Impacto de Polluentes Farmacêuticos no Comportamento do Salmão-do-Atlântico

Uma pesquisa recente confirmou que substâncias químicas usadas na medicina têm afetado o comportamento dos salmões-do-Atlântico. O estudo, publicado na respeitada revista Science, mostrou que a exposição a benzodiazepínicos altera o comportamento natural desses peixes, tornando-os mais arrojados e suscetíveis a ações de risco durante a migração.
De acordo com os pesquisadores, embora os salmões expostos a essas substâncias apresentem uma migração mais eficiente em comparação aos que não tiveram esse contato, é importante notar que essa mudança comportamental pode acarretar riscos consideráveis no futuro. A presença de medicamentos no sistema nervoso dos peixes sugere uma alteração em suas práticas migratórias, o que levanta preocupações sobre sua sobrevivência a longo prazo.

Jack Brand, biólogo da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas, comentou que, à primeira vista, a administração de medicamentos aos peixes pode parecer vantajosa. No entanto, ele alerta que mudanças no comportamento natural dos salmões podem provocar consequências negativas e duradouras sobre a população.
A pesquisa foi realizada ao longo de vários anos, incluindo experimentos laboratoriais e em campo, com o medicamento anticonvulsivante Clobazam, utilizado para observar o comportamento do salmão migratório do Atlântico. Um total de 279 jovens salmões receberam implantes com uma dosagem correspondente àquela encontrada em seus habitats aquáticos.
Durante o processo migratório pelo Rio Dal, seguindo em direção ao Mar Báltico, os salmões enfrentaram barreiras formadas por duas barragens hidrelétricas. Os resultados mostraram que os peixes que continham Clobazam no sistema nervoso atravessaram esses obstáculos significativamente mais rápido que os não expostos, alcançando o mar em menos tempo.
Os pesquisadores acreditam que essa rapidez pode estar relacionada à tendência dos salmões medicados de se distanciar de seus cardumes para evitar as barreiras de forma mais eficaz. Além disso, em testes realizados em laboratório, os salmões sob efeito do medicamento demonstraram um aumento na disposição para correr riscos, além de uma diminuição na sociabilidade.

Em um contexto de conservação, em 2023, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) categorizou o salmão-do-Atlântico como “Quase Ameaçado”, destacando uma queda de 23% na população global entre os anos de 2006 e 2020. Os cientistas sobressaem a necessidade de um acompanhamento rigoroso da poluição farmacêutica e da bioacumulação que pode impactar populações vulneráveis como essa e outras espécies aquáticas.
O pesquisador Michael Bertram, coautor da pesquisa e professor assistente da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas, enfatizou a importância de investigações adicionais sobre os impactos em longo prazo dessas substâncias químicas. Uma das consequências mais alarmantes do uso de medicamentos é a redução da sociabilidade, que pode expor os salmões a riscos mais elevados de predadores e a maiores chances de se ferirem ou morrerem devido a obstáculos, como turbinas de usinas hidrelétricas.
Outra questão preocupante envolve os efeitos sinérgicos de várias substâncias poluentes presentes na água. A ecotoxicologista Karen Kidd, da Universidade McMaster, expressou a incerteza em relação ao que a combinação de diferentes classes de medicamentos, como ansiolíticos e antibióticos, está causando para os peixes e outras formas de vida aquática, considerando que é uma questão que demanda atenção global.
Estudos recentes têm evidenciado os impactos adversos dos poluentes farmacêuticos sobre a fauna aquática. Em uma investigação recente, por exemplo, cientistas observaram que a exposição à fluoxetina, uma medicação antidepressiva conhecida popularmente como Prozac, afetou tanto a condição física quanto a motilidade do esperma de guppies selvagens. Outro estudo de 2022 revelou a presença generalizada de contaminantes farmacêuticos em cursos d’água, ameaçando não somente a vida aquática, mas também a saúde humana.
Esses achados ressaltam a continuidade da pesquisa sobre os efeitos da poluição ambiental na biologia e ecologia das espécies, especialmente em um momento em que a preservação da biodiversidade torna-se cada vez mais urgente.