu apenas com a roupa do corpo; isso foi uma verdadeira prova de resistência”, recorda.

Gabriel Matias, seu filho e estudante de agronomia, enfatiza que as práticas agroecológicas foram cruciais durante a crise: “A cobertura vegetal funcionou como uma barreira que impediu que a água arrastasse o solo. devido à riqueza da terra, formou-se uma crosta na superfície que evitou a infiltração.”

No início, muitos moradores desejavam ser reassentados, mas com a rápida recuperação da produção, esse desejo diminuiu consideravelmente. Atualmente, menos de um terço dos assentados ainda considera essa possibilidade.

Desafios enfrentados pelos assentados após enchente
Foto: Legenda

Amarildo Mulinari, que cultiva arroz, é uma das pessoas que está considerando a possibilidade de deixar a área devido ao receio de futuras inundações. No caso de realocação, as famílias precisam retornar à fila da reforma agrária e esperar por novas terras. “Esse desastre é resultado da ganância do agronegócio. É evidente a destruição dos biomas. A água voltará. Sem vegetação ribeirinha, os rios vão assorear. Aqui, damos o nosso melhor, mas o que nos cerca não é apropriado”, alerta.

Embora os assentados apoiem iniciativas do governo federal, Mulinari critica que a ajuda ainda não tem sido suficiente. Os moradores receberam um auxílio emergencial de R$ 5,1 mil, como outros afetados, mas a recuperação total da produção demandará mais investimento. Apenas a bomba de irrigação para o arroz, que foi perdida nas inundações, tem um custo de R$ 35 mil. “Durante a pandemia, doamos dez caminhões de alimentos e mais de 54 mil marmitas só em julho. Queremos continuar ajudando, mas precisamos de apoio”, destaca.

O governo federal divulgou que, através do Incra, está implementando ações para apoiar áreas de reforma agrária afetadas, liberando R$ 172,8 milhões em créditos extraordinários. Em Eldorado do Sul, 390 famílias receberão financiamento produtivo e 79 terão acesso a uma linha de crédito habitacional para aqueles que tiveram suas casas danificadas. Além disso, o Incra demonstrou interesse em comprar imóveis estaduais para reassentar famílias e está avaliando áreas privadas, contando com o auxílio do Banco do Brasil e cadastros de devedores da União.

Fonte: Guia Região dos Lagos

“`

Ajude-nos e avalie esta notícia.

Related Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *