Erva-mate do Paraná é reconhecida como Patrimônio Agrícola Mundial pela FAO
A prática tradicional de cultivo de erva-mate sombreada no interior do Paraná foi incluída na lista dos Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial (SIPAM), concedida pela FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Desenvolvida há mais de 500 anos por indígenas, essa técnica une a produção agrícola com a preservação ambiental, mantendo uma relação ancestral entre comunidades rurais e a Floresta com Araucárias.
Expansão do reconhecimento global
O sistema paranaense junta-se a outras designações feitas pela FAO, incluindo sistemas agrícolas na China, no México e na ilha de Lanzarote, Espanha. Agora, a rede mundial de sítios reconhecidos pelo programa SIPAM soma 95 locais em 28 países. Este é o segundo sistema brasileiro a receber tal título, junto com a Agricultura Tradicional da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais.
De acordo com a FAO, os SIPAMs exemplificam como tradição e inovação podem coexistir para garantir segurança alimentar, ecossistemas resilientes, proteção da biodiversidade e identidade cultural. “Esses sistemas demonstram como comunidades podem usar conhecimentos e práticas ancestrais para garantir alimentos, proteção de empregos e meios de vida”, afirmou Kaveh Zahedi, diretor da FAO para Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Meio Ambiente.
Sustentabilidade e conservação ambiental
No Paraná, o sistema agroflorestal da erva-mate é caracterizado pelo manejo em áreas sombreadas por vegetação nativa, especialmente araucárias. Essa prática permite o cultivo da Ilex paraguariensis, usada para chimarrão, tererê e mate, em harmonia com outras espécies florestais, frutíferas e medicinais. Além disso, há criação de animais em pequena escala em comunidades tradicionais do sul do Brasil.
O sistema agroflorestal é notável pela manutenção de espécies nativas de plantas e animais, incluindo abelhas, aves e mamíferos. Além da conservação da biodiversidade, o sistema assegura o sustento de milhares de famílias que colhem, beneficiam e comercializam a erva-mate, muitas vezes em cadeias curtas e comunitárias.
Entretanto, o sistema enfrenta ameaças como o desmatamento, a expansão de monoculturas e a mudança no uso da terra, reduzindo a área da floresta com araucárias a menos de 1% da cobertura original.
Desafios e expectativas para o futuro
Os produtores locais também lidam com desafios estruturais, tais como baixos preços da matéria-prima, acesso restrito a políticas públicas e a assistência técnica, o que dificulta a permanência dos jovens no campo e coloca em risco a continuidade do sistema. “Sem maior reconhecimento e investimento, esse sistema permanece vulnerável, apesar do seu potencial”, alerta a FAO.
Espera-se que o reconhecimento como SIPAM incentive políticas públicas para valorizar sistemas agroflorestais, promovendo a permanência das famílias no campo, a conservação ambiental e o fortalecimento das culturas tradicionais no Brasil.
Fonte da Notícia: [Guia Região dos Lagos](https://ciclovivo.com.br/planeta/desenvolvimento/cultivo-agroflorestal-de-erva-mate-vira-patrimonio-agricola-mundial/)
