Pesquisadores criam armadilha inteligente para controlar o mosquito Aedes aegypti
Uma equipe de pesquisadores do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), localizado em Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais, desenvolveu uma armadilha inovadora que visa a captura e o monitoramento das fêmeas do mosquito Aedes aegypti, conhecido por ser vetor de doenças como dengue, febre amarela, zika e chikungunya.
O modelo do dispositivo, criado por meio de um projeto apoiado pela FAPESP e em colaboração com os ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e das Comunicações (MC), além da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), foi detalhado em um artigo publicado na revista Sensors.
De acordo com Samuel Baraldi Mafra, professor do Inatel e coordenador do projeto, a proposta é que essa armadilha seja utilizada por órgãos de vigilância epidemiológica para aprimorar o monitoramento e controle da disseminação do mosquito Aedes aegypti, especialmente em áreas urbanas de difícil acesso.
Essa armadilha apresenta um design de dodecaedro, com 12 lados e 50 centímetros de altura, e integra dispositivos de Internet das Coisas (IoT), câmeras de alta resolução e algoritmos avançados de aprendizado de máquina e visão computacional.
A atração dos insetos para a armadilha se dá por meio de uma mistura de água, açúcar e feromônio, que é colocada no interior do dispositivo. A armadilha conta com uma câmera interna no tubo de entrada, que possui recursos tanto para visão noturna quanto diurna, capturando imagens dos insetos em tempo real, independentemente das condições de iluminação. As imagens são processadas por um algoritmo de inteligência artificial, que é capaz de detectar e contar os “prisioneiros” instantaneamente, identificando se são mosquitos Aedes aegypti, abelhas ou borboletas, por exemplo.
“O mosquito Aedes aegypti possui características morfológicas, como manchas brancas e pernas longas, que são facilmente reconhecíveis pelo algoritmo de inteligência artificial”, explica Mafra. Quando um Aedes aegypti é detectado, ventoinhas localizadas na parte frontal da armadilha são ativadas automaticamente, criando um fluxo de ar que direciona o mosquito para um recipiente com um líquido viscoso onde ele poderá ficar aprisionado.
Por outro lado, se a armadilha identificar a presença de abelhas, borboletas ou outros insetos alados, as ventoinhas localizadas na parte traseira do dispositivo serão ativadas, criando um fluxo de ar que expulsa esses animais para fora da armadilha. “A seletividade na identificação dos insetos é um dos grandes diferenciais deste dispositivo em relação às armadilhas tradicionais. Isso ajuda a evitar a captura de insetos que não são alvo e que estão em declínio, como as abelhas”, avalia Mafra.
Adicionalmente, a armadilha possui um módulo de sistema de posicionamento global (GPS), que possibilita o monitoramento em tempo real de sua localização. Essa capacidade de realizar a detecção em tempo real ajuda na coleta de dados geoespaciais, permitindo uma análise mais rápida dos padrões de movimentação e da densidade populacional dos mosquitos. Dessa forma, são gerados dados imediatos, que podem ser usados em intervenções de saúde pública, possibilitando uma análise mais detalhada do comportamento do mosquito e um controle mais eficaz das doenças transmitidas por esses insetos.
O sistema de comunicação da armadilha foi concebido para permitir o acompanhamento remoto e em tempo real, o que elimina a necessidade de deslocar uma equipe para verificar a ação da armadilha presencialmente, conforme explica Mafra.
Os pesquisadores já realizaram testes práticos com a armadilha, tanto em laboratório quanto em locais abertos, como praças públicas e áreas adjacentes a córregos em Santa Rita do Sapucaí. Os resultados obtidos mostraram que a armadilha foi capaz de identificar o Aedes aegypti com uma precisão de 97%, alcançando 100% para a detecção de abelhas e 90,1% para a identificação de borboletas, resultados que também foram confirmados pelos testes realizados em campo.
Os próximos passos dos pesquisadores envolvem aperfeiçoar o modelo atual, reduzindo os custos e desenvolvendo um protótipo final da armadilha, que neste momento é mais voltado para estudos. A versão atual foi desenvolvida no Laboratório de Ideação (Fab Lab) do Inatel, e os pesquisadores almejam fabricar o dispositivo com materiais mais resistentes, que suportem melhor as intempéries climáticas, como chuvas intensas e calor excessivo.
O artigo intitulado Implementation of an intelligent trap for effective monitoring and control of the Aedes aegypti mosquito pode ser acessado AQUI.
