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Indígenas enfrentam consequências da crise climática na Amazônia

Inundações intensas, secas prolongadas, mudanças no ciclo natural de plantas e redução da disponibilidade de animais para caça são algumas das consequências das alterações climáticas enfrentadas por diversos povos indígenas da Amazônia. Essas transformações drásticas no bioma afetam profundamente as condições sociais e ambientais das populações indígenas, comprometendo suas culturas e modos de vida tradicional.
Durante o Acampamento Terra Livre 2025, realizado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), que segue em Brasília até o dia 11 de abril, lideranças indígenas dos estados do Amazonas, Pará, Acre e Maranhão relataram suas vivências e desafios decorrentes da emergência climática que afeta suas terras. O encontro também destacou profundas ameaças, como atividades de garimpo, ocupação de terras para o agronegócio e a construção de estradas que cortam os territórios indígenas.
Lucila Nawa, da Terra Indígena Nawa (AC), descreveu sua preocupação com as mudanças no clima: “O rio anoitece seco e amanhece cheio. Antes, sabíamos o momento certo de plantar e colher, mas hoje as transformações climáticas nos surpreendem. Ao cultivarmos, a água vem e arrasta nossas plantações, ou as plantas secam no chão. O aumento da temperatura das águas faz com que nossos peixes apareçam mortos. Nossas caças desaparecem por falta de água disponível”, lamentou.

Outro relato impactante foi compartilhado por João Reis Guajajara, da Terra Indígena Caru (MA), que mencionou as dificuldades enfrentadas pelas comunidades indígenas: “Estamos tentando nos adaptar às novas realidades climáticas. Há períodos de chuva que não chovem mais, e áreas que nunca queimaram estão queimando agora. Nos últimos dois anos, observamos que as sementes já não se disseminam nos períodos corretos. Elas parecem estar lidando com essa mudança de temperatura e escassez de água, enquanto nós também tentamos nos adaptar”, afirmou.
A realidade atual exige um monitoramento efetivo dos territórios e do ambiente, permitindo que os indígenas monitorem as ameaças, incluindo incêndios florestais, invasões e outros crimes ambientais que afetam suas terras. Amanda Kumaruara, que participa de uma brigada de vigilância, ressaltou a importância desse monitoramento para a proteção dos territórios indígenas.

“Por conta das mudanças climáticas, nosso território se transformou. Há muitas pessoas que negam a crise, mas estão vivenciando suas consequências. Estabelecer uma brigada em nosso território é fundamental para prevenir e combater incêndios. O monitoramento é essencial para compreendermos o nosso ambiente, e ninguém conhece nosso território melhor do que nós, que vivemos nele. Esse trabalho preserva não só uma vida, mas diversas, assim como biomas, culturas e heranças ancestrais”, destacou Amanda.
A pressão das mudanças climáticas e a expansão de empreendimentos econômicos na Amazônia também colocam em risco os povos indígenas isolados, que, pressionados em seus territórios, são obrigados a contato com a sociedade não indígena.

Angela Kaxuyana, uma das líderes indígenas presentes, ressaltou que “os que mais sofrem são os povos indígenas, as mulheres e os grupos isolados. Notamos um aumento no relato de contatos com tribos autônomas devido à pressão em seus territórios, que os forçam a buscar ajuda. A mudança na maneira de viver de forma autônoma é alarmante; cada vez mais essas áreas estão cercadas por grandes propriedades e empreendimentos”.

A representante da Coiab enfatizou que as perdas para as comunidades indígenas são abrangentes. “Enfrentamos várias formas de perda: não apenas sobre o modo de vida, mas também em relação à segurança e soberania alimentar. Além disso, as práticas culturais e espirituais estão sendo impactadas, gerando mudanças na essência do ser indígena. A perda é muito mais do que material; é uma perturbação do sentido de existir como um povo”, finalizou.
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