Pesquisadores indígenas recebem prêmio por inovações tecnológicas.

grafismos

A Quinta Edição do Edital Elos da Amazônia Premia Inovações Indígenas

A quinta edição do edital Elos da Amazônia, voltada para o Empreendedorismo Científico Indígena, destacou dois cientistas indígenas que apresentaram soluções tecnológicas inovadoras que interligam a sustentabilidade, a cultura e a atividade empresarial. Dos 55 projetos que se inscreveram, que contemplaram cinco estados da Amazônia Legal, os projetos vencedores foram o ManioColor, de Sioduhi Paulino de Lima, e o IKABEN, de Joeliton Vargas Moraes.

Paulo Simonetti, gestor de Inovação em Bioeconomia do Idesam, enfatiza a importância do empreendedorismo indígena para alterar a situação de inserção de indivíduos indígenas no mercado de trabalho. “Embora a presença indígena nas universidades tenha aumentado, isso ainda não se reflete no mercado de trabalho. O fomento ao empreendedorismo indígena é crucial para não apenas a geração de renda, mas também para o fortalecimento das comunidades. O edital proporciona um aperfeiçoamento de produtos e tecnologias desenvolvidos por empreendedores indígenas, ajudando a estruturá-los para o mercado”, explica Simonetti. Para isso, R$ 2 milhões serão investidos nos negócios escolhidos, promovendo o desenvolvimento sustentável e a conservação da floresta.

grafismos de moda indígena
Joeliton Vargas Moraes investe em vestuários de grife indígenas que usam blockchain para garantir a rastreabilidade e a proteção cultural dos grafismos ancestrais. Foto: Idesam

Dentro das iniciativas que participaram do edital, 76,4% contribuíram diretamente para a conservação da floresta. A maior parte desses projetos veio do estado do Amazonas, com 69,1% das propostas, seguida por Rondônia e Acre, que apresentaram 10,9% cada. No que se refere aos modelos de negócios, 63,6% se concentram na venda direta ou recorrente, enquanto 50% estimam que o investimento necessário para o lançamento no mercado variará entre R$ 300 mil e R$ 600 mil. Além disso, mais de 80% das propostas foram elaboradas ou idealizadas para o mercado de pagamento por serviços ambientais. Saiba mais aqui.

ManioColor: Uma Inovação Sustentável

O ManioColor é um corante natural extraído da mandioca. Desenvolvido pelo Sioduhi Studio, localizado no Amazonas, esse projeto transforma cascas de mandioca em corantes têxteis naturais, alinhando práticas sustentáveis ao conhecimento tradicional. Produzido artesanalmente em São Gabriel da Cachoeira (AM), o corante é obtido mediante o uso de fogo de lenha em fornos tradicionais. Essa tecnologia não só reforça a economia circular, mas também fortalece a presença da Amazônia no mercado global de corantes, oferecendo uma alternativa ecológica aos corantes sintéticos, que são prejudiciais ao meio ambiente.

corante natural da mandioca
Sioduhi Paulino de Lima criou o ManioColor: tecnologia que transforma resíduos da mandioca em corantes têxteis naturais, promovendo sustentabilidade e gerando valor para a bioeconomia. Foto: Idesam

Sioduhi Paulino comenta sobre os desafios enfrentados: “Precisamos de suporte para superar desafios como laudos científicos e a semi-industrialização do tingimento têxtil. Quando vi um edital voltado para empreendedores científicos indígenas, percebi que era uma oportunidade alinhada com nossa realidade e decidi participar. Nossa iniciativa se destaca por impulsionar pesquisas indígenas no empreendedorismo, algo que ainda é pouco valorizado, apesar da significativa população indígena na Amazônia. Queremos demonstrar que nossas ciências e inovações podem trazer benefícios a toda a sociedade. Fortalecer os povos originários é também reforçar a cultura, a economia e o tecido social de muitas comunidades.”

IKABEN: Rastreabilidade com Blockchain

O projeto IKABEN utiliza tecnologia blockchain para proteger a propriedade intelectual dos grafismos indígenas, garantindo transparência e um repasse financeiro direto às comunidades. A cada venda realizada, 10% do lucro é destinado às etnias detentoras dos direitos culturais. Além disso, o projeto permite rastrear as peças e validar a autenticidade dos produtos. Em um mercado que, segundo dados do Sebrae, movimentou R$ 265,8 bilhões em 2022, a IKABEN visa capitalizar a crescente demanda por moda personalizada e sustentável.

blockchain na moda indígena
Foto: Divulgação

A tecnologia blockchain também contribui para diminuir a presença de intermediários na cadeia produtiva, assegurando que uma parte significativa do valor gerado seja destinada diretamente às comunidades indígenas, impulsionando assim sua autonomia econômica. Joeliton Vargas Moraes, do IKABEN, ressalta: “A Amazônia não precisa apenas ser explorada, mas deve ser respeitada e reinventada. Quem vive aqui entende suas necessidades e potencialidades.” Ele acrescenta que com a IKABEN estão desenvolvendo uma tecnologia que valoriza a arte indígena como uma prática ancestral, garantindo inovação enquanto respeita as tradições e assegura que essa essência perdure e prospere pelo mundo.

O edital Elos da Amazônia é uma realização do Idesam, do Programa Prioritário de Bioeconomia, da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e do INDT, com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

Critérios de Seleção e Avaliação

Os projetos foram avaliados com base em critérios que consideravam a inovação, o impacto socioambiental e a viabilidade de implementação. A seleção das iniciativas vencedoras foi feita por especialistas do Idesam, do INDT e dos Ministérios da Saúde e dos Povos Indígenas.

equipe do IKABEN
Equipe do Joeliton do IKABEN

André Fernando Baniwa, assessor técnico em Medicinas Indígenas no Ministério da Saúde, um dos examinadores dos projetos, salienta: “Essa iniciativa é muito inteligente, pois valoriza cientistas indígenas e concretiza a valorização dos saberes, da ciência e da intelectualidade indígena. Isso está se solidificando cada vez mais, trazendo à tona questões contemporâneas sobre a importância desses conhecimentos para a reconstrução da vida digna dos povos indígenas.”

Lina Apurinã, coordenadora de Promoção ao Etnodesenvolvimento do Ministério dos Povos Indígenas, conclui: “A inovação tecnológica, que se baseia na sociobiodiversidade, é essencial para enfrentar os desafios da crise climática e diversas realidades da sociedade, permitindo a inclusão de conhecimentos, muitas vezes tradicionais, que já coexistem em harmonia com a natureza, mas que nem sempre são reconhecidos. Além disso, fortalece a bioeconomia brasileira ao valorizar matérias-primas e atores locais, contribuindo para um Brasil mais sustentável.”

Fonte: CicloVivo

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